‘ Laranjinhas’ levam nota vermelha de usuários do serviço

22/03/2016 07:00 - O Globo

O corretor de imóveis Rafael Gomes acordou na manhã de ontem, em sua casa na Urca, sabendo que teria de ir a Copacabana buscar alguns documentos. Em vez de tomar um ônibus, decidiu se cadastrar no Bike Rio e experimentar o serviço. Pagou pelo passe com cartão de crédito e pegou uma das bicicletas públicas, conhecidas como “laranjinhas”. Ao tentar voltar pra casa, no início da tarde, veio a decepção. A estação mais próxima de onde estava, a de número 20, em frente ao Copacabana Palace, tinha cinco bicicletas disponíveis. Destas, três tinham os pneus furados e uma estava sendo retirada por outra usuária. Quando Rafael tentou usar a única que sobrou, ocorreu um erro no sistema que controla o aluguel pelo smartphone. A luz verde que indica a liberação da bike acendia, mas a tranca não era liberada. Decepcionado, ele foi embora.

O problema enfrentado por Rafael é o mesmo que muitos usuários do Bike Rio têm encontrado. Em cinco anos de funcionamento, o serviço passou de 27.228 usuários cadastrados em 2011 para 810.370 atualmente. As estações, que eram 60 no primeiro ano, hoje são 257. Mas, assim como o número de adeptos e bikes, os problemas também aumentaram. O GLOBO percorreu ontem dez dos 257 terminais do projeto no Centro e nas zonas Sul e Norte, constatando que as dificuldades são muitas. Pneus furados, guidão e assentos quebrados, entre outros problemas, e erros do sistema são alguns dos desafios para sair pedalando uma “laranjinha”.

As duas estações visitadas em Copacabana foram as que apresentaram as piores condições. Na 04 ( Posto 6), a equipe de reportagem encontrou quatro bicicletas — uma com o freio traseiro quebrado, outra com um dos pneus furado, uma com o guidão partido ao meio e a quarta com o freio dianteiro desconectado do cabo que o liga à manete.

CASAL DE SANTA CATARINA FICA FRUSTRADO

De acordo com dados fornecidos pela Secretaria especial de Concessões e Parcerias Público- Privadas, as cinco estações onde houve mais retiradas de bicicletas entre dezembro e fevereiro ficam em Copacabana. O terminal do Posto 6 ocupa a primeira posição nesse ranking, segundo a pasta, que administra o contrato firmado em 2013 com a empresa Serttel, com valor de outorga de R$ 25 milhões. Na estação 8, em frente ao Posto 10, em Ipanema, das sete bicicletas disponíveis, uma estava com a coroa empenada. Já no terminal 31, em frente ao Clube dos Caiçaras, na Lagoa, das seis bikes, uma tinha o pneu furado.

Num dos pontos mais estratégicos do Centro para quem usa o serviço, a estação da Praça Quinze, que conecta o transporte com as barcas, o Bike Rio desapontou o casal de turistas de Joinville ( SC) Alexander Venturi e Elisângela Petri. Das 12 vagas, quatro tinham bicicletas, mas três estavam com os pneus traseiros furados.

— Temos usado o serviço em nossa estada no Rio, mas encontramos muitas com pneu vazio e guidão quebrado. Hoje, viemos da Candelária até aqui pedalando, pegamos a barca e fomos conhecer Niterói. Agora vamos ter que caminhar e procurar outra estação para conseguir uma bike em condições de uso — disse Venturi.

Também no Centro, O GLOBO encontrou problemas na estação 163, na Praça Mauá, espaço reformado recentemente pela prefeitura. Das 12 vagas, apenas uma tinha uma bicicleta. Ela ainda estava com o parafuso que regula a altura do assento. Quando o usuário se sentava, no entanto, o selim não resistia ao peso e descia até o ponto mais baixo. Próximo dali, na estação 132, ao lado do Museu de Arte do Rio ( Mar), havia quatro bikes, mas uma estava com o pneu furado. No terminal 154 ( Central do Brasil), havia cinco, uma delas com o pneu furado.

Na Zona Norte, o terminal 195, em frente ao estádio do Maracanã, foi o ponto positivo para o Bike Rio. Das dez bicicletas disponíveis no local, nove estavam em boas condições e uma tinha o banco quebrado. Já na Praça Saens Peña, na Tijuca, a situação era bem diferente. Das sete bikes da estação, apenas três estavam disponíveis no sistema. O estudante Júlio Rebouças tentou usar uma delas e constatou que duas das três não foram destravadas pelo smartphone, por erro de comunicação:

— Uso sempre esta estação, e o estado de conservação das bikes aqui é até razoável, mas muitas vezes enfrento esses problemas com o sistema. O atendimento no SAC também é horrível.

A Secretaria de Concessões informou que iniciou uma investigação para apurar responsabilidades em relação a problemas no Bike Rio e cobrar esclarecimentos da Serttel. Já a concessionária disse que 60 funcionários — como mecânicos e vistoriadores — trabalham na manutenção das bicicletas. A atividade mobiliza dez veículos de logística e seis motos. São vistoriadas cem estações por dia.