01/04/2015 08:15 - O Globo
Crianças de pouco mais de 5 anos corriam risco iminente de sofrerem acidentes de trânsito devido a uma bandalha feita rotineiramente por motoristas de vans escolares. A irregularidade foi descoberta por autoridades graças à denúncia de um morador, indignado com a audácia e a negligência dos infratores. Diariamente, os motoristas que fazem o transporte de alunos trafegavam na contramão da Rua Maestro Francisco Braga, no sentido Praça Vereador Rocha Leão, para deixar estudantes em colégios da Zona Sul. A manobra só é autorizada para ambulâncias do Hospital Copa D’Or, que fica perto dali.
Depois de receber a denúncia na quarta-feira da semana
passada, o subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos, acionou a 12ª DP (Copacabana).
Policiais da delegacia fizeram campana no dia seguinte e, por volta das 6h30m,
flagraram Claudia Abraham Barbosa, dona da Transporte Escolar Tia Claudia,
dirigindo a van da empresa na contramão. Ela se dirigia ao Colégio Notre Dame,
em Ipanema. A bandalha foi filmada, mas ela não foi abordada.
Na sexta-feira, já com apoio de equipes da Secretaria
municipal de Transportes (SMTR), João Santiago foi parado numa blitz em frente
à Praça Vereador Rocha Leão. Para que as crianças não fossem prejudicadas, o
motorista foi autorizado a seguir viagem, mas acompanhado por agentes da SMTR.
Ele é sócio da Trans Guri JE Transporte Escolar e Turismo. A empresa é
credenciadas da Escola Parque, na Gávea. Ao checarem a documentação de João
Santiago, constatou-se que ele está com o direito de dirigir suspenso por ter
sido flagrado dirigindo em velocidade superior à máxima permitida em mais de 50%.
Além disso, estava sem o disco do tacógrafo, dispositivo de uso obrigatório
para esse tipo de serviço, que monitora o tempo de uso, a distância percorrida
e a velocidade do veículo.
Somada à multa por trafegar na contramão, ele perdeu 19
pontos, embora sua carteira já estivesse sem validade. O motorista tem ainda
duas multas (já pagas) do ano passado por excesso de velocidade.
‘É UM TRECHO PEQUENO’
Os dois motoristas responderão criminalmente por expor a
vida ou a saúde de terceiros a perigo direto e iminente (artigo 132 do Código
Penal), cuja pena é de três meses a um ano de reclusão. Como o crime é de baixo
potencial ofensivo, o caso será encaminhado ao Juizado Especial Criminal
(Jecrim).
Por telefone, João Santiago disse estar arrependido e que
não sabia da carteira suspensa.
— Peço desculpas a todos pelo que fiz. Especialmente aos
pais das crianças. É um trecho pequeno e, como via moradores fazendo aquela
contramão, fiz também — disse.
Por meio de nota, a Escola Parque explicou que só indica
empresas de transporte escolar que estiver em dia com as exigências da SMTR.
Informou ainda que vai apurar com seriedade o que ocorreu e avaliar a atitude a
ser tomada com relação à Trans Guri, podendo, inclusive, "descredenciá-la”.
Na tarde de segunda-feira, a outra motorista flagrada na
contramão, Claudia Abraham Barbosa, esteve na 12 ª DP e, sem saber que havia
sido filmada, negou a infração e reclamou da polícia.
— Eles estão me aborrecendo. Estou perdendo tempo. Não fiz
nada do que estão falando. Ainda não almocei — queixou-se, por volta das 16h.
Claudia Abraham recebeu 43 multas, entre dezembro de 2010 e
março deste ano. Segundo o site do Detran, o órgão está iniciando um processo
administrativo para suspender o direito dela de dirigir. Claudia, que atende
alunos do Colégio Notre Dame, acumula 30 pontos na carteira.
CRIME SERÁ APURADO
Também por meio de nota, o Colégio Notre Dame lamentou o
fato e informou que "as famílias têm total autonomia na escolha do transporte
escolar”, já que a unidade não dispõe de convênios com esse tipo de serviço.
A delegada titular da 12ª DP, Izabela Santoni, considerou o
caso gravíssimo.
— Nós identificamos os envolvidos, não só o responsável pelo
transporte escolar, como também o motorista. Eles vão responder criminalmente
por assumir o risco de expor a perigo a vida dessas crianças. É um fato muito
grave — observou Izabela.
O subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos, criticou os
motoristas:
— Foram casos de total irresponsabilidade.
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Município
do Rio, Edgar Flexa Ribeiro, pediu mais atenção dos pais:
— Não se pode entregar uma criança na mão de alguém que não tenha sido pesquisado, questionado pelos pais.
Secretaria de Transportes diz que fiscalizações são
rotineiras
Desde o início das aulas, 20 veículos já foram lacrados e dez rebocados
A prefeitura informou ontem que atualmente existem cerca de
1.500 veículos escolares registrados na Secretaria municipal de Transportes.
Todos devem ter no mínimo um motorista e um acompanhante, sendo facultado o
terceiro auxiliar. Ainda segundo o município, os veículos passam por duas
vistorias anuais, como determina o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A
primeira de 2015 já foi realizada.
Sobre as irregularidades constatadas na Zona Sul, a
prefeitura ressaltou que a ação foi realizada com apoio da Secretaria de
Transportes:
"A operação da Seop, na sexta-feira passada (27), na Zona
Sul, foi realizada com apoio de fiscais da SMTR. A secretaria realiza
rotineiramente ações de fiscalização para coibir irregularidades envolvendo não
apenas o transporte escolar, como todos os demais transportes públicos
municipais”.
De acordo com a secretaria de Transportes, em 2014 foram
registradas 624 infrações referentes a transporte escolar, a maioria por
vistoria vencida. Este ano, desde a volta às aulas, fiscais da secretaria
estiveram em 22 escolas. Vinte veículos foram lacrados por vistoria vencida e
dez rebocados para depósito por diversas razões, entre elas, licenciamento
anual do Detran vencido e até transporte escolar pirata.