25/03/2015 07:30 - Veja BH
No último domingo (15), as 24 000 pessoas que seguiram rumo
à Praça da Liberdade, vestidas de verde e amarelo, carregando bandeiras do
Brasil ou cartazes de protesto contra o governo federal, foram vigiadas por 84
câmeras de segurança instaladas dentro dos limites da Avenida do Contorno na
Região Centro-Sul. Qualquer um desses cidadãos poderia aparecer na tela dos
computadores do Centro Integrado de Comunicações Operacionais (Cicop), que
funciona no prédio do Comando-Geral da Polícia Militar, também na Praça da
Liberdade. Como se fossem os olhos de um policial, essas câmeras permitiram
desde a visão panorâmica da multidão até o zoom nítido em um único rosto a 150
metros de distância do equipamento. As imagens captadas por um aparelho se
conectavam às de outro, em um verdadeiro cerco virtual. Assim foi possível, por
exemplo, identificar um homem suspeito de ser assaltante e direcionar o caminho
mais rápido para que policiais chegassem até ele. E guiar bombeiros ao encontro
de um manifestante que passava mal. "O sistema de câmeras permite mais
agilidade e eficácia nas nossas ações”, afirma o major Cássio Nogueira, um dos
coordenadores do Cicop. O monitoramento permanente de imagens ocorre em quatro
batalhões da PM, bem como na sede do Comando-Geral. Segundo dados da Associação
Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), já
existem cerca de 180 000 desses equipamentos de vídeo em funcionamento na
Grande BH - pelo menos 1 300 deles instalados pelo poder público desde 2004,
quando o projeto Olho Vivo foi lançado na capital -, ajudando a solucionar
desde problemas de trânsito até crimes.
As imagens captadas por aparelhos como os usados pelos
policiais no último domingo para acompanhar os protestos são retransmitidas
para duas grandes centrais de monitoramento: o Centro Integrado de Comando e
Controle Regional (CICC), em funcionamento desde a Copa das Confederações, em
2013, na Cidade Administrativa; e o Centro de Operações da Prefeitura de Belo
Horizonte (COP-BH), inaugurado no ano passado em prédio construído na área da
BHTrans, no Buritis. O atual desafio, em ambos os endereços, é integrar o maior
número possível de câmeras de instituições públicas e privadas. Afinal, quanto
maior for o volume de imagens (e informações) disponíveis nas telas dessas
centrais, mais úteis elas serão para garantir a segurança da população, desatar
os nós do trânsito e até prevenir desastres ambientais, como o avanço de um
incêndio.
No CICC, que recebeu investimento de 2 milhões de reais e
hoje acompanha 1 300 câmeras na Grande BH, o foco do trabalho é o gerenciamento
de crises e grandes eventos, como uma manifestação ou uma partida de futebol.
Lá, as cadeiras são ocupadas por agentes do Corpo de Bombeiros, da Guarda
Municipal, da BHTrans e das polícias Militar, Civil, Rodoviária, Ferroviária
e Federal, entre outros órgãos públicos. Cada um deles é responsável por
fiscalizar uma área. Sempre que uma ocorrência de destaque é detectada, a
imagem é transmitida para um grande painel, onde pode ser visualizada por
todos. "A cada evento aprimoramos a estrutura tecnológica, o fluxo das
informações e a participação dos integrantes da equipe”, diz Vicente Salgueiro
Júnior, coordenador do centro.
Foco no trânsito
Construído para a Copa do Mundo, o Centro de Operações da
Prefeitura (COP-BH), no Buritis, reúne profissionais de diferentes
instituições, que monitoram imagens captadas por cerca de 1 000 câmeras,
voltadas ao vaivém dos carros e à operação do Move
Já no COP-BH, os operadores analisam imagens captadas por
cerca de 1 000 equipamentos de onze instituições parceiras. Ali, estão na mira
das câmeras sobretudo o trânsito e a operação do Move. O investimento para a construção
do prédio que abriga o COP-BH foi alto: 38 milhões de reais em recursos do PAC
da Mobilidade Urbana para a Copa do Mundo. "Estamos começando a conversar com
representantes do setor privado, como shoppings, escolas e hotéis, para
unificar mais sistemas e equipes”, afirma José Alves Candez Neto, diretor do
centro. Segundo ele, o ganho de produtividade - a redução do tempo para
resolver um problema - chega perto de 40%. No Carnaval, 4 070 policiais, 600
guardas municipais, 480 bombeiros, 280 agentes de trânsito, 151 fiscais do
município e 81 caminhões da Superintendência de Limpeza Urbana foram
coordenados a partir da central, onde estavam os chefes de cada um dos órgãos.
"Foi uma mobilização maior do que na Copa do Mundo”, diz Neto.
Embora nos dois centros de videomonitoramento os operadores
concentrem a atenção nas imagens captadas pelas câmeras instaladas pelo poder
público, os equipamentos particulares também têm sido de grande utilidade,
sobretudo no controle da violência. "A tecnologia serve tanto para inibir a
ação de criminosos quanto arquivar imagens que podem servir como provas”,
afirma Selma Migliori, presidente da Abese. Estatísticas da associação apontam
uma redução de até 85% nos indicadores de criminalidade em áreas que passaram a
ser monitoradas por câmeras de segurança, sejam elas públicas ou privadas.
Selma observa que os aparelhos estão cada vez mais
acessíveis para os cidadãos. Pela internet é possível encontrar ofertas de
modelos bem simples por menos de 1 000 reais. Um sistema básico - com quatro
câmeras, aparelho de transmissão e gravação das imagens (DVR), fonte, cabo e
instalação - com certificação da Abese custa, em média, 3 500 reais. Mas,
dependendo da tecnologia escolhida, o valor pode ser muito superior. "Há
câmeras que detectam com nitidez a placa de um veículo a mais de 100 metros de
distância e outras capazes de focar o rosto de uma pessoa na arquibancada
lotada de um estádio”, explica Adriano Broilo, gestor da área de sistemas de
câmeras da empresa de segurança Emive. Um circuito bem rústico auxiliou a
Polícia Civil a esclarecer um caso que ficou conhecido, no ano passado, como
Tribunal do Crime, no bairro Cabana. Em março, Wellington Gomes, de 34 anos,
assaltou o bar de Adriano Batista, de 36. As câmeras ajudaram o comerciante a
identificar o homem que entrou no estabelecimento se fingindo de cliente. Em
vez de procurar a polícia, Batista recorreu a traficantes de drogas da região,
que não toleravam nenhum crime por lá. Capturado pelo grupo e levado ao bar,
Gomes foi espancado e morto. Durante as investigações, o proprietário entregou
os vídeos à polícia, para comprovar o assalto, sem se lembrar de que o ato de
vingança também estava registrado. Todos os envolvidos, inclusive ele, foram
presos. "As imagens, conjugadas com outros fatores, contribuem para a apuração
de um crime e para a condenação do criminoso”, diz o delegado de homicídios
Adriano Mattos. "As pessoas podem não se dar conta, mas, hoje, dificilmente há
um lugar em que não somos filmados por câmeras públicas ou de um circuito
fechado.” Como quase tudo que acontece nas ruas de Beagá acaba registrado, não
faltam nos arquivos das centrais de monitoramento cenas de intimidade entre
casais mais assanhadinhos. Os operadores nem ficam mais constrangidos com os
flagrantes de paixão - só dão risada.
Nos bastidores
180 000
é o número de câmeras existentes na Grande BH, segundo a
Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese)
3 500
reais é o custo médio cobrado por empresas certificadas para
instalar um sistema básico de segurança, com quatro câmeras, DVR (para
trasmissão e gravação), fonte e cabo
1 300
câmeras instaladas pelo poder público são monitoradas no
Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICC)
1 000
câmeras estão conectadas ao Centro de Operações da
Prefeitura de Belo Horizonte (COP-BH)
187
é a quantidade de câmeras do projeto Olho Vivo em
funcionamento em Belo Horizonte
40
milhões de reaisforam investidos pela prefeitura e pelo
governo de Minas na criação das duas principais centrais de monitoramento de
imagens na capital, o CICC e o COP-BH
Fontes: Abese, Polícia Militar, BHTrans, Secretaria de Estado de Defesa
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