Após ciclovia, Paulista ganhará 1º radar

28/09/2014 08:30 - O Estado de SP

Sem nunca ter registrado nenhum motorista multado por trafegar acima do limite de velocidade hoje em 50 km/h -, a Avenida Paulista aguarda pela construção no canteiro central de uma ciclovia estimada em R$ 15 milhões para, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), ter uma rede de fibra ótica.Segundo o órgão, a tecnologia é necessária para a instalação de radares no cartão-postal da cidade.

Na história recente da via, duas ciclistas morreram atropeladas no local e um jovem teve o braço decepado por um motorista que trafegava em alta velocidade. "As infrações por excesso de velocidade são registradas somente por equipamentos eletrônicos", explicou a CET.

Segundo a empresa municipal, "na Avenida Paulista, nunca foi usado ou implementado qualquer tipo de equipamento eletrônico de fiscalização". Hoje, apenas marronzinhos aplicam multas não de velocidade. Em 2012, foram 20.104 autuações e, em 2013, outras 18.716 multas. Neste ano, foram registradas 9.448 infrações.

A Prefeitura quer instalar radares entre os números 700 e 1.400 da via. O trecho, de acordo com a CET, concentra cerca de 45% dos acidentes de trânsito na região. Também está prevista a fiscalização das faixas exclusivas de ônibus.

Os equipamentos fazem parte da licitação que prevê 843 novos radares em São Paulo. Deste total, 85 foram colocados em operação. Outros 431 são do formato antigo. A ampliação, afirma a companhia, "está ocorrendo de forma gradual".

Quem usa diariamente a via acha que existe fiscalização. A administradora de empresas Marcela Bosso, de 32 anos, por exemplo, dirige há 14 anos pelo local. "O limite de velocidade é baixo. Para não correr o risco de ser multada eu aciono o limitador de velocidade.” O dispositivo apita quando ela ultrapassa os 50 km/h. "Uso a avenida durante a manhã no sentido contrário do fluxo. Se eu me distrair, ultrapasso a velocidade.”

A CET testou radares-pistola na avenida, mas eles foram ineficientes por causa de interferências das antenas da região.

Alternativas.Para Daniel Guth, diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), há medidas alternativas para reduzir a velocidade naturalmente, sem a necessidade de radares. "Não ter sistema de multas é ruim, mas reduzir a velocidade já deixa o local mais seguro. As faixas de pedestre também podem ser elevadas, obrigando o motorista a reduzir a velocidade”, afirmou. Segundo o engenheiro e mestre em Transporte pela Universidade de São Paulo (USP) Sérgio Ejzenberg, não são necessários radares. "Os agentes de trânsito podem multar por velocidade incompatível com a via usando a percepção”, disse.

A CET, porém, disse que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) descreve de forma "taxativa” que a medição de velocidade "deve ser realizada por meio eletrônico.”

Diminuição. A CET informou que a diminuição no número de multas entre 2012 e 2013 está "diretamente ligada aos programas de conscientização, fiscalização e educação no trânsito”. Para Ejzenberg, o fato de não haver o monitoramento eletrônico não deve ser visto com preocupação. "O motorista pode ser flagrado antes de entrar na avenida ou quando sair dela”, afirmou o especialista.

Túnel ‘engoliu’ 1ª via para bike de São Paulo

Em algum momento, entre fevereiro de 1988 e meados de 1989, a primeira ciclovia da cidade desapareceu silenciosamente durante as obras do túnel que passa sob o Rio Pinheiros na atual Avenida Juscelino Kubitschek. Em 1975, por determinação do prefeito Olavo Setúbal, a ciclovia foi projetada para fazer parte da nova Avenida dos Sapateiros, que nem chegou a existir, pois foi chamada de Juscelino Kubitschek para homenagear o ex-presidente morto em 1976, também ano de inauguração da via. Em 1988, na gestão do prefeito Jânio Quadros, a avenida foi fechada para início das obras do túnel.

A pista localizada no Itaim-Bibi, zona sul, ocupava pequeno trecho da avenida entre a Rua Atílio Innocenti e a Marginal do Pinheiros, tinha três metros de largura e 1,8 km de extensão. A ciclovia era para lazer, mas serviria como experiência para pistas exclusivas para ciclistas em outros pontos da cidade, informou o Estado na reportagem de 28 de outubro de 1975.

Pouco antes do anúncio do projeto da ciclovia na Avenida Juscelino Kubitschek, o prefeito já havia encomendado estudos para outra no canteiro central da Marginal do Tietê, entre as Pontes das Bandeiras e da Penha. No mesmo ano, foi liberado o uso de parte do câmpus da Universidade de São Paulo (USP) para o ciclismo e a construção da pista com 5 quilômetros do Ibirapuera inaugurada em novembro de 1975.

Associação defende educação de trânsito e fiscalização à noite

Para o presidente da Associação Paulista Viva, Antonio Carlos Franchini Ribeiro, as ações de conscientização voltadas para motoristas, motociclistas e pedestres, mesmo sem substituir a punição dos radares, podem deixar a avenida mais segura. "Primeiro precisa de educação de trânsito para os motoristas res- peitarem o limite de velocidade. O horário da noite é o que tem mais desrespeito. Acho necessário ter a fiscalização eletrônica na madrugada.”

Ribeiro defende projetos de mobilidade urbana como a ciclovia projetada para a via. "Espera- mos conhecer melhor o projeto, os impactos no trânsito e como vai influenciar no fluxo.”