Brasileiro bebe 8,7 litros de álcool por ano, acima da média mundial

13/05/2014 09:30 - O Estado de SP

GENEBRA - O consumo de álcool no Brasil supera a média mundial e apresenta taxas superiores a mais de 140 países. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em um informe publicado nesta segunda-feira, 12, alertou que 3,3 milhões de mortes no mundo em 2012 (5,9% do total) foram causadas pelo uso excessivo do álcool. O volume é superior a todas as vítimas causadas pela aids e tuberculose.

Segundo a entidade, a bebida pode não só criar dependência, mas também leva ao desenvolvimento de outras 200 doenças.

A OMS avaliou dados de 194 países e chegou à conclusão de que o consumo médio mundial para pessoas acima de 15 anos é de 6,2 litros por ano. No caso do Brasil, os dados apontam que o consumo médio é de 8,7 litros por pessoa por ano. Esse volume caiu entre 2003 e 2010. Há dez anos, a taxa era de 9,8 litros por pessoa.

Hoje, entre os países avaliados, o Brasil ocupa a 53.ª posição entre os que mais consomem álcool. A liderança é da Bielorrússia, onde o consumo anual per capita chega a 17,5 litros, duas vezes o volume brasileiro. Mas as projeções até 2025 mostram que o consumo no Brasil voltará a aumentar, ultrapassando a marca de 10,1 litros por ano por pessoa. Em 1985, o índice não chegava a 4 litros.

No caso brasileiro, a diferença entre o consumo masculino e feminino é profunda. Entre os homens, a taxa chega a mais de 13 litros por ano. Para as mulheres, ela é de 4 litros. Cerca de 60% do consumo é de cerveja; apenas 4% é representado pelo vinho.

Mas o que mais preocupa a OMS são os casos de abusos no consumo. No mundo, a média é de 7,5% da população que experimentou em algum momento do ano consumo excessivo de álcool. No Brasil, porém, a taxa de pessoas que participam de episódios de consumo pesado é de 12,5%. Em um ranking de números de anos perdidos de vida saudável, o Brasil está entre os líderes.

Entre a população brasileira que bebe, um terço identificou que já abusou do álcool em alguma ocasião. A taxa é bem superior à média mundial, de 16%.

Sociedade. Os dados revelam que são as classes mais pobres que mais sofrem com o impacto social e de saúde do álcool. "Elas frequentemente carecem de cuidados à saúde de qualidade e são menos protegidas por redes funcionais de família e comunidade", disse Shekhar Saxena, diretor de saúde mental e abuso de substâncias da OMS.

No Brasil, consumo de álcool é visto como natural, diz professora

Maria Thereza Aquino, professora de Psiquiatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, afirma que dados da OMS são reflexo da cultura brasileira

RIO - O consumo de álcool sempre foi considerado natural na cultura Brasileira. A crítica é de Maria Thereza Aquino, professora de Psiquiatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). "Os dados da Organização Mundial da Saúde são reflexo disso", completa a docente, referindo-se ao estudo, divulgado nesta segunda-feira, 12, segundo o qual o brasileiro bebe em média 8,7 litros de álcool por ano, enquanto a média mundial é de 6,2 litros.

"A cachaça aparece em músicas de carnaval, e seu consumo é banalizado. Estar bêbado é visto como engraçado, não como sintoma de uma doença", diz. "Em países como a Itália também se bebe muito, mas é habitual fazer isso durante as refeições, o que ameniza o efeito do álcool. No Brasil a bebida é consumida sem comida."

Segundo a professora, hoje não há festa de 15 anos em que o filho adolescente não exija dos pais a liberação de bebidas alcoólicas. "Alguns bufês contratam um médico e uma ambulância, porque é muito comum os adolescentes convidados abusarem e entrarem em coma alcoólico", conta a professora.

"Na última década houve um elemento agravante: o uso de energéticos. Antes, a pessoa bebia e era anestesiada pelo álcool. Agora, com esses energéticos, a pessoa acaba bebendo mais. Na hora fica mais resistente, mas o resultado final, a médio e longo prazo, é mais grave, claro", alerta Maria Thereza.