O Brasil teve o pior desempenho entre as 140 nações
incluídas no ranking mundial de competitividade de 2015. Ao perder 18 posições
num único ano, o País despencou para a 75ª colocação, sendo superado pelos
concorrentes México, Índia e Vietnã e pelos vizinhos Peru, Uruguai e Colômbia.
Para ter ideia do tamanho da queda brasileira, o segundo país que mais recuou
no ranking neste ano foi a Bolívia, com 12 posições.
Segundo a autora do Relatório Global de Competitividade,
elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, Margareta Dryeniek-Hanouz, dois fatores
pesaram na queda do Brasil: a situação macroeconômica e os escândalos de
corrupção. Segundo ela, há um forte risco de que no ano que vem, o Brasil volte
a perder espaço, já que o ranking foi feito com base nos dados até maio, antes
da atual crise na economia nacional se manifestar com mais força e o País
perder o grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard
& Poor’s.
"A queda de 18 posições é excepcional”, disse Margareta. A
posição brasileira é a pior, pelo menos, desde 2006, quando houve mudança na
metodologia de elaboração do ranking. De 2012 – quando alcançou a melhor
posição – pra cá, o País perdeu 27 posições.
Na opinião do professor da Fundação Dom Cabral, Carlos
Arruda, responsável pela coleta e análise dos dados brasileiros, o péssimo
desempenho do País neste ano é resultado de uma combinação de fatores. Além da
atual conjuntura negativa, fatores estruturais e sistêmicos, como a necessidade
de reformas urgentes, derrubaram o País no ranking mundial.
Para calcular a posição do País, o professor explica que
considera os indicadores econômicos e uma série de entrevistas com executivos
de vários setores e de diferentes partes do Brasil. O ranking é formado com
base numa série de pilares, como ambiente econômico, infraestrutura, educação,
saúde, tecnologia e inovação, que recebem notas específicas.
Efeito Lava Jato.Arruda conta que a Operação Lava Jato, envolvendo poder público, partidos
políticos e iniciativa privada, teve forte reflexo no ranking e evidenciou a
necessidade de melhorar os níveis de governança e transparência das empresas.
"Percebemos uma autocrítica entre os empresários, uma visão de que o
comportamento ético precisa melhorar.” Exemplo disso, é que no pilar
Instituições, que compõe o ranking, o Brasil caiu 27 posições, para 121ª
colocação.
O desempenho é resultado da piora de indicadores como Desvio
de Recursos Públicos que ficou na penúltima colocação entre os 140 países –
apenas a Venezuela teve pior classificação. Outras variáveis como Confiança
Pública em Políticos ocupou a 138ª posição e o comportamento ético das
empresas, em 133ª. O governo também está entre os menos transparentes no mundo
(129ª colocação).
Macroeconomia.Apesar disso, os pilares que mais recuaram no ranking foram Educação Superior e
Treinamento e Ambiente Macroeconômico, com recuo de 52 e 32 posições,
respectivamente. No quesito macroeconomia, que ficou em 117ª posição, são
avaliados o grau de endividamento do País, os níveis de inflação, déficit
público, crescimento econômico e a classificação de risco. O Brasil teve piora
em todos esses indicadores.
Diante dessa nova situação, o País perdeu espaço para outras
economias emergentes, dentro e fora da região. Na América Latina, o Brasil
virou a sétima economia mais competitiva, superado por Chile, Costa Rica,
México, Colômbia, Peru e Uruguai. Entre os Brics, o desempenho do Brasil também
é o pior. A China está estabilizada na 28ª posição, enquanto a Índia subiu 16
lugares e ocupa o 55º posto. Rússia, sob embargo, está entre as 45 economias
mais competitivas. No caso da África do Sul, o país aparece em número 49.
Para Margareta Dryeniek-Hanouz , o freio na competitividade
pode significar problemas para o crescimento da classe média no futuro próximo.
Arruda completa que na prática o resultado desse ranking é a baixa
produtividade do País e as incertezas que podem representar para possíveis
investidores.
Na opinião do empresário Saulo Bueno, do Grupo Amazonas, o País está perdendo cada vez mais espaço no mercado internacional. "Hoje a participação do Brasil no comércio exterior é de 0,8%. Muito baixo.” Segundo ele, nos últimos anos, o produto nacional perdeu competitividade não só por causa do longo período de dólar baixo, mas também pela elevada carga tributária e os problemas de qualificação da mão de obra.
Folha de SP
Brasil cai 18 posições em ranking de
competitividade
A deterioração das contas públicas e a evolução dos
escândalos de corrupção fizeram o Brasil despencar 18 posições no ranking anual
do Fórum Econômico Mundial que avalia a competitividade de 140 países.
Depois de descer do 48° lugar em 2012, o país conseguiu se
manter entre 56 e 57 nos dois anos seguintes, mas cai agora para o 75º lugar,
atingindo seu pior posto desde que passou a ser avaliado no ranking, nos anos
1990. O estudo começou a ser feito na década de 70, sem a participação
brasileira.
Pelo sétimo ano consecutivo, é a Suíça quem ocupa o topo da
lista amparada em vantagens como liderança em inovação, desemprego estável,
eficiência da educação e do mercado de trabalho.
Na América Latina, o mais competitivo foi o Chile, que ficou
em 35º lugar no ranking geral. Características como eficiência dos mercados
financeiros e prontidão tecnológica foram ressaltadas no relatório para
justificar o resultado chileno. O Brasil também sai atrás de países como
México, Índia e Hungria.
BRASIL
Neste ano, o país perdeu pontos em 9 das 12 categorias
estudadas pela pesquisa.
As quedas foram mais acentuadas nos requisitos básicos de
competitividade, que abrangem áreas como ambiente econômico e institucional,
saúde e educação.
O equilíbrio fiscal, medido pelo deficit do orçamento do
governo, provocou um tombo de 32 posições, para o 117° lugar no ranking, no
quesito ambiente macroeconômico.
O indicador que aborda a confiança nas instituições caiu 27 colocações, chegando ao 121° lugar, puxado pelos escândalos de corrupção. O levantamento estuda temas como confiança nos políticos, subornos, ética nas empresas, ineficácia dos conselhos corporativos e proteção dos acionistas minoritários.
![]() |
Em 2015, a incapacidade de inovar e a má qualidade da educação, outros dois fatores essenciais ao avanço dos negócios, contribuíram para derrubar o país.
A maior queda, de 52 degraus (93°), se deu no quesito que
aborda educação superior e treinamento.
"Neste momento de crise, em que seria ainda mais
importante elevar a produtividade por meio da mão de obra, aumenta o
questionamento e a crítica da comunidade empresarial ao serviço de treinamento
e à indisponibilidade de instituições para isso", diz Carlos Arruda,
coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral e responsável pela
coleta e análise dos dados do ranking no Brasil.
Segundo ele, é preocupante ver que o Brasil vai mal em
atração e retenção de talentos, porque vai na direção contrária dos países mais
competitivos, que estão muito avançados nisso.
O desenvolvimento do mercado financeiro também registrou
desempenho pior devido à restrição de crédito.
Além do impacto da crise, o país não conseguiu resolver
questões estruturais que o perseguem desde a década de 90 e vêm sendo apontadas
em todas as edições do relatório, como sistema regulatório e tributário
inadequados, infraestrutura deficiente, educação de baixa qualidade e fraca
produtividade.
"O Brasil perdeu ao não fazer os investimentos em simplificação e infraestrutura que poderia ter feito quando vivia um momento de agenda positiva, como no primeiro mandato de Lula, em 2003 e 2004, quando teria sido mais fácil aprovar tais mudanças", afirma Arruda.
O quesito infraestrutura teve leve melhora em relação a 2014 devido, especialmente, aos investimentos em aeroportos para Copa e Olimpíadas. Já a qualidade de portos e rodovias permanece ruim. O indicador de qualidade do fornecimento de eletricidade também segue negativo.
O Globo
Brasil recua 18 posições em lista de mais
competitivos
País fica
em 75 º entre 140 países de ranking do Fórum Econômico Mundial, pior resultado
desde 2006
O país caiu 18 posições, para 75 ª , no ranking do Fórum
Econômico Mundial sobre competitividade. Em agosto, o governo central teve
déficit fiscal de R$ 5 bilhões. - SÃO PAULO- O aumento dos gastos do governo, a
incapacidade de fazer o ajuste fiscal, a crise política e a corrupção
investigada pela Operação Lava- Jato contribuíram para que o Brasil perdesse 18
posições no ranking global de competitividade, de acordo com o Relatório Global
de Competitividade do Fórum Econômico Mundial, e atingisse sua pior posição na
série histórica que, com a metodologia atual, começou em 2006. Na edição 2015/
2016 do levantamento, o país aparece na 75 ª posição entre 140 nações, frente
ao 57 º lugar ocupado no estudo anterior. Em 2012, o Brasil ocupava a 48 ª
posição no ranking, seu melhor desempenho, considerando a atual metodologia.
Na atual posição, o Brasil tem o pior resultado entre o
Brics, grupo de nações emergentes integrado por Rússia ( 45º do ranking), China
( 28 º ) , Índia ( 55 º ) e África do Sul ( 49ª) . Já em relação aos países da
América Latina, o Brasil só está à frente de Argentina ( 106 º ) , Bolívia (
117 º ) , Paraguai ( 118º ) e Venezuela ( 132 º ) . Mesmo sendo a sétima maior
economia entre os 140 países da lista, o Brasil perde em competitividade para
países pequenos como o Uruguai ( 73 ª posição) e o Chile ( 35ª) .
— O país foi o que mais perdeu posições no ranking porque sofre com a deterioração de fatores básicos para a competitividade, como falta de confiança nas instituições, situação das contas públicas, incapacidade de inovar e problemas com educação — afirma Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, que coordena a pesquisa no Brasil.
![]() |
SISTEMA TRIBUTÁRIO INADEQUADO
Segundo ele, há fatores conjunturais, como o baixo
crescimento econômico e a crise política, que começaram a se evidenciar desde o
ano passado. Mas há outros, de longa data, que já vêm sendo apontados nos
últimos levantamentos e continuam empurrando o país para a parte inferior do
ranking. Entre eles, estão o sistema tributário inadequado, falta de um marco
regulatório, infraestrutura deficiente, baixa produtividade e educação de má
qualidade.
As entrevistas com 197 executivos do país, que são a parte
opinativa do levantamento, foram feitas de março a maio deste ano. Já as
estatísticas referentes à situação econômica, educacional e saúde, entre
outras, de cada país são de 2014. Os resultados mostraram que o Brasil
retrocedeu em nove dos 12 pilares analisados. O país foi mal avaliado no pilar
"instituições”. As questões éticas nas relações entre o setor público e privado
e a corrupção foram citados como fatores de desconfiança no Estado. No quesito
"ambiente econômico”, a percepção negativa foi ainda maior, com os
entrevistados citando o déficit do Orçamento do governo.
— O aumento de gastos do governo, a perda de controle do
Orçamento evidenciam um modelo estrutural que é inviável no longo prazo — diz
Arruda.
SUÍÇA LIDERA LISTA
No capítulo da educação, o estudo mostrou perda de qualidade geral na educação primária e redução das matrículas. A pesquisa também perguntou aos executivos quais as maiores barreiras para se fazer negócios no país. No Brasil, a grande quantidade de impostos foi apontada como o maior entrave, seguida por leis trabalhistas restritivas, corrupção, infraestrutura ineficiente e burocracia.
No topo do ranking, pelo sétimo ano consecutivo, ficou a Suíça. O país é apontado como líder em inovação, com excelente sistema de educação e mercado de trabalho eficiente. Na segunda posição, ficou Cingapura, seguida de EUA.
Valor Econômico
Brasil tem a maior queda no ranking de
competitividade
Falta de
capacidade de inovação e de preparar a mão de obra deve agravar a situação nos
próximos anos, prevê Fundação Dom Cabral, parceira do Fórum Econômico Mundial
na pesquisa
O Brasil sofreu a maior queda de competitividade entre 140
países, recuando 18 posições no ranking do Relatório Global de Competitividade
2015-2016, publicado ontem pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em
inglês). O país passou da 57ª para a 75ª posição, a pior colocação na história
do indicador. Corrupção, déficit fiscal elevado, inflação em alta, incertezas
políticas, perda de confiança nas instituições e fraco desempenho econômico
foram os fatores que pesaram na comparação.
"A perda de posição do Brasil era previsível",
comenta o professor Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da
Fundação Dom Cabral (FDC) e responsável pela coleta e análise de dados sobre o
Brasil no relatório. "O país atravessa um momento muito difícil, com
impacto direto sobre a competitividade."
Para Arruda, o ranking dá uma ideia de que se está
competindo com outros países, mas na verdade, a queda foi tão grande e
generalizada entre os vários aspectos observados pelo WEF que "o Brasil
perdeu para ele mesmo". "Ainda que os outros países tivessem ficado
parados, o Brasil teria caído do mesmo jeito, porque piorou, perdeu a
capacidade competitiva, e isso é crítico."
Para o professor da FDC, o Brasil enfrenta uma combinação de
recuo sistêmico com conjuntural, o que ele classifica como "a pior
condição possível". O país não fez o que precisava quando podia, diz.
"Não investiu em infraestrutura, não melhorou o marco regulatório nem fez
reformas. Agora é difícil fazer reformas em um ambiente de baixa
confiança."
Para a economista Margareta Drzenick-Hanouz, uma das autoras
do relatório, o Brasil é um exemplo do fiasco dos países emergentes na
tentativa de melhorar a competitividade, ao não conseguir levar adiante
reformas estruturais de longo prazo para melhorar a produtividade e estimular o
talento empreendedor.
Segundo ela, com o cenário global de "novo
normal", a tendência é o país enfrentar mais desemprego e desigualdade de
renda. O "novo normal" é o cenário de crescimento mais modesto para
todo o mundo, com algum crescimento nos países desenvolvidos e perda de fôlego
nos emergentes, com participação importante da desaceleração da economia
chinesa.
Na avaliação de Arruda, o mundo passa por um período de
transição para a chamada "indústria 4.0", na qual os ganhos de
produtividade serão obtidos graças ao avanço das novas tecnologias, em especial
a computação em nuvem e a chamada "internet das coisas" - a conexão
de máquinas, equipamentos e aparelhos à internet e seu controle e acesso
remotos. A Alemanha, quarta do ranking deste ano, projeta um ganho de 30% de
sua competitividade depois de superada a transição. Arruda estima que o período
intermediário deva durar em torno de cinco anos.
O cenário para o Brasil se torna ainda mais nebuloso,
comenta o professor da FDC, porque o país não domina essas tecnologias nem tem
se preparado para atrair, formar e reter talentos capazes de lidar com elas. O
país perdeu 33 posições nesse item, recuando para o 94º posto do ranking. Em
transferência de tecnologia por investimentos estrangeiros a baixa foi de 19
posições, para o 58º posto.
Arruda também vê com preocupação o fato de o país começar a
dar os primeiros sinais de perda do bônus demográfico (a presença de maior
número de pessoas em idade ativa do que de crianças e idosos). Um desses sinais
é a redução de matrículas no ensino fundamental e médio.
Para ele, o país não vai perder a competitividade em todos
os setores. As atividades ligadas à cadeia do agronegócio, na qual o país tem
vantagens competitivas, será beneficiada. Segundo ele, a presença no país dos
desenvolvedores de tecnologia, somada às vantagens competitivas, deve fazer com
que o Brasil se mantenha na ponta desse segmento.
Entre os aspectos com grande piora, o ambiente
macroeconômico no Brasil recuou 32 posições, chegando ao 117º lugar. "A
corrupção ganhou destaque especialmente em países onde recentes escândalos
expuseram seus custos econômicos, como no Brasil, Hungria, Itália, México e
Espanha", aponta o relatório. A crise política causada pela corrupção no
Brasil minou a confiança dos empresários nas instituições (queda de 18
posições, para o 122º lugar) e privadas (baixa de 38 colocações, para o 109º
posto).
Em desvio de dinheiro público, o Brasil ocupa o penúltimo
lugar (139º) do ranking. A situação só é pior na Venezuela. Logo à frente do
Brasil estão Paraguai (138 º), Chade (137º) e Argentina (136º). A confiança em
relação aos políticos também é uma das mais baixas do mundo, no 138º lugar. Em
desperdício de gastos públicos o país fica na posição 133. É do Brasil o posto
da economia mais fechada, com o menor percentual de importações em relação ao
PIB. Os efeitos de tributos como incentivo para investir e trabalhar colocam o
país igualmente entre os piores.
A infraestrutura traz uma leve melhora em relação ao ano
passado, fruto dos investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de
2016. O segmento infraestrutura aérea subiu 18 posições. Na direção contrária,
o país perdeu sete posições no indicador de qualidade do fornecimento de
eletricidade. Fatores que medem a qualidade dos portos e das rodovias continuam
ruins, nas posições 120º e 121º, respectivamente.
No ambiente econômico a queda foi de 32 posições, devido,
basicamente, ao desequilíbrio fiscal. Nos indicadores de saúde e educação
primária, houve melhoras nos índices de malária, tuberculose e HIV/Aids. Na
educação, queda de seis posições na qualidade da educação e a redução de
matrículas no ensino primário (112º lugar). A baixa disponibilidade de crédito
levou o país a perder cinco posições no item desenvolvimento do mercado
financeiro.
Parte do relatório envolve uma pesquisa de opinião com 14
mil empresários. No Brasil, a carga tributária aparece entre os maiores
obstáculos à realização de negócios. A complexidade do sistema tributário, que
já teve papel mais destacado no capítulo dos obstáculos, caiu para a sexta
colocação.
As taxas de juro nem sequer aparecem entre os principais
problemas. Segundo Arruda, trata-se de um obstáculo recorrente, mas que na
pesquisa deste ano - realizada entre março e maio, quando a crise política e
institucional começava a se agravar - perdeu espaço para temas não
necessariamente novos, mas mais prementes. A corrupção, ao contrário, andava
fora da lista de problemas brasileiros, mas voltou e já se apresenta em
terceiro lugar.
A Suíça manteve o primeiro lugar do ranking, seguida por
Cingapura e Estados Unidos. Países da África Subsaariana (Guiné, Chade,
Mauritânia, Serra Leoa, Burundi e Malaui) mais Haiti, Venezuela e Myanmar
ocupam os últimos lugares do ranking.
País recua 9 posições
e fica em 70º em índice global de inovação
O Brasil caiu nove posições no Global Innovation Index,
ranking que mede a capacidade de inovação das economias. Está em 70º, 28
degraus atrás do Chile, primeiro país latino a aparecer no ranking elaborado
anualmente pela Cornell University, Insead e Organização Mundial de Propriedade
Industrial, a partir de pesquisas realizadas em 141 países.
O resultado poderia ser pior, se não fosse a produção acadêmica
e a capacidade do país de assimilar novas tecnologias e inovações - fator que
se reflete no pagamento de licenças e royalties, o que, na prática, é
fragilidade.
O Brasil não conseguiu ser bem-sucedido como o Paraguai no
registro de novas marcas, ou como o Uruguai, na participação on-line. Também
não teve um caso de destaque, como o das microfinanças, na Bolívia, ou a
facilitação do crédito, como na Colômbia, exemplos destacados no estudo.
Na avaliação do editor do Global Innovation Index, Soumitra
Dutta, falta confiança ao brasileiro no processo de transformar ideias em
negócios. O ambiente de negócios não favorece, faltam políticas de incentivo de
longo prazo e o país tem dificuldade em se integrar a cadeias globais, como no
setor de software.
"O governo precisa perceber que é possível aumentar o
investimento em P&D, enquanto implementa programas sociais. Não há nada de
contraditório nisso", afirma Dutta, especialista no impacto das novas
tecnologias no mundo dos negócios. Dutta estará hoje na Federação das
Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) para o lançamento da edição para América
Latina do estudo. Segundo ele, a inovação é o que transforma a realidade e para
chegar até ela, é preciso questionar o "status quo". A seguir, os
principais trechos da entrevista:
Valor: O que impede o Brasil de ser mais inovador?
Soumitra Dutta: O Brasil tem uma rica história de inovação
em termos tecnológicos e culturais e mostra força na capacidade de reconhecer,
assimilar e aplicar novas informações. É o 21º país no ranking de absorção de
conhecimento do Índice Global Innovation 2015, o 30º em pagamento de royalties
e licenças, e também está bem posicionado nas importações de alta tecnologia.
Mas o ambiente de negócios no Brasil pode ser melhorado, o que inclui a facilidade
de começar um negócio. Indivíduos e empresas precisam estar confiantes no
processo de transformar uma ideia em um negócio. E o governo precisa perceber
que é possível aumentar o investimento do setor privado em P&D, enquanto
implementa programas sociais. Não há nada de contraditório entre os dois.
Valor: O que países como o Chile, que está quase 30 posições à frente
do Brasil, fizeram que o Brasil também poderia fazer?
Dutta: O Chile encorajou empresários de todo o mundo a criar
uma rede local dentro das fronteiras do país, fornecendo capital para
investimento livre em startups. A iniciativa ajudou a promover um ambiente que
é atraente com a oportunidade e networking. O ambiente de negócios no Chile
está classificado globalmente na 54ª posição, mas o fluxo de entrada e saída
líquida de investimento direto está entre os 20 principais do mundo.
Valor: O que o Brasil precisa fazer para ser mais inovador?
Dutta: Primeiro, precisa investir em capital humano. As
universidades precisam de mais investimentos, não apenas para o desenvolvimento
de talentos locais, mas também para atrair talentos estrangeiros. Segundo,
precisa tornar a vida mais simples para as empresas. Os líderes de negócios são
empreendedores, mas o governo precisa capacitá-los para assumirem projetos mais
ousados. Rankings globais mostram que o ambiente de negócios pode ser
melhorado, o que inclui esforços para reduzir a corrupção, que torna a vida
mais difícil e imprevisível para as empresas brasileiras. Terceiro, fornecer
incentivos para o setor privado investir em P&D. Em termos de número de
joint ventures - ofertas de aliança estratégica em que as empresas locais foram
envolvidas -, o Brasil fica atrás de Chile e Colômbia.
Valor: Por que os resultados do Brasil na área acadêmica não se
refletem em negócios inovadores?
Dutta: Esses resultados estão intimamente associados à
academia e à pesquisa acadêmica. No entanto, mais deve ser feito para melhorar
a qualidade das universidades brasileiras. As universidades de pesquisa
americanas derivam seus pontos fortes a partir de muitos fatores, mas o mais
importante é que são dedicadas à promoção da investigação, competem
agressivamente para atrair talentos globais (professores e alunos), têm um
nível de independência de ação garantida pela alta presença de ex-alunos em
suas estruturas de governança e vínculos muito estreitos com a indústria e com
a prática.
Valor: Em que setores o Brasil se destaca em relação a outros países e
onde poderia se sair melhor?
Dutta: O Brasil se destaca em importações de alta
tecnologia. O sucesso da Embraer está em absorver conhecimento de vários
parceiros tecnológicos e inovar continuamente no processo de produção em parceria
com forte rede de parceiros globais. A China faz algo semelhante na indústria
ferroviária de alta velocidade. Já o setor de software é um exemplo de que o
Brasil poderia ter feito mais no estímulo à inovação. Empresas estrangeiras
dominaram o setor e as poucas empresas locais nunca ganharam escala e
experiência suficientes para competir com sucesso nos mercados globais. A Índia
é exemplo de país emergente que tem desenvolvido com sucesso uma indústria de
software competitiva em nível mundial.
Valor: Como ser inovador hoje em dia?
Dutta: Por definição, a inovação é disruptiva. Não existe
receita para promover a inovação, mas uma característica central é que é
preciso questionar o "status quo". O desenvolvimento de uma
competência na aplicação da tecnologia para resolver os desafios do Brasil
levará a soluções inovadoras, mas inovação leva tempo e exige parceria entre
negócios e governo. Os esforços para promover a inovação parecem ser mais
bem-sucedidos quando orientados a longo prazo.
Valor: Algumas inovações relatadas no estudo não são exatamente na área
de tecnologia da informação. Como o sr. define iniciativas inovadoras na
pesquisa?
Dutta: A definição de inovação tem se expandido nos últimos
anos. O Manual de Oslo da OCDE define a inovação como a implementação de um
produto novo ou significativamente melhorado [bem ou serviço], ou de um
processo, um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas
práticas de negócios, organização do local de trabalho ou relações externas. O
Global Innovation Index inclui inovação nos setores criativos, como cinema e
TV, dimensões culturais, tais como cozinha, e domínios on-line, como blogs.
Captura os múltiplos aspectos da nossa economia.