26/03/2017 08:50 - A Tarde - BA
O que chamam hoje de cidade inteligente (smart city) é um projeto de cidade compacta, predominantemente vertical, com a mobilidade resolvida em termos de transporte de massa, eliminação de veículos a motor de combustão, minimização do lixo e muito verde nos logradouros para penetração das águas pluviais que realimentarão os lençóis subterrâneos; fachadas e coberturas prediais desenhadas para transformar vento e sol em energia limpa que será usada nos próprios prédios e na iluminação pública, essas coisas... O objetivo é perseguir a auto sustentabilidade: não falam em Arte ou em programas culturais, como se somente a infraestrutura física bastasse.
Mas a cidade deve ser pensada como uma totalidade. A propaganda, usada para nos obrigar a consumir produtos que nem sabemos se são realmente necessários ou saudáveis, deveria dar sua contribuição criativa para fortalecer a consciência coletiva da preservação ambiental, do respeito à vida, dos exercícios físicos como prevenção a doenças cardiorrespiratórias (do andar de bike ou a pé), da alimentação saudável, do amor à arte e à cultura em geral... compensando o mal que fizeram aos brasileiros criando ídolos de barro e deseducando-os.
Temos que atualizar sempre o conhecimento sobre a cidade e transformá-la aos poucos, cada bairro, cada logradouro e cada edificação de per si. Põe-se um trem onde podia ter um VLT e projeta-se um VLT onde já trilha um trem! Quase nada tínhamos de transporte coletivo e de repente teremos metrô, veículo leve sobre trilhos e BRT! O colega arquiteto Lourenço Valadares propôs um sistema de mobilidade em diferentes níveis, adaptado à geomorfologia e integrando o metrô com vias de pedestres e bicicletas protegidas de sol e chuva, não se limitando à Paralela mas tratando-a como Parque Linear diretamente acessado pelo nível das duas vias de pedestres e ciclistas enquanto na terceira via (TRIVIA) se desloca o trem, que teria estações engastadas nas encostas. Coisa inteligente, não colou!
Em tempo: coordenado por André Fraga, um dos jovens secretários municipais (SCIS), aconteceu o “ IX Encontro dos Secretários de Meio Ambiente das Capitais Brasileiras - CB 27” (dias 13 e 14): o prefeito ACM Neto fez um pronunciamento demonstrando vontade de se aproximar dos desejos do habitante; mas ficaram provados também fatos que não me canso de criticar em seminários: a cisão entre técnicos e habitantes e a sua monótona homogeneidade. A busca de uma linguagem oral e gráfica mais apropriada, surpreendente, deveria ser preocupação constante nesses elogiáveis eventos, sob pena das pessoas mergulharem de forma polissêmica nos dispositivos eletrônicos pessoais e se desconectarem da exposição. Ocorreu com frequência.
Lourenço Mueller - Arquiteto e urbanista