27/06/2014 08:12 - Valor Econômico
Quando a presidente Dilma Rousseff e o governador do Rio,
Luiz Fernando Pezão (PMDB), inaugurarem, segunda-feira, o Arco Metropolitano do
Rio de Janeiro, começa uma transformação na logística no Estado. O projeto, de
mais de 40 anos e investimento de cerca de R$ 1,9 bilhão, exigiu mais de 3.000
desapropriações e esbarrou até com uma espécie de perereca (physalaemussoaresi) em extinção. Já nos
dois primeiros anos de operação, porém, deve se pagar.
Os dados são otimistas em relação aos efeitos da nova via na
economia do Estado. Estudo realizado pela Federação das Indústrias do Rio de
Janeiro (Firjan) estima incremento de R$ 1,8 bilhão no Produto Interno Bruto
(PIB). A entidade avalia que os reflexos positivos também devem ser sentidos em
outros sete Estados, entre eles Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que sequer
fazem fronteira com o Rio de Janeiro.
A expectativa é que o porto de Itaguaí - localizado em uma das pontas do Arco e que opera com capacidade ociosa - se beneficie diretamente da nova estrutura. No momento, 33 empresas estão se instalando em áreas atendidas pela obra, o que representa, segundo estimativa do governo fluminense, investimentos de cerca de R$ 3,4 bilhões.
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"Esse cálculo de R$ 1,8 bilhão para o PIB do Rio
considera apenas o ganho de produtividade no transporte, que pode ficar até 20%
mais barato. O impacto com novos investimentos e geração de emprego é muito
maior, porque o Arco passa por áreas favoráveis à implantação de novas indústrias",
diz o especialista em competitividade industrial da Firjan, Riley Rodrigues. A
entidade projeta incremento anual de R$ 14 milhões na arrecadação de ICMS com a
movimentação de cargas do porto de Itaguai.
"Itaguaí tem potencial para ser um dos maiores portos
do país. Não é apenas um terminal de minério para escoar a produção de Minas
Gerais, como acontece atualmente", diz o consultor e economista da
Universidade do Federal do Rio de Janeiro, Mauro Osório. Ele defende políticas
que restrinjam o tráfego de veículos leves. "A ênfase deve ser na
logística de carga, com poucos acessos para não desvirtuar o projeto."
A exemplo do Rodoanel de São Paulo, o Arco fluminense
interliga os principais eixos rodoviários que convergem para a região
metropolitana da capital, como as rodovias Presidente Dutra (BR 116),
Rio-Santos (BR 101) e Rio-Belo Horizonte (BR 040).
A motivação inicial era tirar das vias da capital o fluxo de
caminhões que trafegam pela avenida Brasil, ponte Rio-Niterói, e até pelo
centro da cidade, para seguir do Sul para o Norte do país. Cerca de 30 mil
veículos - 10 mil carretas e 22 mil veículos leves - devem circular pelo Arco
por dia, mas a estimativa é chegar a 45 mil em 2030.
Osório aposta no crescimento do terminal de contêineres e na
conquista de nova posição do porto de Itaguaí para a navegação de cabotagem na
costa brasileira. A CSN, dona do Sepetiba Tecom , o terminal de contêineres de
Itaguaí, tem usado o Arco Metropolitano para atrair novos negócios. Nos últimos
dois anos, a empresa investiu R$ 200 milhões no terminal, sendo R$ 130 milhões
apenas em um cais novo.
"Existe um interesse crescente da CSN no terminal,
principalmente na parte de contêineres. Grande parte do que a CSN exporta hoje
já segue por contêineres", conta Marcelo Procópio, diretor comercial do
Sepetiba Tecom.
Antes de serem sentidos no trânsito da cidade, os efeitos da
construção do Arco foram percebidos na agenda de investimentos. Levantamento da
Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) mapeou 33
projetos na área de influência da nova rodovia. A expectativa é de geração de
7.400 empregos. Só na área de logística são quase R$ 500 milhões em
investimentos.
Entre os projetos está o terminal logístico ferroviário da
MRS, em Queimados. Há, ainda, um novo centro de distribuição da Casas Bahia, em
Seropédica. Outros R$ 340 milhões estão sendo em investimentos no setor de
cosméticos. o maior deles, cerca de R$ 300 milhões refere-se à nova fábrica da
P&G, em Seropédica. Para a empresa, a logística de exportação e escoamento
da produção é fator decisivo.
"Queimados e Seropédica são os municípios que mais
chamam atenção [devido à proximidade com a nova via].Tudo o que veio para a
região tem relação com o Arco", diz o secretário de Desenvolvimento do
Estado, Júlio Bueno.
O secretário colocou a equipe da Codin sobrevoando o entorno
da rodovia para identificar novas áreas para aproveitamento industrial. A Codin
está mapeando terrenos em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, além de retomar áreas
não utilizadas nos distritos industriais de Santa Cruz, Campo Grande e Bangu.
Um dos projetos que mais empolga o secretário é a
possibilidade de se desenvolver um terminal de logística para a indústria do
petróleo no porto de Itaguaí, conhecido no setor de óleo e gás como terminal de
recebimento de equipamentos. Por sua vez, a Companhia Docas firmou um memorando
de entendimentos com a Codin para a cessão de um terreno no porto. A OAS está
entre as interessadas no projeto. "Estamos cumprindo todas as formalidades
com a Antaq [Agência Nacional de Transportes Aquaviários]", afirma Bueno.
Sócio da empresa de logística Carvalhão, Silvio Cunha,
diretor da Firjan em Duque de Caxias, também tem investimentos planejados em
função do Arco. Ele acredita na diminuição de 30% no fluxo de veículos pesados
no entorno na BR-040 e no término da via Dutra.
Com o Arco, a Carvalhão espera dobrar a produtividade, o que
justifica a intenção de investir em um terminal no porto de Itaguaí, além do
que já possui no porto do Rio. "Itaguaí foi planejado para ser um 'hub'
[ponto de distribuição] de cargas no Brasil. Pode ser que com o Arco, isso se
concretize", diz Cunha.
O empresário lembra, porém, que existem demandas das
empresas da região que precisam ser avaliadas pelo governo do Estado. A
principal delas é a ligação do Arco com o polo gás-químico de Caxias, maior
exportador do Estado. "Deve ter sido um erro de projeto. Já existe um
pleito para que o governo resolva essa situação."
A rodovia que liga os municípios de Itaguaí e Magé foi
construída dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sob a coordenação
do governo estadual. A parte do projeto que liga Magé a Itaboraí, que é da
responsabilidade direta do governo federal, foi licitada no começo deste ano e
a previsão é ficar pronta apenas em 2016. A rodovia já existe, mas precisa ser
duplicada. "O trecho que falta não faz diferença agora, porque o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) ainda não está funcionando", diz
Procópio, diretor do Sepetiba Tecom.