09/10/2013 08:13 - Correio Braziliense
O asfalto é novinho. Mas a falta de sinalização na pista
confunde motoristas e pedestres em diferentes pontos do Plano Piloto e aumenta
o risco de acidentes. Nos últimos meses, tem sido comum o condutor ser
surpreendido com o fechamento total ou parcial de alguma via para o
recapeamento. Com sorte, haverá cones no balão de entrada da quadra para
orientar minimamente o condutor. As alterações repentinas nas vias são
consequência do programa Asfalto Novo. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital
do Brasil (Novacap) afirma que as faixas de pedestres e as indicações de Pare,
assim como a demarcação de retenção dos veículos, devem ser pintadas em até 15
dias após o fim da obra. Mas moradores questionam a ausência de uma indicação provisória
e o desrespeito ao prazo estabelecido.
O servidor público Luiz Eduardo Tostes, 54 anos, bateu o
carro há duas semanas devido a transtornos entre as quadras 315 e 115 da Asa
Norte. "Quem passa sempre no local sabe que existe uma rotatória, mas o rapaz
que bateu em mim é motorista de uma empresa, mora em Sobradinho e trafega pouco
por ali. Ele não parou para me dar preferência, em um lugar que todo mundo sabe
que deve parar. Isso foi no final da manhã, mas, no mesmo dia, teve outro
acidente mais tarde”, lembra.
Segundo Tostes, a colisão ocorreu porque houve o
recapeamento, mas não foi feita a sinalização. O servidor reclama que a
Secretaria de Obras ou a Novacap deveria ter pensado em alternativas e
providenciado a pintura o mais rapidamente possível. "Não colocaram nenhum
sinal provisório, como cones. Primeiro, eu acho que já passaram mais de 15
dias. Segundo, em duas semanas, podem ocorrer vários atropelamentos e batidas
de carro, então é uma lógica de prestação de serviço falha. Teria que ser imediatamente
após o asfalto secar. O mesmo problema ocorre com as faixas de pedestre. Já
vimos pessoas quase serem atropeladas”, alerta. O conserto do carro ficou
estimado em R$ 1,5 mil.
Na pista de acesso às quadras 108 e 310 norte, o asfalto
também é novo e não há pintura no chão. Sem a faixa na via, os pedestres acenam
e os carros não param, apesar de a placa vertical estar no local. Na tarde de
ontem, por pouco, as secretárias do lar Regina Alves da Silva e Deginane Araújo
Oliveira, ambas de 39 anos, não foram atropeladas. Elas sinalizaram a intenção
de passar, alguns carros pararam, mas, na última faixa, uma condutora passou
direto. "Eu falei: ‘olha a faixa!’ Está muito perigoso”, diz Deginane. "Achei
que tinham tirado a faixa para sempre”, comenta Regina.
Morador da 308 Norte, o empresário Robson Lucena, 29 anos,
acompanha diariamente os transtornos da obra. Para ele, a falta das faixas é o
que mais preocupa. "Está muito perigoso para o motorista e para o pedestre. A
falta da linha que divide mão e contramão também é um problema. Às vezes, dois
motoristas trafegam lado a lado, apertando quem vem em sentido contrário”, cita.
Má qualidade
Para o professor Flavio Dias, especialista em trânsito da
Universidade de Brasília, o cidadão não deveria ter esse tipo de prejuízo.
"Toda vez que você faz uma obra, tem que colocar a sinalização específica em 24
horas, com aquelas placas de cor laranja. Isso é obrigatório, mas infelizmente
não estão colocando. Aí, acontece um acidente e vai dizer que é culpa de quem
dirige?”, questiona.
Dias concorda que a tinta exige um tempo para secar, mas
critica o andamento do processo e as características da pavimentação. "Estão
demorando muito e colocando uma tinta de má qualidade. Dura dois ou três meses
e se apaga. O asfalto em si é de má qualidade, tem buracos e ondulações. Em um
ou dois anos, eles precisam refazer a obra”, observa.
O presidente da Novacap, Nilson Martorelli, rebate as
críticas e argumenta que os trabalhos estão dentro do prazo. "Quando você faz
um asfalto, essa finalização horizontal não pode ser aplicada logo após a
recuperação da via. Tem que ter um tempo de cura do asfalto, se não a tinta
sai, não tem durabilidade. A média é de 15 dias”, afirma. Em relação à crítica
de Dias, da falta de sinalização provisória, Martorelli explica que "é muito
difícil colocar um elemento no meio da rua para fazer as delimitações”. "Toda obra
desse vulto envolve alguns incômodos”, ressalva.
Martorelli garante que os habitantes das regiões
beneficiadas sentirão diferença no que diz respeito à durabilidade da
pavimentação, com o término das obras. "Não é só um tapa buraco. Estamos
mexendo para recuperar até a base da estrutura da pista. Esperamos que o
asfalto dure mais de 10 anos.”
Investimento
O programa Asfalto Novo divide-se em três etapas e prevê um investimento total de cerca de R$ 740 milhões. Serão revitalizados quase 6 mil dos 11,7 mil quilômetros da malha do DF. A primeira etapa prossegue no Plano Piloto (L2, W4 e W5 Norte e Sul, Eixo Monumental e Parque da Cidade) até dezembro. A segunda fase, lançada no início deste mês, prevê a recuperação de 1,7 mil km das principais vias da regiões administrativas. E a terceira atenderá 3,4 mil km das vias secundárias.