Desemprego reduz uso de transporte público em Manaus

15/05/2016 09:27 - Diário do Amazonas

Manaus - O alto índice de desemprego gerado pela crise econômica reduziu em 4,5% o uso do transporte público, em Manaus, no primeiro trimestre, deste ano, segundo dados da Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU). Nos primeiros três meses de 2016, 2,2 milhões de passagens – incluindo vale-transporte, passe estudantil e integração temporal, entre outros - deixaram de ser utilizadas pelos usuários, no comparativo com o mesmo período do ano anterior.   

Segundo o superintendente da SMTU, Pedro Carvalho, com o desemprego, as pessoas que antes recebiam vale-transporte do empregador para ir ao trabalho e retornar para casa, deixaram de andar de ônibus. “A causa da queda no número de passagens é o aumento do desemprego, e não a migração para outros modais, tanto que caiu o número de passageiros dos táxis, dos mototaxistas e dos ônibus alternativos”, disse.

Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), divulgados no último dia 20, nos três primeiros meses deste ano, 11,2 mil postos de trabalho já foram fechados, no Amazonas. A indústria, com 4,4 mil colocações extintas, ocupou o primeiro lugar entre os segmentos que mais demitiram, seguida pelo comércio (3.145),  serviços (1.910) e  construção civil (1.015).

Enquanto de janeiro a março de 2015, 49.083.882 viagens foram realizadas, no primeiro trimestre deste ano, 46.839.827 foram registradas.

Somente  de vale-transporte, no período, houve uma queda de 1,7 milhão de passagens, caindo de 17.358.214 registros, em 2015, para 15.620.639, neste ano. Carvalho afirma ser inédito este tipo de diminuição, levando em consideração que, mesmo sendo pequeno o crescimento do fluxo de usuários no sistema, o quantitativo de usuários sempre se manteve.    “Agora caiu mesmo. Eu, que trabalho aqui, nunca vi a coisa andar tão para trás e espero que isso passe porque o problema é seríssimo”, afirmou o superintendente.

Em um momento em que se discute judicialmente o reajuste da tarifa do transporte público e que o sindicato patronal das empresas que exploram o sistema afirma não ter dinheiro para arcar com a data base dos trabalhadores, Carvalho reconhece que a queda no fluxo de viagens realizadas pelos manauaras é um elemento a mais para inflamar a situação.

O superintendente afirma, porém, que o transporte público não é o único modal que vem sofrendo os impactos da crise. “Os taxistas estão desesperados. Eles pedem para nós fiscalizarmos mais porque, claro que, no período de crise, a tendência da clandestinidade é aumentar, devido às pessoas que adquirem um carro pensarem que vão resolver a vida delas atuando irregularmente”, afirma.

De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas, Associações e Cooperativas de Táxis (Sindtáxi), Luiz Aguiar, para garantir o pagamento da diária, há taxistas dormindo dentro do carro. “A crise econômica está afetando todo o setor. Os taxistas estão sentindo na pele essa situação. Para aproveitar os melhores horários, tem gente dormindo no carro. Tem colega que leva até uma hora parado no ponto para conseguir um passageiro”, afirmou.

Entre os mototaxistas, a situação não é diferente. Segundo o presidente do Sindicato dos Profissionais Mototaxistas de Manaus (Sindmoto), Anderson Souza, a queda no número de passageiros, hoje, é de 40%, com muitos profissionais trabalhando de 16 a 18 horas por dia para ganhar o que antes se ganhava em 12 horas de trabalho. “Enquanto, antes, ganhávamos de R$ 80 a R$ 100 por dia, atualmente, para ganhar R$ 70, é preciso muito esforço. Para complementar a renda familiar, muitos colegas estão fazendo ‘bicos’ em pizzarias”, disse.

Veículos particulares

Além do transporte público registrar  queda no número de passagens, em Manaus, o volume de carros novos emplacados no Amazonas caiu 60,8% nos três primeiros meses de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM). Segundo o órgão, no primeiro trimestre deste ano, foram de 5.179 emplacamentos, contra 13.212 mil no ano anterior.

Ainda conforme o Detran-AM, 80% dos dados apresentados se referem a emplacamentos em Manaus.

“Se pegarmos os dados dos anos anteriores, percebemos que o Detran-AM tinha uma média para os emplacamentos de, aproximadamente, 5 mil, por mês. Mas nesses três primeiros meses de 2016, isso reduziu muito. Em março, tivemos 1,4 mil emplacamentos. Isso é com certeza por conta da crise, porque nunca imaginaríamos que esses números poderiam reduzir tanto”, comentou o diretor-presidente do Detran-AM, Leonel Feitoza.

O órgão estima que o segmento de veículos populares foi o mais prejudicado durante a queda. “Na nossa cidade, tivemos concessionárias que venderam apenas um carro novo durante um mês todo. O que significa dizer que 70% dos emplacamentos realizados foram de motocicletas. A crise também afetou a indústria automobilística”, disse Feitoza.