Cidade inteligente depende de total integração

07/03/2016 09:00 - O Estado de SP

Mariana Lima

ESPECIAL PARA O ESTADO

Imagine a seguinte situação: um acidente entre carros acontece num cruzamento importante e há feridos. Segundos depois, ambulância, guardas de trânsito e a polícia chegam ao local sem ninguém ter feito uma única ligação. Improvável? Não nas cidades inteligentes, municípios que usam tecnologia para facilitar a vida de seus habitantes.

A pequena cidade de Santander, na Espanha, que conta apenas com 180 mil habitantes, é um bom exemplo de cidade inteligente. Lá, o chão, as luminárias, os ônibus e as lixeiras públicas possuem sensores que identificam o nível de poluição do ar, vagas livres em estaciona mentos, lâmpadas danificadas ou ainda quais lixeiras precisam ser esvaziadas. Todas as informações são compartilhadas em tempo real e de forma automática com o órgão municipal responsável.

No Brasil, alguns exemplos começam a surgir por meio de parcerias entre governo e empresas de tecnologia. Em São Paulo, existem semáforos controlados à distância e pontos de ônibus com painéis que mostram a estimativa de chegada dos coletivos nas principais vias da cidade. Num projeto mais complexo, o centro de operações fornecido pela IBM ao Rio de Janeiro usa tecnologia para identificar problemas como áreas com congestionamento de trânsito e riscos de desastres naturais.

O executivo de soluções para governo e do programa Smarter Cities da IBM Brasil, Antônio Carlos Dias, afirma que essas parcerias são uma tendência crescente. “As empresas estão inseridas nas cidades e, quando conseguimos trabalhar de uma maneira mais eficiente, temos ganhos muito altos. Um exemplo claro é a modernização do trânsito e o nosso ganho com logística”, ressalta Dias.

O poder público tende a ganhar com os novos projetos. Uma parceria firmada entre universidades brasileiras e europeias quer transformar o Teatro Amazonas, em Manaus, num ponto turístico inteligente e econômico. “Vamos preparar o teatro para que lâmpadas desliguem onde não tem ninguém, além de definir formas de diminuir o consumo de ar condicionado. Criaremos algoritmos para prever onde há maior gasto de energia e então explicar ao governo do Estado como é possível economizar”, explica Eduardo Souto, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e responsável pelo projeto.

Integração. Para dois pesquisadores de engenharia de computação e sistemas digitais da Universidade de São Paulo (USP), no entanto, o Brasil ainda está bem longe do modelo ideal da cidade espanhola.

“O grande equívoco é chamar de ‘cidade inteligente’ uma cidade que tem algumas ações inteligentes isoladas. Para ser considerada assim é necessário que essas ações sejam completamente integradas e com troca de informações, o que não ocorre hoje em nenhuma cidade brasileira”, enfatiza a pesquisadora e professora convidada da instituição, Renata Marè.

O pesquisador e professor convidado da USP, Osvaldo Gogliano, acredita que o uso do termo como marketing tende a atrapalhar a transformação de cidades inteligentes. “Vemos muitas empresas e políticos falando de implementação de cidades inteligentes através dos seus feitos, mas ainda subimos o primeiro degrau de uma escada longa. Não é verdade que já temos cidades inteligentes aqui. O Brasil ainda tem muito a evoluir no assunto”, conclui.

Informações. Uma característica importante das cidades conectadas é o tratamento das informações. Não basta instalar câmeras e sensores. É necessário processar esses dados e conseguir interpretá-los. Eles podem ser combinados a outras fontes de informação, como publicações das pessoas nas redes sociais.

O poder público pode criar um canal direto de comunicação com a população por meio do smartphone, capaz de registrar os problemas da cidade com fotos, vídeos e localização geográfica.

Um dos desafios das cidades inteligentes é encontrar modelos sustentáveis de financiamento, que permitam não somente a instalação dos sistemas, mas também o pagamento dos custos de operação e de manutenção.