Brasil pode ter pesquisa de projeto futurístico

28/08/2017 07:00 - Valor Econômico

Uma das empresas na corrida para desenvolver o Hyperloop, o futurístico sistema de transporte em alta velocidade concebido pelo bilionário Elon Musk, presidente da Tesla, a Hyperloop Transportation Technologies (HTT) quer instalar um centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil.

Segundo Bibop Gresta, cofundador e presidente do conselho da HTT, o centro no Brasil fará estudos na área de transporte de cargas. O Estado de Minas Gerais já formalizou interesse pela iniciativa e outros dois governos mantêm conversas com a companhia. O objetivo é ter a unidade em funcionamento já no primeiro semestre de 2018. O investimento chegará a US$ 5 milhões. Os recursos virão da própria HTT e de parceiros.

"Pela falta de infraestrutura, o Brasil pode pular etapas e ir direto para uma tecnologia mais moderna", disse Gresta, durante recente visita ao país.

O conceito do Hyperloop foi apresentado por Elon Musk em 2012 como uma ideia aberta à contribuição de qualquer empresa ou desenvolvedor. A visão do bilionário era construir um meio de transporte que permita viagens à velocidade da luz. Para atingir esse objetivo, Musk propôs o uso de cápsulas que se movimentam dentro de tubos hermeticamente fechados usando uma tecnologia de indução magnética (fortes ímãs fazem com que a cápsula flutue dentro do tubo). Sem o atrito com o ar, ou com trilhos, a ideia é que o deslocamento exija um nível baixíssimo de energia, o que tornaria o sistema mais eficiente.

Com painéis solares instalados ao longo do percurso, a previsão é que seja possível, na prática, devolver energia à rede, gerando receita, disse Gresta. "O investimento se paga em um período de sete a oito anos", previu. Os tubos ficariam, preferencialmente, sob pilares, como em um metrô de superfície, para facilitar a construção. Até sete deles poderiam ser colocados juntos, ampliando a capacidade do sistema. Mas é possível a concepção de outros formatos. Um projeto na China propõe construir uma rodovia em cima dos tubos do Hyperloop.

De acordo com Gresta, apesar de parecer coisa de ficção científica, o Hyperloop é uma realidade. "Uma vez que receba a aprovação, eu posso começar a operar em 36 meses. As tecnologias já estão disponíveis", disse.

A agenda de Gresta no Brasil contou com um encontro com o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, e com empresas que podem vir a se juntar à iniciativa. De acordo com Quintella, a HTT pediu dados de passageiros e de cargas do Brasil, mas não se falou em parceria público-privada ou algo do tipo. "Pode ser uma revolução em alguns locais", disse o ministro, falando em tese sobre o assunto.

O modelo de negócios da HTT prevê que as companhias trabalhem em conjunto, como sócias no desenvolvimento do sistema, não apenas como contratante e fornecedor. De acordo com Gresta, a proposta da companhia não é competir com grupos como Siemens, GE e Alstom, especializados em construção pesada. A ideia é criar e licenciar tecnologias para que essas empresas possam executar os projetos.

Criada há quatro anos, a HTT levantou US$ 100 milhões e pretende captar outros US$ 250 milhões para financiar sua expansão. Por conta de seu modelo, a HTT tem só 30 funcionários diretos, mas conta com uma rede de mais de 800 pessoas que se dedicam ao projeto em troca de uma pequena participação em ações.

A HTT tem mantido conversas para instalação do Hyperloop nos Estados Unidos, na Espanha, na França, na Eslováquia e na Coreia. No fim de junho, o governo e algumas instituições de ensino do país asiático anunciaram o HyperTube Express, que promete conectar as cidades de Seul e Busan em 20 minutos, em vez das três horas habituais.

A expectativa é que na semana que vem Abu Dhabi revele um megaprojeto com a companhia. O interesse do país pode ser considerado uma "resposta" ao vizinho Dubai, que anunciou um projeto com a Hyperloop One, principal concorrente da HTT, no fim do ano passado. Até agora, nenhuma empresa envolvida no projeto apresentou um sistema em pleno funcionamento.

Para um especialista em transporte que prefere não ter seu nome revelado, a ideia do Hyperloop no Brasil parece interessante, mas difícil de ser executada. "Se temos dificuldades em fazer rodovia, ferrovia, porto, imagine essas cápsulas", disse. (Colaborou Fernanda Pires)