Técnicos da Prefeitura estão debruçados sobre um projeto
ousado que promete a requalificação completa do degradado Viaduto Miguel
Vicente Cury. Os debates sobre como dotar Campinas de um equipamento urbano
funcional, seguro e organizado começaram há 45 dias. E, já nas próximas
semanas, os secretários devem apresentar relatórios definitivos sobre as
intervenções necessárias para a revitalização do espaço. O plano prevê obras
estruturais complexas, ordenação do tráfego de veículos e da ocupação do solo.
Esboços do projeto estão na mesa de Mário Gadioli,
presidente da Centrais de Abastecimento S.A. (Ceasa-Campinas). A empresa
centraliza os encontros por uma razão bem simples. O governo municipal pretende
fortalecer, no Centro, a distribuição de produtos hortifrutigranjeiros. Já
existe sob o viaduto uma alameda de bancas, administradas por 22
permissionários da empresa. A intenção, no entanto, é aprimorar e ampliar o
atendimento ao consumidor. Além da venda de verduras, frutas e legumes, o
espaço deverá concentrar a prestação de diversos serviços públicos essenciais.
Há um esforço para a "humanização” do Terminal Central.
Hoje, os boxes são tomados só por quem embarca ou desembarca dos ônibus. A
ideia é levar para o terminal postos policiais, escritórios das empresas
fornecedoras de água e energia, e guichês da Administração.
Ainda não se sabe quando será inaugurado o "terminal
humanizado” nem se arriscam palpites sobre os investimentos necessários.
Gadioli afirma que a transformação do perfil de frequentadores do terminal
exige primeiro as readequações físicas. Há uma lista de intervenções pontuais,
urgentes, algumas às quais o Correio teve acesso e que serão detalhadas por
cada pasta envolvida na remodelação.
A Assistência Social vai remover do viaduto a Casa da
Cidadania, e impedir que as calçadas e canteiros continuem ocupados por
moradores de rua. A Secretaria de Trabalho e Renda vai trabalhar na organização
e na regularização do comércio informal, e no cadastramento e encaminhamento de
pedintes e mendicantes.
À Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec),
caberá a readequação completa do sistema viário do entorno, com mudanças no
trânsito da Avenida Prefeito José Nicolau Ludgero Maselli (marginal à linha
férrea) e a instalação do acesso para um amplo estacionamento de veículos que,
segundo fontes ouvidas pelo jornal, deve tomar a ampla área onde, até o governo
anterior, existiam outras 33 bancas comerciais.
A instalação da Casa da Cidadania nas imediações — e a
presença de moradores de rua espalhados pelo chão — inviabilizaram o
funcionamento daquelas bancas. O consumidor se afastou, os boxes foram lacrados
e acabaram demolidos em maio de 2011.
A Prefeitura também prevê a instalação de lixeiras
subterrâneas e acabar com o visual agressivo dos coletores de lixo espalhados
na Rua Cônego Cipião.
Modelo esgotado
Atraindo um público diferenciado, diz o presidente da
Ceasa-Campinas, o comércio nas áreas anexas ao terminal será modernizado e o
amontoado de bancas, transformado num polo seguro e organizado para compras. "O
fato é que Campinas não pode esperar mais. O modelo atual está esgotado”,
afirma Gadioli.
O objetivo das intervenções é afastar do entorno a
prostituição e o tráfico de drogas, dramas que historicamente colaboraram com a
degradação completa do cenário local.
Entre os permissionários instalados na alameda sob o
viaduto, o entusiasmo pelo início das obras é grande. Valdecir Julião, um dos
permissionários pioneiros, está no Cury desde 1978 e já presidiu a associação
local de comerciantes. "Nos garantem que, até outubro, as obras estarão
executadas”, fala, esperançoso.
Mas ninguém da Prefeitura confirma o cronograma. Para Gadioli, a proposta é executar todas as intervenções elencadas aos poucos, ponto a ponto, conforme houver recursos disponíveis nos caixas públicos. "Precisa sair do papel uma reforma ampla, completa, definitiva”, afirma.