Após congelar tarifa, Alckmin e Doria reajustam integração além da inflação

31/12/2016 07:00 - Folha de SP / O Estado de SP

Após definirem em conjunto o congelamento da tarifa básica de ônibus, metrô e trens da CPTM em R$ 3,80 em 2017, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciaram nesta sexta-feira (30) reajustes acima da inflação na integração e nos bilhetes temporais. As novas tarifas passam a valer a partir de 8 de janeiro (domingo).

Na prática, os reajustes atingirão ao menos um em cada quatro passageiros do sistema municipal de ônibus (que tem 9,6 milhões por dia) e um terço dos usuários do sistema metroferroviário (7,5 milhões, com metrô e trem).

O congelamento da passagem de ônibus para o ano que vem foi promessa assumida por Doria logo após a eleição, medida que, após um momentâneo mal estar com o governo do Estado, foi seguida por Alckmin –em decisão antecipada pela Folha nesta quinta-feira (29). Nesta sexta (30), o governador citou a crise econômica para justificar a manutenção das tarifas em R$ 3,80.

O congelamento por mais um ano terá forte impacto nas contas da prefeitura e do Estado. Somando os gastos de ambos, os subsídios (diferença entre o arrecadado com as passagens e o que deve ser pago às empresas) para o ano que vem podem chegar à casa dos R$ 5 bilhões –valor suficiente para construir uma nova linha de metrô equivalente à 4-amarela, que hoje liga a Luz ao Butantã em 9,5 km de trilhos.

Os reajustes atingirão ao menos um em cada quatro usuários do sistema municipal de ônibus e um terço dos usuários do sistema metroferroviário.

Análise: Reajuste deve levar mais passageiros para os ônibus

Horácio Augusto Figueira

Os reajustes na tarifa integrada e nos bilhetes temporais são uma solução para reduzir os subsídios gastos principalmente com os ônibus e cumprir a promessa de congelar o valor básico das passagens em R$ 3,80. Mas cerca de metade dos usuários da rede faz integração e, na prática, essas pessoas terão reajuste, sim.

Isso pode levar a pequenas mudanças de hábitos dos usuários que querem economizar algum dinheiro e estimular uma migração de passageiros do metrô para os ônibus, provocando queda na demanda por transporte sobre trilhos. Muitas pessoas que pegam ônibus para sair do bairro poderão preferir tomar uma segunda condução no meio do caminho para chegar ao seu destino a descer em uma estação e ir de metrô. Pelo que me lembro, essa é a primeira vez que sobem só a integração.

O reajuste nos bilhetes temporais faz certo sentido, pois isso não acontecia havia três anos, mas deve desestimular o seu uso, que é pequeno. Essas mudanças não cobrem o custo do sistema. A preocupação é: quem paga essa conta? Para ter subsídio, o dinheiro sai de outro lugar, como da Saúde e da Educação. Ainda é preciso discutir o financiamento do sistema com transparência.

Horárcio Augusto Figueira é mestre em Engenharia de Transporte e consultor de mobilidade urbana.

O Estado de SP

A integração entre os ônibus e trilhos (metrô e CPTM) será reajustada de R$ 5,92 para R$ 6,80, um aumento de 14,8% –acima dos 6,4% da inflação (IPCA) projetada para o ano.

O Bilhete Único Mensal, criado pelo atual prefeito Fernando Haddad (PT) em novembro de 2013 e sem reajuste desde então, aumentará de R$ 140 para R$ 190, variação de 35,7% –a inflação desde a implementação é de 26,6%. Essa modalidade vale apenas para uso exclusivo de ônibus ou trilhos. Só no sistema de ônibus, há 455.303 usuários por dia que serão afetados com esse reajuste.

O tíquete mensal que integra ônibus e trilhos (metrô e trens da CPTM) passará de R$ 230 para R$ 300, aumento de 30,4% –a inflação é de 26,6%. Essa modalidade é sugerida para quem faz ao menos 45 viagens ao mês.

O Bilhete 24 horas exclusivo para ônibus ou trilhos, que hoje custa R$ 10, passará a R$ 15, variação de 50%. Já a versão que integra os dois modais sairá de R$ 16 para R$ 20.

O prefeito eleito e o governador decidiram extinguir a modalidade semanal do bilhete, uma das bandeiras de Haddad. Segundo anúncio, menos de 0,05% dos usuários aderiram a este sistema.

O Bilhete Fidelidade terá desconto de até 10,5%, de acordo com o número de viagens. Atualmente, no caso de 50 viagens, o desconto é de 15%. Os bilhetes Madrugador e Da Hora passarão de R$ 2,92 para R$ 3,40, aumento de 16,4%.

"[O congelamento em R$ 3,80 da tarifa base] evita dar o reajuste num momento de dificuldade, de desemprego alto, de queda de salário. Ao mesmo tempo mantém a saúde financeira das empresas [Metrô e CPTM]", disse Alckmin, em evento na estação da Luz.

Segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissione, a maioria dos usuários do sistema estadual não será afetada. "Entre dois terços e três quartos não precisarão tirar mais dinheiro do bolso para pagar a passagem", disse Pelissione, numa referência ao congelamento da tarifa básica em R$ 3,80.

Em dias úteis, trens e metrô transportam 7,5 milhões de passageiros. Já o sistema municipal de ônibus atinge 9,6 milhões.

O secretário justificou os aumentos devido à falta de reajuste nos últimos anos. "[Bilhete temporal] está há três anos congelado. O bilhete madrugador faz dois anos que não sofre reajuste."

O congelamento da tarifa do ônibus inicialmente causou desconforto tanto a Alckmin quanto à direção do Metrô, empresa ligada ao governo.

O governador havia se mostrado incomodado em ter de arcar sozinho com o ônus político de um reajuste, e a companhia metroviária temia as consequências da medida.

Em entrevista à Folha, o diretor financeiro da empresa, José Carlos Nascimento, afirmou que o congelamento da tarifa dos ônibus proposto pelo futuro prefeito poderia levar a uma fuga de passageiros do metrô, caso só a tarifa do sistema de trilhos fosse reajustada.

Nascimento disse ainda que o Metrô, que passa por forte crise financeira, necessitava de um reajuste.

Mais de um mês após a eleição municipal, no entanto, a Folha revelou no fim de novembro que também o governo do Estado passou a estudar a hipótese de congelamento das tarifas do metrô e dos trens da CPTM.

IMPACTOS

A manutenção das tarifas em R$ 3,80 por mais um ano terá forte impacto nas contas da prefeitura e do Estado.

Para a futura gestão Doria, o congelamento pode elevar em pelo menos R$ 1 bilhão os gastos com subsídios às empresas de ônibus, segundo cálculos da Secretaria de Finanças da gestão Fernando Haddad (PT).

Na prática, isso significaria elevar em mais de 50% os gastos municipais com o sistema, hoje já em patamar acima de R$ 2 bi ao ano. O subsídio é o dinheiro repassado pela prefeitura às viações de ônibus para cobrir a diferença entre o que os passageiros pagam e os custos reais dos serviços prestados.

A prefeitura arrecada hoje perto de R$ 5,3 bilhões por ano com a tarifa, mas a quantia repassada às empresas pelo serviço prestado ultrapassa R$ 7 bilhões.

O valor adicional seria suficiente para construir 30 km de corredores exclusivos para coletivos.

Já os repasses do governo ao Metrô como reembolso pelas passagens gratuitas devem continuar a crescer: neste ano, vão ultrapassar os R$ 600 milhões, salto de mais de 120% na comparação com os R$ 264 milhões desembolsados no ano passado.

Até meados de novembro, dados de execução orçamentária mostram que Alckmin já transferiu R$ 529 milhões à empresa em razão das gratuidades –a única verba que a companhia recebe do governo estadual, já que, de resto, o Metrô é sustentável com suas próprias receitas.

Desse total, R$ 219 milhões se referem ao passe livre para estudantes de baixa renda e ao benefício da meia tarifa para todos os estudantes. Os demais R$ 310 milhões se referem a gratuidades para idosos, desempregados e pessoas com deficiência.

É um cenário bem diferente do que ocorreu em 2015, quando o governador tucano previu gastar R$ 330 milhões com todos os benefícios tarifários, mas deu calote de R$ 66 milhões (20% do total) e pagou só R$ 264 milhões.

Em relação à CPTM, o Estado repassou quase R$ 1 bilhão à companhia em 2015, valor que deve ser ainda maior neste ano.

Diferentemente do que acontece com o Metrô, no caso da CPTM não se trata apenas de arcar com os gastos dos passageiros transportados gratuitamente.

A companhia é dependente desse repasse de verba do Estado para manter suas atividades e requer maior aporte porque os deslocamentos em sua malha têm distâncias muito maiores que as percorridas pelo metrô, o que significa que o preço pago pelos passageiros não cobre todos os custos da operação.

AUMENTOS ANTERIORES

Nos últimos cinco anos, a tarifa de metrô, trens e ônibus municipais foi mantida no mesmo patamar, e as decisões sobre reajustes ou congelamento foram tomadas em conjunto por governo do Estado e prefeitura.

Em 30 de dezembro de 2015, Haddad e Alckmin decidiram reajustar as tarifas de ônibus, trens e metrô em São Paulo no começo de 2016.

O bilhete subiu de R$ 3,50 para R$ 3,80 –aumento de 8,6%, pouco abaixo da inflação acumulada no período, perto dos 11%.

Na ocasião, Haddad manteve os bilhetes únicos mensal e semanal congelados em R$ 140 e R$ 38, respectivamente, assim como ocorrera em janeiro de 2015.

Já o preço da tarifa de integração dos ônibus municipais com o sistema estadual de metrô e trens subiu de R$ 5,45 para R$ 5,92.

Haddad e Alckmin já haviam reajustado as passagens no início de 2015, quando subiram de R$ 3 para R$ 3,50.

Esse havia sido o primeiro reajuste após um hiato de aumentos desde os protestos de junho de 2013, quando as intensas manifestações fizeram com que a tarifa que havia subido para R$ 3,20 voltasse aos R$ 3 anteriores.

Além de São Paulo, dezenas de cidades do país tiveram que recuar dos aumentos diante do crescimento de protestos pelo país.

O QUE SÃO SUBSÍDIOS

Passagens 

Os passageiros pagam atualmente R$ 3,80 de tarifa por viagem para ajudar a cobrir os gastos do transporte municipal, tanto nos ônibus quanto no Metrô e na CPTM

Benefícios

São oferecidos benefícios a alguns grupos, como idosos de 60 anos ou mais, estudantes de baixa renda, pessoas com deficiência (passe livre) e estudantes (meia tarifa)

Repasses

Para compensar o valor das tarifas que não foram pagas e, no caso dos ônibus e da CPTM, cobrir outros gastos não previstos, o poder público precisa pagar um valor às empresas

Aumento

Quanto mais benefícios a prefeitura e o governo de SP oferecem aos passageiros, portanto, mais repasses têm que fazer, às vezes tirando dinheiro de outras áreas*Dados de 2016 são estimativas. Fontes: SPTrans, Metrô e CPTM 


O ESTADO DE SP

Alckmin e Doria aumentam em 14,8% bilhete de integração de ônibus e metrô

Após congelamento da tarifa unitária em R$ 3,80, tucanos anunciam reajuste do bilhete único mensal em 35,7% e do mensal integrado em 30%; cerca de 4,7 milhões de passageiros que usam transporte público devem ser atingidos pelos aumentos

SÃO PAULO - Após congelarem em R$ 3,80 a tarifa básica de ônibus, trem e metrô na Grande São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito eleito da capital, João Doria (PSDB), decidiram aumentar em 14,8% o preço do bilhete integrado de ônibus com trilhos (metrô ou trem), que subirá de R$ 5,92 para R$ 6,80. O reajuste passa a valer a partir do dia 8 de janeiro.

O aumento corresponde a mais do que o dobro do índice oficial de inflação projetado para 2016 pelo Banco Central, de 6,4%. O último reajuste do bilhete integrado ocorreu em janeiro deste ano (8,6%), junto com o aumento da tarifa comum, que era de R$ 3,50. Com a mudança, o desconto para quem usa dois transportes públicos diferentes no intervalo de até duas horas caiu de 22,1% para 10,5%, o mais baixo desde o início da integração, há dez anos.

Ao todo, seis modalidades de pagamento sofrerão algum reajuste a partir do dia 8, afetando cerca de 25% dos usuários de ônibus da capital (cerca de 1,5 milhão de passageiros por dia) e 48% dos passageiros de metrô (cerca de 2,2 milhões de usuários). No caso da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), os reajustes atingem 38% dos passageiros (cerca de 1 milhão de usuários).

O aumento mais significativo ocorrerá no bilhete único mensal, que passará dos atuais R$ 140 para R$ 190, alta de 35,7%, ou R$ 50 mais caro. Com isso, essa opção só passa a ser vantajosa para o passageiro que fizer mais de 50 viagens por mês – antes valia a pena para quem fizesse ao menos 37 viagens.

Já o bilhete mensal integrado (ônibus e trilhos) terá aumento de 30%, passando de R$ 230 para R$ 300, o que o torna vantajoso somente para quem fizer mais de 44 viagens por mês – e não mais 39. Juntos, eles são usados por cerca de 3% dos usuários do Metrô e da CPTM, ou 250 mil passageiros. Já o bilhete 24 horas comum (indicado para mais de 4 viagens por dia) subiu de R$ 10 para R$ 15 e o integrado de R$ 16 para R$ 20.

Em decisão conjunta, Alckmin e Doria resolveram também extinguir o bilhete único semanal, que foi criado pela gestão Fernando Haddad (PT) em 2013 junto com o bilhete mensal, por causa da baixa adesão (menos de 0,05% dos usuários da rede).</IP> Todos esses bilhetes temporais não eram reajustados havia três anos.

Alckmin disse ontem que o objetivo das alterações nas tarifas era beneficiar o maior número de usuários sem comprometer a saúde financeira do Metrô e da CPTM, que têm sofrido com queda de passageiros e de receita. Segundo o governo paulista, os aumentos da integração e dos bilhetes temporais cobrem o prejuízo financeiro provocado pelo congelamento da tarifa básica. No caso dos ônibus, a equipe de Doria afirma que mesmo com as alterações tarifárias ainda será preciso buscar mais recursos para subsidiar o preço da passagem congelado. Estima-se que sejam necessários R$ 3 bilhões para cobrir o déficit em 2017. O orçamento é de R$ 1,7 bilhão.

O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, disse que parte dos aumentos afeta usuários de vale-transporte, cujo custo recairá sobre o empregador. “Com isso, entre 2/3 e 3/4 não precisarão tirar nenhum dinheiro a mais do bolso para pagar as passagens”, disse.

O secretário descartou alterar as gratuidades concedidas a idosos e estudantes “neste momento”, mas sugeriu que o benefício pode ser cortado dos passageiros com idade entre 60 e 64 anos que ainda trabalham. “Com a melhoria da qualidade de vida, tem muito jovem de 60 anos que trabalha. Esse nós consideramos que talvez não merecesse a gratuidade.”

Novos preços

Tarifa básica - R$ 3,80 (sem mudança)

Bilhete Integrado Ônibus Municipal - Metrô/Trem - R$ 5,92 a R$ 6,80

Bilhete 24 horas Comum - R$| 10 para R$ 15

Bilhete 24 horas Integrado - R$ 16 para R$ 20

Bilhete Único Mensal Comum - R$ 140 para R$ 190

Bilhete Único Mensal Integrado - R$ 230 para R$ 300

Bilhete Semanal - Extinto


Diário SP

Bilhete especial pagará conta da tarifa congelada

Governo vai reajustar integração com ônibus e passagens do Madrugador

A conta do congelamento das tarifas bases do Metrô e da CPTM, que não vão passar de R$ 3,80 em 2017, vai pesar no bolso de até um terço dos usuários da rede de transportes sobre trilhos.

Isso porque, para compensar a manutenção do valor das passagens, a partir de 8 de janeiro usuários que fazem integração com  ônibus ou que utilizam bilhetes especiais, como Diário, Mensal e Madrugador, terão aumento de até 50% em alguns casos.

No caso do bilhete integrado com ônibus municipal e trilhos, a alta será de quase 15%, sendo que a passagem passará de R$ R$ 5,92 para R$ 6,80.

O maior reajuste será o do bilhete 24 horas (indicado para mais de 4 viagens em um dia e, especialmente, para turistas), que custava R$ 10 o comum e ficará em R$ 15 (reajuste de 50%). O integrado nessa modalidade passará de R$ 16 para R$ 20 (25% de aumento).

No caso do bilhete Mensal (trilhos ou ônibus), o valor foi reajustado em mais 35%, passando de R$ 140 para R$ 190 o comum (sugerido para mais de 50 viagens). Já o integrado (sugerido para mais de 44 viagens) passa de R$ 230 para R$ R$ 300 (30% de reajuste).

O desconto do Cartão Fidelidade, por sua vez, será de até 10,5%, de acordo com o número de viagens. Assim, os bilhetes Madrugador (Metrô, das 4h40 às 6h15; e CPTM, das 4h40 às 5h35); e Da Hora (das 9h às 10h, nas linhas 8, 9 e 5), passam de R$ 2,92 para R$ 3,40 (alta de 16%).

Além desses novos valores, a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos anunciou que o bilhete Semanal será extinto em todas as suas modalidades. A justificativa é que há baixa adesão a essa modalidade (menos de 0,05%).

Na sexta-feira (30), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) confirmou o congelamento da tarifa em evento na Estação da Luz, e disse que a crise financeira justifica a decisão. “Como é que a gente beneficia mais pessoas, evita de dar um reajuste em um momento de dificuldade, desemprego alto e queda de salário, e ao mesmo tempo mantém a rigidez e a saúde financeira das empresas”, disse.

O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, descartou alterar as gratuidades para idosos com mais de 60 anos e estudantes de baixa renda, pelo menos em 2017.