Crise na engenharia brasileira - Mauro Viegas Filho

21/03/2016 08:26 - O Globo

MAURO VIEGAS FILHO

É dramática a situação das empresas de engenharia de estudos e projetos, parte de uma inteligência técnica que vem se degradando ao longo da última década no Brasil. Apesar do crescimento de vários setores de infraestrutura e petróleo nos últimos anos, falta uma visão de longo prazo, que garanta lugar de destaque ao planejamento de um crescimento ordenado e responsável dos investimentos necessários ao Brasil. O país tem uma defasagem histórica na capacidade de escoar as suas riquezas, situação que gera o lamentável custo Brasil.

É evidente a importância de dar atenção e prioridade a esse setor, que representa números irrisórios na macroeconomia, mas recebe dos países mais desenvolvidos a atenção e o apoio que levam essas nações a se destacarem na inovação e no desenvolvimento de tecnologias e capacitações estratégicas.

A falta de atenção e de atitudes de correção de rumo tem levado a erros e desperdícios. Falta determinação de que não é possível ter bons projetos de engenharia sem os necessários estudos de viabilidade consistentes e norteados pela boa técnica, o que traz maior economia para o país.

A lista de exemplos de erros dessa natureza, que levam a um desperdício de recursos públicos, é enorme. Interessante é que não há quem não concorde com a lucidez de seguir a recomendação da boa técnica, na ordem natural de planejar, estudar a viabilidade, desenvolver bons projetos, em tempo adequado para então executar bons empreendimentos.

Essa é a nossa luta, que esbarra nas autoridades apressadas em viabilizar empreendimentos de grande porte rapidamente. Os resultados são conhecidos por todos, com destaque para o RDCi — que resvala para a irresponsabilidade grave ao contratar obras sem projetos completos de engenharia. Novos aperfeiçoamentos na legislação, tendo como ponto de partida a lei 8.666/ 93, de licitações, podem impedir essa prática desastrada de contratações sem planejamento.

Temos que continuar a sensibilizar a opinião pública, os formadores de opinião e autoridades, mesmo nesse momento em que o país vive sua pior crise da história contemporânea. E é justamente nesse momento que nossa associação de classe está comemorando seus 50 anos de fundação. A perspectiva é totalmente sombria em vista de não haver um programa de investimentos em projetos, visando à melhoria dos resultados dos empreendimentos, como também um melhor aproveitamento dos talentos de nossos profissionais.

Vamos dar as mãos para reverter esse quadro e conseguir criar um programa de aceleração do desenvolvimento de projetos, o que já seria um grande passo para avançarmos nos próximos dois anos.

Mauro Viegas Filho é presidente da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia