14/08/2015 07:15 - O Globo
RIO - Ainda garoto, em 1961, o hoje empresário José Luís da
Silva Moreira deixou Portugal com a família. A bordo do navio Correntes, vieram
para o Brasil em busca de uma vida melhor. Hoje, aos 66 anos, José não pode
reclamar da sorte: ele integra um dos três grupos que dominam a frota de táxis
de empresas no Rio, controlando 934 veículos, ou 55,8%, de um total de 1.671.
O Rio tem 15 empresas registradas na prefeitura. Na verdade,
elas não são donas das autonomias (as licenças para ter um táxi): atuam no
mercado como companhias de "locação de automóveis sem condutor”. Com isso,
alugam veículos a taxistas, que trabalham como auxiliares.
Em 1977, no governo Marcos Tamoyo, um decreto chegou a
limitar a frota a cem táxis por empresa, mas ele foi posteriormente revisto.
Hoje, o número de companhias e a frota não podem mais ser ampliados, como
determina a lei municipal 5.492/2012. A mesma norma fixa o limite de um táxi
para 700 habitantes, proibindo a distribuição de novas licenças até esse número
ser atingido — atualmente, a proporção está em um para cerca de 200. Em 2013,
um decreto do prefeito Eduardo Paes autorizou apenas a renovação dos carros.
O Rio tem 30.661 motoristas autônomos. Desse total, 25.538
trabalham como taxistas auxiliares, sendo que 2.004 atuam nas 15 empresas. Mas
a fiscalização da prefeitura é falha porque se limita às ruas. Não há controle
nas garagens, por exemplo, para saber se as companhias respeitam o limite
autorizado.
NEGÓCIOS FAMILIARES
No negócio de táxis, muitas empresas são familiares. As
informações sobre a participação societária levantadas pelo GLOBO se baseiam em
dados do site especializado Infoplex. Fundado por Pascoal da Silva Rego na década
de 70, o Grupo Império Táxis é o que mais tem veículos: 365. O empresário,
conhecido como o Rei do Táxi, e seus oito filhos controlam as empresas Turi Tax
(que tem 90 carros), Radar (95), Império (90) e Nossa Senhora dos Milagres
(90). A sede do grupo é no Rocha.
Em segundo lugar, está a família do empresário Valentim
Francisco Varanda, com 285 táxis. Ela comanda a Jofeva Ltda (que tem 112
veículos) e a Aradense (87), além de ter participação na Táxi Neide (86).
Outro que também tem o veículo no apelido é José Luís da
Silva Moreira. O empresário, que acumula sua atividade profissional com a de
vice-presidente de futebol do Vasco, é conhecido pelos torcedores como Zé do
Táxi. Odeia ser chamado assim, embora a alcunha tenha seus motivos: junto com o
sócio Eduardo Atab, ex-funcionário do Detran, ele controla três empresas em São
Cristóvão com 284 automóveis, o que o coloca em terceiro lugar no setor. José é
dono da Novo Rio (95 carros), da Táxi Verde (95) e da Corcovado (94).
— Tive um tio que dirigiu táxi quando chegou ao Brasil —
conta ele. — Eu mesmo nunca trabalhei na praça. O que faço é administrar as
empresas há mais de 30 anos. E esse é um trabalho duro. Às vezes, chego às 6h
para trabalhar. Já o Vasco é uma diversão. Claro que uma diversão cara: no
clube, trabalho por amor.
Com base em estimativas do Sindicato dos Motoristas de
Empresas e Auxiliares de Táxi do Estado, é possível estimar que essas
companhias cheguem a movimentar pelo menos R$ 7,3 milhões por mês. O cálculo
toma como base uma diária de R$ 200 cobrada dos taxistas por 22 dias ao mês —
nos fins de semana, a maioria das empresas não exige esse mínimo. Muitas vezes,
para conseguir o dinheiro da diária, os profissionais chegam a trabalhar mais
de 12 horas por dia. Na década passada, uma lei municipal chegou a exigir que
as empresas assinassem a carteira dos motoristas, mas a exigência foi
considerada inconstitucional.
— Autônomos não têm vínculos empregatícios. O que temos
discutido hoje com as empresas e o Ministério do Trabalho é que os motoristas
tenham algum amparo legal, para firmar contratos com duração determinada. Isso
evitaria que, de um dia para outro, empresas impedissem motoristas de ganhar
dinheiro retendo os carros — diz o presidente do Sindicato dos Motoristas de
Empresas de Táxis, Antônio Oliviero.
EMPRESÁRIO TAMBÉM FORNECE TAXÍMETRO
Em alguns casos, os empresários também se dedicam a
atividades correlatas. Eduardo Atab, que segundo José Moreira foi quem o
incentivou a atuar no ramo dos táxis, é um dos sócios da Revendedora Capelinha
LTDA. Com sede em Piedade, a empresa é uma das principais fornecedoras de
taxímetros do mercado carioca.
— A gente observa e fiscaliza o serviço de táxis como um
todo, sem fazer distinção entre o prestado por autônomos ou por empresas. A
preocupação é com a qualidade do sistema — disse o secretário municipal de
Transportes, Rafael Picciani.
O GLOBO procurou representantes de todas as empresas
citadas, mas apena José Luiz respondeu aos pedidos de entrevista.
Números
15 empresas - Total que atua no mercado de táxis na cidade do
Rio.
1.671 veículos - Frota de táxis administrada por empresas .
55,8% da frota - Percentual de táxis de empresas controlados
por apenas três grupos.
32.332 táxis - Total de veículos que circulam pela cidade.
Um oligopólio que
está em guerra com o Uber em Nova York
Em dois anos de concorrência, valor de autonomias despencou de US$ 1,2
milhão para US$ 800 mil
A polêmica que transforma a tradicional indústria de táxis
amarelos de Nova York de oligopólio inacessível a vítima do progresso esquenta
o fim de verão na cidade. O preço dos chamados medallions — licenças em número
limitado concedidas pela prefeitura para se operar um táxi — vem despencando
frente à competição com o Uber, que em quatro anos de funcionamento já tem 26
mil motoristas circulando numa cidade com 13 mil taxistas autorizados.
Se em 2013 um medallion custava US$ 1,2 milhão, hoje vale
menos de US$ 800 mil. Já o faturamento diário dos amarelinhos caiu 10% de lá
para cá. A crise atingiu até o Rei dos Táxis de Nova York: dono de 900
licenças, o empresário Gene Friedman decretou em julho falência de parte de seu
império, ao ter uma dívida de financiamento executada pelo Citibank diante da
deterioração do mercado.
Nova York tem ainda cerca de seis mil taxistas
independentes, que investiram em um único medallion, estimulados pelo poder público,
e agora ameaçam entrar na Justiça. Na última quarta- feira, organizados pela
recém- criada Associação dos Donos de Táxi, centenas deles se reuniram para
protestar na escadaria da prefeitura.
O grupo argumenta que já não consegue alugar seus táxis para
outros motoristas, que têm se bandeado para o Uber. E reivindica igualdade:
enquanto eles precisam manter tarifas predeterminadas, por exemplo, o
aplicativo aumenta o preço de acordo com a demanda.
Há duas semanas, o aplicativo Uber conseguiu adiar na Câmara de Nova York a votação de um limite para o número de carros que circulam prestando o serviço na cidade. A prefeitura ficou de estudar o negócio, avaliar o impacto no trânsito e discutir as condições dos tradicionais táxis amarelos.