Como a população se desloca - Editorial

06/07/2019 09:33 - O Estado de SP

A vida na metrópole não piorou no ritmo que se imaginava há dez anos, pelo menos quando examinada com base nos deslocamentos diários de sua população. Em alguns aspectos, parece ter melhorado. Gasta-se, em média, menos tempo nos deslocamentos pela região, qualquer que seja o meio utilizado. O aumento de 8,7% no número de viagens diárias na Região Metropolitana de São Paulo entre 2007 e 2017 (passou de 38,1 milhões para 41,4 milhões) foi maior que o da população, que cresceu 6,7% (passou de 19,5 milhões para 20,8 milhões de pessoas), mas o tempo médio por deslocamento diminuiu em todas as modalidades, motorizadas ou não. Em várias delas, ainda se perde muito tempo – o tempo médio das viagens diárias por transporte coletivo caiu de 67 para 60 minutos –, mas sobra um pouco mais para outras atividades.

Este é um dos aspectos das mudanças nos deslocamentos na Grande São Paulo aferidas pela Pesquisa Origem Destino 2017, amplo estudo realizado pela Companhia do Metrô a cada dez anos, para saber para onde, por que motivo, em que horários e de que forma – por transporte coletivo, por automóvel particular, por moto, a pé ou por bicicleta, entre outras modalidades – os moradores da região metropolitana se locomovem. É uma radiografia da mobilidade na capital e na Grande São, bem como das cidades que compõem seu entorno, além do fluxo de veículos e de pessoas que vêm de outras regiões para a metrópole. Ela é essencial para o Metrô elaborar seus planos e para órgãos públicos ligados a transporte e empresas privadas programarem investimentos.

Há várias mudanças nos hábitos da população que chamam a atenção. Curiosamente, famílias de menor renda passaram a andar mais de carro e de moto e as de renda mais alta passaram a utilizar mais o metrô. A pesquisa não aponta as razões da mudança, mas especialistas apontam para a descoordenação de políticas de responsabilidade das várias instâncias de governo. O metrô e o trem metropolitano são de responsabilidade do governo estadual, mas o controle do transporte por ônibus e do sistema viário urbano é feito pelas prefeituras.

A recente expansão da rede do metrô para áreas habitadas por famílias de renda mais alta pode ter contribuído para o aumento da renda média dos usuários desse meio de transporte. De outra parte, a carência de transporte público eficiente em regiões afastadas e habitadas por famílias de menor renda pode ter levado sua população a utilizar mais meios próprios de transporte, como automóvel ou moto.

Parece haver contradição entre o aumento de 10% nas viagens a trabalho entre 2007 e 2017 e o número de pessoas empregadas, que evoluiu apenas 3,3% (entre 2012 e 2017, quando o Metrô fez uma pesquisa intermediária, o emprego diminuiu 4% na Grande São Paulo). O que explica a discrepância é o fato de o número de pessoas ocupadas que não têm local fixo de trabalho ter crescido mais do que o total de trabalhadores ocupados. Essas pessoas vivem de pequenos serviços, que prestam em diferentes locais, daí o aumento do número de deslocamentos a trabalho.

Diminuiu o número de deslocamentos por ônibus, mas cresceu o de viagens por metrô e por trem. Isso mostra a preferência da população pelo transporte por trilho, quando essa modalidade está disponível. Em geral é um meio mais rápido e eficiente. A persistência de elevado número de deslocamentos a pé (quase um terço do total), de sua parte, mostra a importância dos programas municipais de conservação das calçadas. A mudança de horário de pico dos deslocamentos (agora às 13 horas, mas predominantemente a pé, em geral entre o local de trabalho e o de refeição) e o crescimento do uso dos aplicativos para transporte por automóvel são outros sinais das mudanças de hábitos da população.

O que não mudou é a necessidade de planejamento de alcance metropolitano, por meio da articulação entre as administrações municipais, de modo a mobilizar competência técnica e recursos para oferecer melhores condições para os deslocamentos da população.