Carro autônomo está logo ali - Pedro Doria

02/06/2018 09:54 - O Globo

Pode não parecer — mas está perto. Muito perto. E há uma corrida em curso na indústria automobilística. Quem vai colocar nas ruas primeiro um carro autônomo de nível 4? Ou seja, que dirige por conta própria e o motorista pode se distrair à vontade. É bem possível que ao menos um seja lançado em 2020. Provavelmente os primeiros modelos serão de alto luxo.

A grande revolução, porém, virá no momento seguinte. Carro como serviço. Se hoje entramos na loja de uma operadora de celular e compramos um plano de tantos minutos de voz e alguns gigas para download, vai ter gente na praça oferecendo esse modelo para carros. Em troca de poucas centenas de reais, 60 quilômetros por mês. Saque o aplicativo do bolso, preencha o endereço de destino, chame um carro sem motorista, entre. Quando chegar à outra ponta, o trecho rodado é abatido da franquia. Sem IPVA, seguro ou a parcela mensal do novo carro. Nunca mais precisar de vaga. O fim dos flanelinhas.

Empresas como a Uber não fecham as contas no azul. Nenhuma delas. Seu modelo de negócios mira o futuro: aquele momento no qual os motoristas serão dispensáveis. No Vale do Silício, onde softwares de autonomia são desenhados, há convicção de que nuns vinte anos ninguém mais terá carros. Em trinta anos, provavelmente será proibido dirigir. Gente no volante é perigoso demais.

Na indústria automobilística é um pouco diferente. Há empresas, mais tradicionalistas, que apostam no modelo da posse. Ainda haverá quem deseje ter seu carro e, quem sabe, governos permitirão licenças especiais de direção. Difíceis de obter como portes de arma. Não são todas as empresas que pensam assim. Se o digital vira de cabeça para baixo inúmeras indústrias, no caso da de carros o problema por resolver é este: sair dum ramo que fabrica centenas de milhares de veículos por mês para venda ao consumidor final e entrar em outro, que vende menos unidades para empresas, as quais, por sua vez, operam o serviço de transporte urbano pessoal.

O Brasil tem uma tradição: adota rápido novas tecnologias. Da internet aos smartphones e redes sociais. Quem apostar que o país entrará tarde no carro como serviço deve errar. Está perto. Cinco. Dez anos.