Custos dos congestionamentos pesam mais no bolso do usuário do transporte público

22/03/2016 09:00 - Blog Ponto de ônibus / Mobilidade Sampa

ADAMO BAZANI

Se as manifestações de junho de 2013 tiveram algum efeito positivo, foi o de poder ampliar o debate sobre o financiamento do transporte público para o barateamento aos passageiros e ao mesmo tempo com ganho de qualidade nos serviços.

Uma discussão relativamente antiga e bem anterior às manifestações é sobre o transporte individual ajudar a financiar os meios coletivos de deslocamentos. Seria uma forma de democratizar o espaço nas cidades e dar justiça para o custeio dos descolamentos das viagens nas cidades. O transporte por carro e motos ocupa mais espaço urbano e, não só proporcionalmente, mas em números absolutos, transporta menos pessoas.

Uma das alternativas que ganha mais força é a criação Cide Municipal – Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico Municipal. A ideia está contemplada na Proposta de Emenda Constitucional – PEC 179-A, de 2007, da Câmara dos Deputados.

Nesta segunda-feira, 21 de março de 2016, gestores públicos e especialistas realizaram um debate sobre o tema na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Em linhas gerais, a PEC prevê um acréscimo de 10% nos preços dos combustíveis para o financiamento do transporte público. Como retorno, o preço das passagens cairia em torno de 30%, o que poderia tornar o transporte coletivo mais atraente com uma fonte de custeio para garantir os investimentos necessários para os sistemas receberem esta demanda maior.

Hoje, com a baixa qualidade da maior parte dos sistemas, nem tarifas menores convenceriam uma migração significativa advinda do transporte individual.

Em nota da Assembleia, o secretário de Transportes de Campinas e integrante da Frente Nacional de Prefeitos FNP, Carlos José Barreiro, disse que as políticas de incentivo ao transporte individual e os congestionamentos hoje pesam majoritariamente no bolso de quem usa transporte público.

Os automóveis consomem 78% do espaço público e transportam 33% da demanda de deslocamentos. Quanto mais carros nas ruas, enfatizou, maior o valor da tarifa, uma vez que o congestionamento traz um custo adicional pois compromete a eficiência do sistema público de transporte urbano. Em algumas cidades europeias, como Paris, parte significativa das tarifas provém de outras receitas que não a tarifa ou o subsídio público.”

O custo do congestionamento para quem usa o transporte coletivo  chega a ser três vez maior, proporcionalmente, que para quem está no carro.

Na prática, a proposta prevê a inclusão de um artigo na Constituição Federal que permite os municípios e o Distrito Federal instituir a contribuição, desde que os valores sejam exclusivamente para custeio e a melhoria do transporte público. O imposto seria sobre a venda a varejo dos combustíveis líquidos derivados de petróleo, gás natural e álcool. Cidades e o Distrito Federal também podem celebrar convênios com a União os estados para os serviços de transporte público metropolitano ou suburbano interestadual.  Formas de fiscalização da arrecadação e estrutura de cobrança dos poderes federal e estaduais podem ser aproveitadas pelos municípios.

A cidade de São Paulo vai usar neste ano em torno de R$ 2 bilhões para subsidiar gratuidades e integrações. De acordo com o secretário municipal de transportes, Jilmar Tatto, que esteve no encontro, o valor é alto, mas é insuficiente para baratear o transporte público, só vai bastar mesmo para cobrir parte dos benefícios. Ele lembrou que em 1988 a Cide Municipal estava prevista na Constituição só que foi retirada pelo Governo Federal.

Um acréscimo de R$ 0,10 no preço da gasolina, álcool ou demais combustíveis reduziria em cerca de R$ 0,30 o valor da tarifa de ônibus. “Há, ainda, a necessidade de ser feito uma ação metropolitana para definir linhas, tarifas e planejar o transporte como um todo”, disse. O secretário municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, disse que o prefeito Fernando Haddad é grande entusiasta da proposta e lembrou que a Cide municipal chegou a ser criada na Constituição de 1988, mas sofreu veto por parte da Presidência da República. A cidade, segundo o secretário, não tem dinheiro para subsidiar o transporte público, o que acarreta ou em sua degradação ou na retirada de recursos de outras áreas também fundamentais. – segue a nota.

Representando o setor privado, o presidente da NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Otávio Vieira da Cunha Filho, disse que queda na demanda dos transportes coletivos é uma bola de neve, já que aumenta os congestionamentos nas cidades,  umenta os custos de operação, o que aumenta as tarifas, o que faz com que mais pessoas migrem para o transporte individual, o que aumenta ainda mais o custo que aumenta a tarifa…

Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes (NTU), destacou a redução de 30% na demanda de transporte público desde 1998 em decorrência de políticas de incentivo ao transporte individual. “Hoje, a aflição dos prefeitos é realinhar o custo dos transportes. Em outros países, os que usam e os que não usam pagam pelo transporte público”, concluiu.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Mobilidade Sampa

Assembleia Legislativa debate criação da Cide municipal

Evento discutiu alteração na PEC 179, visando diminuir o custo da tarifa do transporte público com a receita da venda de combustíveis

Integrantes de vários segmentos ligados à Mobilidade participaram do seminário Alternativas de Financiamento para o Transporte Público com a Destinação de Recursos da Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide). O evento ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo, na manhã desta segunda-feira, dia 21, e foi promovido pela Comissão Especial da Câmara dos deputados que analisa o tema.

No encontro, foi discutida a alteração da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 179) que permitiria aos estados e municípios regularem a Cide nos seus respectivos âmbitos. Assim, um percentual da venda de combustíveis seria utilizado para o custeio da tarifa do transporte coletivo.

O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, representando o prefeito Fernando Haddad, deu como exemplo que um acréscimo de R$ 0,10 no preço da gasolina, álcool ou demais combustíveis reduziria em cerca de R$ 0,30 o valor da tarifa de ônibus. “Há, ainda, a necessidade de ser feito uma ação metropolitana para definir linhas, tarifas e planejar o transporte como um todo”, disse.

Também participaram do Seminário os deputados federais Nilto Tatto e André Fufuca; os secretários municipais de Transportes de Campinas e Guarulhos, Carlos José Barreiro e Atílio Pereira, respectivamente; o presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense; o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (ANTU), Otávio Cunha; o deputado estadual Ênio Tatto e o vereador José Police Netto, representante da Comissão de Transportes da Câmara Municipal de São Paulo.