Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá sofre com insegurança e falta de infraestrutura

31/08/2013 10:42 - O Globo

Retrato da Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá: um rapaz empurra um carrinho de supermercado na via expressa, ao lado de carros estacionados no acostamento - Foto: Paula Giolito

RIO - Em 1982, o governador Chagas Freitas inaugurava uma Grajaú-Jacarepaguá novinha em folha. Considerada uma das principais realizações do governo da época, a duplicação da autoestrada garantiria ao carioca atravessar os 9 km em apenas oito minutos. Decorridos 31 anos, a impressão de quem passa todos os dias pela via é que a Avenida Menezes Cortes (seu nome oficial) parou no tempo quando o assunto é segurança e infraestrutura. Faltam acostamentos nas pistas de descida, radares são insuficientes para controlar o ímpeto dos motoristas, moradias — muitas delas irregulares — proliferam às margens da via, e traficantes de drogas circulam pelo asfalto, onde trafegam em média 47 mil veículos diariamente. As estatísticas mostram que andar por ali é mesmo uma aventura: o número de acidentes subiu 41,5% de 2011 para 2012, pulando de 94 para 133. No mesmo período, a quantidade de veículos na via subiu 7,6%. Somente de janeiro a julho deste ano, foram contabilizadas 61 ocorrências envolvendo automóveis. Chama a atenção o número de capotamentos no período: 18, ou 29,5%.

A pedido do GLOBO, o engenheiro Luiz Antônio Cosenza, vice-presidente do Crea-RJ, fez uma avaliação da estrada na manhã da última quarta-feira. Como medidas mais urgentes, ele sugere a redução de velocidade nas pistas de descida dos atuais 60km para 50km e a instalação de recuos de segurança. Atualmente, a estrada conta com quatro lombadas eletrônicas. Cosenza observou ainda a necessidade de sinalização eletrônica, alertando para os perigos principalmente em dias de chuva. Durante a inspeção, homens que circulavam nas proximidades Morro da Cachoeira Grande, no Complexo do Lins, chegaram a oferecer maconha e crack ao motorista de Cosenza.

— Na maior parte dos trechos de descida não há acostamento. E há espaço para fazer esses recuos em alguns locais. Se um motorista enguiçar com o carro, pode ficar em apuros. Assim como acontece na Ponte Rio-Niterói, painéis luminosos poderiam indicar o perigo de se trafegar em alta velocidade. Em dias de chuva, a prudência deve ser redobrada. São muitas curvas em 90 graus. Há abuso de velocidade, muitos não respeitam os pardais — afirmou o engenheiro.

Estrada fecha em caso de chuva forte

A região, que no século XIX abrigou uma fazenda de Antônio Pereira de Sousa Barros, o barão do Engenho Novo, deixou o passado bucólico definitivamente para trás. O perigo espreita quem mora a poucos metros da pista. Caso do sergipano Israel Rodrigues, de 49 anos, morador do Morro do Encontro, uma das comunidades que crescem à margem da estrada. Ele teve o carro destruído na última segunda-feira por um motorista que perdeu o controle da direção:

— O rapaz veio em alta velocidade, atravessou a pista e atingiu em cheio o meu Gol, que estava estacionado na pista de subida. Por poucos minutos meu filho não estava dentro do carro.

A advogada Lívia de Moura, de 28 anos, mora há dois anos em Jacarepaguá e pega diariamente o ônibus da linha 306 (Castelo-Praça Seca) para chegar ao trabalho, no Centro. Ela reclama da falta de opções de escoamento do tráfego em caso de acidentes na serra e da escuridão em alguns trechos da estrada.

— Qualquer acidente, mesmo uma simples batida, gera enorme transtorno. E em alguns trechos, é comum não ter qualquer tipo de iluminação.

A CET-Rio informou, em nota, que refez toda a sinalização da pista de descida, no sentido Jacarepaguá, em 2011. No mesmo ano, acrescentou o órgão, foram feitas sinalização com setas em curvas perigosas, linhas de aproximação de curvas e colocação de placas com telefone para atendimento de usuários. Sobre a falta de apoio aos motoristas, a prefeitura garantiu que rondas são realizadas 24h por dia e que a operação conta com controladores de tráfego, reboques, picapes e motocicletas. Quanto às ações de vandalismo nas placas de trânsito, a CET-Rio disse que vem realizando estudo com um material específico que permitirá criar uma camada de proteção nas placas da cidade, facilitando a remoção de pichações. A prefeitura não informou se há planos de instalação de novos radares ou mudança do limite de velocidade na via.

Os deslizamentos de encostas são outro problema frequente da Grajaú-Jacarepaguá. Em 2010, a GEO-Rio investiu R$ 12,4 milhões em intervenções, com recursos do Ministério da Integração Nacional. No fim de 2011, mais R$ 3,1 milhões foram aplicados no desmonte de um bloco que se desprendeu da encosta e na construção de uma parede de concreto na altura do Morro da Cotia. Nos últimos três anos, a prefeitura informa ter feito intervenções em outros 14 pontos sujeitos a deslizamentos. Mesmo assim, a via é fechada sempre que chove forte.

O presidente da GEO-Rio, Márcio Machado, afirma que 98% das favelas cariocas com casas em áreas consideradas de alto risco — caso de comunidades que cortam a via expressa — já estão dotadas de sistemas de alerta sonoro.

— Estamos finalizando a entrega de documentos para a Caixa Econômica Federal, com o objetivo de conseguir a liberação de recursos federais do PAC II. As novas intervenções preveem obras de infraestrutura no Complexo do Lins e até, em alguns casos, o reassentamento de famílias — afirma.

O governo do estado, por sua vez, informou que está prevista a construção de 800 moradias pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Mas ainda não há prazo definido para isso.

A falta de segurança talvez seja um dos maiores obstáculos da Avenida Menezes Cortes. O histórico de violência não é recente. Há 11 anos, o restaurante Cabana da Serra, ponto de referência na estrada, fechou as portas. Sucumbiu ao medo dos frequentadores. José Octávio Ramalho Ortigão, trineto do barão do Engenho Novo e ex-sócio do empreendimento, diz não ter planos para reativá-lo. Atualmente, o terreno abriga um campo de futebol.

Uma das principais artérias da cidade, a Grajaú-Jacarepaguá teve suas obras iniciadas em 1937, na gestão do prefeito Olímpio de Melo, mas a inauguração só ocorreu 20 anos depois, com Negrão de Lima. De 1959 a 1982, os motoristas tinham que vencer a Serra dos Pretos Forros em pistas de apenas uma faixa de rolamento. Nas últimas três décadas, a quantidade de veículos na autoestrada avançou 50%, passando de 30 mil para 47 mil. Inaugurada em 1997, a Linha Amarela passou a absorver grande quantidade de motoristas que fazem o deslocamento Centro-Jacarepaguá.