Cidades que funcionam tornam as pessoas mais felizes - Claudio Bernardes

05/11/2018 07:34 - Folha de SP

Neste mundo que se torna mais urbano a cada dia, daqui a 30 anos mais quatro bilhões de pessoas deverão viver nas cidades. Com esse cenário, entender como elas funcionam e como podemos estruturá-las para funcionar melhor é fundamental.

Primeiramente, é necessário compreender o mecanismo de estruturação do funcionamento das cidades, que é constituído, basicamente, por dois sistemas.

Um deles, que podemos chamar de “software”, envolve o sistema social, composto por pessoas, valores, tecnologia, conhecimento e modelos de organização comunitária. O outro, definido como "hardware", representa o ecossistema físico, que é formado por plantas, solo, ar, água, animais e estruturas construídas pelo homem.

A interação das atividades humanas com esses dois sistemas é o mecanismo por meio do qual as cidades funcionam.

Mas, por que as cidades devem funcionar? Basicamente, elas são estruturadas para pessoas, e podemos dizer que elas devem funcionar para tornar essas pessoas felizes. Podemos dizer, também, que a felicidade existe quando há qualidade de vida.

Portanto, o funcionamento das cidades tem uma relação direta com a qualidade de vida da população. E a qualidade de vida está relacionada com a dinâmica de interação das pessoas com a ambiência urbana e social. Se tivermos esses conceitos em mente, podemos inferir como devem ser as cidades que funcionam.

Primeiro, elas devem ser socialmente inclusivas. Para tanto, precisam centrar as ações nas pessoas, eliminando quaisquer formas de segregação e fomentado a cultura da solidariedade.

Acessibilidade e equidade são atributos indispensáveis. Os serviços públicos devem ser de qualidade e para todos, com especial atenção a idosos, deficientes e grupos em situação especial.

Ser economicamente vibrante é outra característica de bom funcionamento das cidades. O desenvolvimento econômico deve ser fomentado desde as microempresas até as grandes corporações. Para isso, a padronização e simplificação de licenciamentos, registros, processos de tributação e relações trabalhistas é muito importante.

Mobilidade é outra questão central. As pessoas devem se movimentar pelo tecido urbano com rapidez, conforto e segurança. Os sistemas de transporte devem ser adequados à escala da cidade e das suas necessidades. A ampla integração entre os modais de transporte é algo eficiente e desejável.

O desenvolvimento de um planejamento territorial inteligente e coesivo pode proporcionar a distribuição espacial adequada da atividade econômica e melhorar a mobilidade, ao mesmo tempo em que facilita a geração de empregos e aumenta a atratividade de investimentos.

Para funcionar bem, as cidades devem ser regenerativas e resilientes, e estar preparadas para absorver e se recuperar com celeridade de bruscas mudanças naturais, econômicas ou sociais.

As cidades devem ser seguras e saudáveis. Além de reconhecer a importância da segurança pessoal, patrimonial e digital, é necessário reconhecer a saúde da população como um dos objetivos do processo de planejamento urbano.

As cidades devem aprender, se reinventar e inovar. Os conceitos estarão sempre em constante transformação, e o aprendizado contínuo deve ser refletido em modelos flexíveis de planejamento urbano.

Espaços públicos atrativos, confortáveis e funcionais são característicos de cidades bem estruturadas. São áreas projetadas para a interação social e expressão cultural, que promovem a diversidade social e devem ser livres de barreiras físicas, legais e arquitetônicas.

Enfim, existem muitas ações diferenciadas e grande diversidade de especificidades locais. Mas uma coisa é certa, as cidades que funcionam conseguem tornar as pessoas mais felizes.

Claudio Bernardes - Engenheiro civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.