Tumulto, corre-corre, discussões, falta de informação,
ônibus lotados e atrasos. Apesar de o cenário lembrar o que ocorreu na
inauguração da Estação de Integração São Gabriel, em 8 de março, na Região
Nordeste de Belo Horizonte, desta vez o foco dos problemas foi a Estação de
Integração Pampulha, construída na junção das avenidas Antônio Carlos, Pedro I
e Portugal, no Bairro Itapoã. O segundo terminal-chave para o funcionamento do
BRT/Move foi testado ontem pela primeira vez em um dia útil e mostrou que, a 23
dias da Copa do Mundo, há muito a ser resolvido. A estrutura é a maior aposta
para garantir o bom funcionamento do Move na Avenida Antônio Carlos, principal
acesso ao Mineirão, que vai receber seis jogos do Mundial de 2014. Apesar dos
problemas, segundo a BHTrans a situação tende a melhorar gradualmente,
principalmente com a remoção de mais linhas convencionais do corredor, que nas
próximas semanas serão integradas ao sistema de transporte rápido por ônibus.
Enquanto isso não ocorre, o trânsito caótico nas pistas
mistas da Antônio Carlos, devido à presença de ônibus de 30 linhas
convencionais, atrapalhou a chegada das sete novas linhas alimentadoras à nova
estação. Para piorar, um protesto de taxistas, reivindicando a possibilidade de
dividir as faixas centrais da Antônio Carlos com os ônibus do BRT, congestionou
ainda mais o tráfego. Nas pistas comuns, dos 354 ônibus que trafegavam no pico
da manhã antes do Move, 82 foram retirados desde sábado. Outros 86 vão sair de
cena na segunda fase, uma redução de 47% no número de coletivos. Testadas pelo
Estado de Minas, as duas principais linhas troncais que já estão operando na
Antônio Carlos tiveram desempenhos diferentes. Enquanto a 50, que vai da
Estação Pampulha ao Centro direto, levou 13 minutos para chegar à Avenida
Santos Dumont, os usuários sofreram com a 51, que vai da Pampulha aos
hospitais, por conta da superlotação, mesmo fora do horário de pico. Foram 47
minutos até a Santa Casa.
Antes mesmo de os passageiros das sete novas linhas
alimentadoras chegarem à Estação Pampulha, inaugurada ainda em meio a uma série
de obras, problemas já testavam a paciência dos usuários. Com as linhas
convencionais na pista mista, totalizando cerca de 190 coletivos no pico da
manhã, além de táxis e veículos de passeio, o trânsito na Antônio Carlos ficou
caótico, com os congestionamentos se estendendo à Avenida Portugal, rota
obrigatória das alimentadoras. Moradores de bairros como Jardim Leblon, Copacabana
e Jardim Atlântico, na Região de Venda Nova, ficaram presos no engarrafamento e
não conseguiram chegar no horário que pretendiam. Muitos desembarcaram e
continuaram o trajeto a pé.
O pedagogo Marden Sousa, de 27 anos, foi um dos que apelaram
para a caminhada. Porém, depois de descer da linha alimentadora e chegar à
Estação Pampulha, precisou passar por duas linhas de catracas, o que o
obrigaria a pagar três passagens para fazer todo o trajeto até o Centro de BH.
Depois de discutir com um funcionário do Transfácil, acabou ganhando a
passagem. "Qual é o objetivo disso tudo? Atrapalhar a vida do cidadão? Está
inviável, não conseguimos passar pela Portugal para chegar na estação”,
reclamou. Quem também desistiu do coletivo foi a consultora de vendas Hérica Vieira,
de 27. Como não havia sinalização clara, ela acabou entrando na estação por uma
passagem exclusiva dos ônibus articulados e se viu presa na plataforma. "Acabei
correndo perigo no meio dos ônibus, porque não tem nada explicando por onde
entrar. Tive que correr, porque se eu chego atrasada meu patrão desconta R$ 137
do meu salário”, afirmou Hérica, depois de ser resgatada da pista para a
plataforma por outras pessoas.
O impacto na rotina das linhas alimentadoras, segundo os
passageiros, não ficou restrito ao trânsito da Avenida Portugal, que atrasou a
chegada à Estação Pampulha. Houve demanda excessiva nessas novas linhas, que
levou muitas pessoas a ver ônibus lotados passando direto por pontos. "Eu
esperei das 6h05 até 6h45 para entrar em uma linha que fosse até a estação.
Antes disso, passaram cinco ônibus lotados”, disse o comerciário Sérgio Souza,
de 72.
As sete alimentadoras que substituíram oito linhas antigas
semiexpressas, que iam direto dos bairros ao Centro ou aos hospitais, deixam os
passageiros no segundo andar da estação. Dali, eles descem e encontram duas
plataformas, pelas quais se dividem as três linhas troncais criadas para o
início do BRT na Antônio Carlos. "Não tem nenhuma informação sobre onde passa
cada linha. Por instinto, vi o ônibus e achei que era ali, mas não dá para
saber”, afirmou Renata Fonseca, de 47, funcionária de uma drogaria. A
sinalização para orientar passageiros consistia em folhas de papel de tamanho
mínimo, em colunas e extintores de incêndio, indicando onde cada linha passava.
Segundo a BHTrans, a sinalização da Estação Pampulha é
provisória e será reforçada. A empresa municipal frisou ainda que há
funcionários treinados para tirar as dúvidas dos passageiros. Sobre as linhas
alimentadoras, a informação é de que elas passam por monitoramento para serem
ajustadas, caso necessário, à oferta de mais ônibus e horários.
Retenção no Centro
Apesar da superlotação dos ônibus da Linha 50 (Estação
Pampulha/Centro – direta), foram 13 minutos da Estação Pampulha até o Centro da
capital, com a primeira parada na Estação Rio de Janeiro, na Avenida Santos
Dumont. O que chamou a atenção foram os 23 minutos rodando pelas ruas e
avenidas do hipercentro. Segundo o motorista Ismael Valério, de 44 anos,
condutor de coletivos da Linha 50, esse tempo poderia ser reduzido com uma
mudança no itinerário.
"Nesse caminho damos duas voltas pela Santos Dumont. São
muitos semáforos no trecho, o que atrasa a viagem”, afirmou. Na prática, o
ônibus chega ao Centro pela Rua São Paulo e entra à esquerda na Santos Dumont,
onde desce a maioria dos passageiros. Depois, os coletivos fazem a volta e
seguem para a Avenida Paraná, com parada na Estação Carijós. Feita nova volta,
mais uma vez a Linha 50 chega à Santos Dumont, repetindo o retorno do cruzamento
com a Rua da Bahia, antes de descer a Rua Saturnino de Brito e pegar a Avenida
Oiapoque. Dali o itinerário passa pela Avenida do Contorno e Rua Curitiba, para
depois chegar ao Viaduto A e voltar à Antônio Carlos.
A BHTrans informou que o tempo médio das viagens entre a
Estação Pampulha e a Estação Rio de Janeiro foi de 14 minutos. Ainda segundo a
empresa, já está definido que a linha 50 terá reforço na oferta, passando de
117 para 140 viagens por dia. A linha 52 (Estação Pampulha/Lagoinha) percorreu o
trajeto até a Estação Senai, último terminal do corredor Antônio Carlos, com
média de 21 minutos, de acordo com a medição oficial.
Intervalos longos
rumo aos hopitais
Passageiros do BRT/Move que tiveram ontem a primeira
experiência com a linha 51 (Estação Pampulha/Centro/hospitais) passaram por uma
verdadeira provação para chegar aos seus destinos. Das 6h às 7h, os ônibus
partiram com intervalo de seis minutos. Entre 7h e 8h da manhã, saíram de sete
em sete minutos. As reclamações pipocaram a partir das 8h, quando o intervalo
subiu para 15 minutos. Entre 9h e 10h o tempo de espera ficou ainda maior: de
20 em 20 minutos, o que foi a gota d’água para a ira de passageiros.
"Eles diminuíram a quantidade de ônibus em um horário em que
a demanda ainda é grande. Está superlotado, sem condições de entrar mais
ninguém”, afirmou a cabeleireira Meire Aparecida Santos, de 42 anos. A equipe
do EM conversou com ela dentro do ônibus, ainda na estação. De lá, o coletivo
parou em todas as 14 estações de transferência da Antônio Carlos, diferente das
nove do corredor Cristiano Machado. Quando algum passageiro tentava embarcar em
algum dos terminais, a sensação era de que não seria possível apertar mais,
mesmo em uma viagem que se iniciou às 9h40, fora do horário considerado de
pico.
O vendedor Felipe Pires fez o percurso mais cedo. Mesmo
assim, quase perdeu a fisioterapia, na área hospitalar. "Peguei a linha
alimentadora às 7h40 e o normal seria chegar por volta das 8h40. Cheguei às
9h30, horário limite para o fisioterapeuta ir embora”, afirma. Com o aperto
dentro do ônibus, outros problemas ficaram claros. Sem visibilidade devido ao
número de pessoas, era praticamente impossível saber as estações de parada:
como o monitor não indicava as estações e o sistema de som não anunciava os
terminais, o jeito foi contar com a ajuda de outros passageiros. Na dúvida se
já estava no Hospital Odilon Behrens, uma passageira acabou descendo no
terminal da Rua Operários, tendo que andar bastante para chegar ao hospital.
Segundo a BHTrans, problemas apontados na identificação das
estações pelo monitor e microfone são pontuais. O número de viagens será
reforçado para atender os passageiros da linha 51, mas ainda não foi definido o
tamanho da expansão. O tempo médio entre a Estação Pampulha e a Avenida Augusto
de Lima foi 31 minutos, de acordo com a BHTrans.
Passageiros sofrem
com falta de estrutura no 1º dia útil de BRT Move na Antônio Carlos
Táxis e coletivos convencionais proibidos de trafegar pela pista
especial superlotam pistas convencionais
As queixas de usuários de ônibus da Estação Pampulha do
BRT/Move durante a estreia do corredor Antônio Carlos se repetiram nos acessos
ao terminal. Na avenida, fora dos corredores exclusivos, o trânsito parou do
viaduto do Bairro São Francisco, na Região Noroeste, à barragem da Lagoa da
Pampulha. O caos se instalou principalmente na Avenida Pedro I, continuidade da
Antônio Carlos, que ainda passa por obras e que na sexta-feira também teve as
pistas centrais fechadas para o trânsito misto. Coletivos de linhas
convencionais, carros de passeio, táxis, motos, caminhões e qualquer outro
veículo que não fosse do sistema BRT passaram a dividir as pistas laterais, que
travaram. A retenção chegou a quatro quilômetros na Pedro I, até a rodovia
MG-010. Uma longa fila de ônibus se formou na pista da direita.
São 3,3 mil veículos passando pela Antônio Carlos sentido
Centro nos momentos mais movimentados da manhã. No pico da tarde, são 2,9 mil
veículos voltando para os bairros. Ao todo, cerca 80 mil veículos por dia. E
para complicar ainda mais as mudanças de ontem, taxistas protestaram em frente
à UFMG, pelo direito de dividir as pistas centrais da Antônio Carlos com os
ônibus do BRT. O taxista Maurício Flávio, de 52, reclamava de ter sido
"expulso” das pistas centrais. "Estamos dividindo espaço com todos os carros e
os ônibus das linhas antigas. Os coletivos do BRT estão circulando sozinhos nas
pistas do meio”, reclamou o motorista, que estava com passageiros, preso em um
engarrafamento provocado pelos próprios colegas manifestantes, que dirigiam em
baixa velocidade e fazendo buzinaço.
Ainda são 30 linhas de ônibus convencionais nas pistas
mistas da Antônio Carlos, em um total de 191 viagens somente no horário de
pico. Quem tem carro se acha o mais prejudicado, como Mauro Santana, de 50, que
saiu do Bairro Santa Amélia às 7h e às 8h10 ainda estava parado na Antônio
Carlos. Outros motoristas tentaram escapar passando pelas ruas dos bairros ou
pela Avenida Cristiano Machado, mas também enfrentaram retenção no trânsito.
Na Avenida Pedro I são 1.225 veículos no sentido
bairro/Centro no pico da manhã e 1.450 veículos no sentido Centro/bairro à
tarde. No total, cerca de 45 mil veículos/dia, que ficaram ainda mais
espremidos nas pistas laterais, devido às obras do BRT e afunilamento de
faixas. A revolta maior foi dos passageiros das linhas convencionais, que
ficaram parados por até duas horas na Pedro I, sem ter como chegar à Estação
Pampulha e embarcar no Move para o Centro ou região hospitalar. Impacientes,
muitos desceram dos coletivos e seguiram o percurso a pé, como fez a auxiliar
de saúde bucal Tatiana Maíza de Paiva de 24 anos. Ela encarou uma caminhada de
três quilômetros até o consultório onde trabalha. "Saí de casa às 6h30 para
tentar chegar ao consultório às 8h. Fiquei agarrada uma hora e 40 minutos no
trânsito e preciso preparar uma cirurgia para as 10h”, reclamou ela, que
decidiu acordar mais cedo a partir de hoje para tentar não se atrasar.
PARADOS
Para piorar, no arranca e para dos carros muitos
apresentaram defeito mecânico na Pedro I. O Gol do fotógrafo Marco Carvalho, de
52, que estava com bateria franca e pegou no "tranco” ao sair de casa, parou de
vez de funcionar no meio do congestionamento I e precisou ser empurrado para
fora da pista.
As maiores retenções no trânsito foram entre o viaduto do
Bairro São Francisco, na Região Noroeste, e a Avenida Vilarinho, em Venda Nova,
passando pela Pedro I. As pistas centrais ficaram praticamente desertas, por
onde ônibus do BRT passavam abarrotados de passageiros, com muita gente
espremida e viajando em pé.
A BHTrans informou que a operação dos ônibus alimentadores e troncais e da Estação Pampulha foi em grande parte comprometida devido à manifestação dos taxistas, que ocuparam três das quatro faixas de circulação da pista mista da Avenida Antônio Carlos, sentido Centro. "Com muitos táxis circulando lentamente, gerou-se grande retenção na Rua CheiK Nagib, causando reflexos na Avenida Portugal”, informou.
O Tempo - BH
Com início do Move, motoristas andam a 10 km/h
na pista mista
Os motoristas da região da Pampulha e do vetor Norte de Belo
Horizonte começaram nesta segunda a enfrentar o "purgatório” anunciado pelo
presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans),
Ramon Victor Cesar. Com o início da operação do Move (BRT) no corredor da
Antônio Carlos e a consequente volta de 191 veículos/hora durante o horário de
pico para a pista mista, o primeiro dia útil foi de congestionamento ao longo
de toda a avenida e impacto em outras vias, como a Pedro I e a Cristiano
Machado. Quem optou pelo Move enfrentou ônibus lotados. Na pista mista, os
carros ficaram praticamente parados, com velocidade média da Estação Pampulha
até o centro de 10 km/h. No trecho mais problemático, da estação até a UFMG, a
média foi ainda mais baixa, de 5,4 km/h.
A reportagem de O TEMPO fez o trajeto do bairro Santa
Amélia, na região da Pampulha, até o centro da capital e gastou 1h11 para
percorrer 11 km, de carro, na manhã desta segunda. A média de velocidade em
todo o percurso foi de 10km/h, sendo que entre a barragem da Pampulha e a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi registrada a maior retenção.
Nesse trecho, para percorrer 2 km, foram precisos 22 minutos.
Apenas da Estação Pampulha até o centro, foram gastos 46
minutos. O mesmo percurso, da estação ao centro, foi feito pela reportagem de
Move, com a linha direta, que não para nas estações de transferência ao longo
do corredor. Com ele, na pista exclusiva, no mesmo horário, a viagem foi bem
mais rápida, em 15 minutos. Os problemas foram os veículos lotados e a falta de
estrutura na estação.
Vai continuar. O
principal causador do congestionamento foi a volta dos ônibus para a pista
mista. Antes eles andavam na pista exclusiva. A BHTrans, em nota, reconheceu o
transtorno e admitiu que ele deve continuar nas próximas semanas. A empresa, no
entanto, prometeu melhorias, com a extinção de algumas linhas e a integração de
outras ao Move. Dos 191 veículos/hora hoje na pista mista, 86 devem sair, o que
significa que 47% dos ônibus municipais deixarão a pista mista.
Enquanto isso, os usuários e motoristas reclamaram do
serviço. Foi o caso do mecânico Luiz Carlos Nogueira, 45, que saiu de Santa
Luzia, na região metropolitana às 6h, e às 8h10, ainda estava na altura da
barragem da Pampulha. "Isso não é o purgatório, é o inferno. Está muito pior o
trânsito, e duvido que vá melhorar tanto assim”.
Já o motorista Caio César, 21, culpa a Copa pelos
transtornos. "O trânsito aqui era melhor antes desse monte de obra para a
Copa”.
Entenda
Purgatório e paraíso. Na última quarta-feira, em entrevista
para apresentar o Move da Antônio Carlos, o presidente da BHTrans, Ramon Victor
Cesar, disse que os transtornos dos motoristas nesta semana seriam "a passagem
no purgatório para se chegar ao paraíso”.
Prazo. No mesmo dia, o presidente afirmou que os transtornos
seriam maiores ao longo de três semanas. Nesta segunda, a BHTrans informou que
monitora a situação e pode intervir caso haja necessidade, como no caso da
superlotação dos ônibus.