Ciclovia: Crea critica modelo de contratação de obras públicas

28/04/2016 07:54 - O Globo

A comissão do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) que investigará as causas da queda da ciclovia Tim Maia começou a trabalhar ontem, mas, pelo menos sobre um ponto, o presidente do Crea, Reynaldo Barros, não tem dúvida: a realização de projeto executivo pelo mesmo consórcio que executou a obra (Contemat-Concrejato), embora ancorada em legislação que ele considera “política”, agride a um princípio básico da engenharia:

— Quem projeta não executa, quem executa não fiscaliza. Nós entendemos que o modelo de contratação de obras públicas no Brasil está equivocado e acaba levando a este tipo de situação — afirmou Reynaldo.

Outro ponto que também chama a atenção é o fato de o projeto executivo ter sido registrado em dezembro de 2014. No entanto, as obras da ciclovia começaram seis meses antes, em junho de 2014:

— Esta é uma prática no Brasil, que não existe lá fora. No Japão, nos Estados Unidos, em muitos outros países, em uma obra de cinco anos, três deles são gastos no projeto executivo. Isso evita erros, gastos desnecessários e garante uma execução de obra mais segura. Aqui no Brasil, o projeto executivo é feito praticamente junto da obra, por etapa, o que é muito prejudicial e aumenta os riscos, os aditivos e possibilita até as fraudes — explicou Reynaldo Barros.

Ontem, após a instalação da comissão, a comissão ouviu representantes da prefeitura e um dos donos do consórcio.

Geólogo que fez vistoria em ciclovia presta depoimento

Fiscal de obra diz que pista tinha condições de ser inaugurada

O geólogo Elcio Romão Ribeiro prestou depoimento ontem na 15ª DP (Gávea), que investiga se houve homicídio culposo (quando não há intenção de matar) na queda da Ciclovia Tim Maia. Ele, que integra a comissão designada pela GeoRio para avaliar a obra, passou mais de três horas na delegacia. Ao sair, ele confirmou que vistoriou a construção e garantiu que havia condições para a inauguração da pista, ocorrida em 18 de janeiro.

Romão foi o primeiro a prestar depoimento à polícia sobre o caso. Os agentes periciaram o local logo após o acidente. Nos próximos dias, investigadores pretendem ouvir outros profissionais envolvidos com o projeto e a execução da obra, além de testemunhas que presenciaram o desabamento.

LAUDO SAI EM 30 DIAS

A Prefeitura do Rio contratou a Coppe/UFRJ e o Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) para realizarem uma perícia independente sobre os aspectos estruturais e as variáveis marítimas em toda a ciclovia da Avenida Niemeyer e, com isso, investigar as causas do acidente. A estimativa é que o laudo conclusivo saia em até 30 dias. Os trabalhos foram iniciados na sexta-feira passada, e a GeoRio disponibilizou todo o material técnico do projeto executado. Caso sejam comprovadas falhas de projeto ou execução, os técnicos serão responsabilizados . Enquanto os laudos não forem finalizados, a ciclovia permanece interditada em boa parte do trajeto.