27/03/2014 09:05 - O Tempo - BH
Um ônibus que gastava um litro de combustível a cada 2,4 km
agora consome a mesma quantidade em 1,5 km, percurso 38% menor. A mudança é um
exemplo entre vários e se deve à substituição dos coletivos comuns pelos
articulados do Move (nome dado ao BRT da capital), sistema que, segundo o
Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte
(Setra-BH), tem um custo total no mínimo 50% maior que o modelo convencional.
Se a base de cálculo usada hoje para o reajuste for mantida, levando em conta justamente
as despesas do setor com a manutenção do serviço, esse aumento nos custos pode
se refletir em elevação mais expressiva da passagem nos próximos anos.
Para este ano, já há uma expectativa de que a tarifa fique
mais cara a partir de 1° de abril, conforme O TEMPO mostrou em sua edição desta
quarta-feira. No mesmo dia, representantes da Empresa de Transportes e Trânsito
de Belo Horizonte (BHTrans) se reuniram a portas fechadas com o Ministério
Público para definir a questão. Como argumento para o aumento, as empresas
contam com os resultados preliminares de uma auditoria nas contas do setor, que
revelaram um custo 30,5% maior de 2009 a 2012 e um prejuízo de R$ 25 milhões no
último ano analisado.
Segundo o Setra-BH, o prejuízo foi ainda maior em 2013, ao
mesmo tempo em que as empresas estão investindo na compra dos ônibus do Move.
"Estamos no vermelho, e os gastos com o novo sistema são bem maiores, no mínimo
50% a mais”, afirmou o porta-voz do sindicato, Edson Rios. Segundo ele, entre
os fatores que levam a uma despesa maior, estão combustível, pneu, rodagem,
suspensão hidráulica e equipamentos de tecnologia.
O aumento no consumo de óleo diesel é atribuído ao
ar-condicionado e ao peso do ônibus. "Esse custo a mais no diesel já estamos
sentindo no bolso e chega a ser 70% maior”, afirmou o responsável por uma das
concessionárias da capital, que preferiu anonimato. Outro gasto já aplicado é
com pneus, que aumentou de número, de seis para dez, do convencional para o
articulado.
O Setra-BH alega ainda que os pneus se desgastam mais no
concreto das pistas exclusivas que no asfalto das faixas mistas e que os
monitores e outros sistemas tecnológicos dos ônibus exigem gastos constantes
com manutenção.
Argumento. "As
empresas sempre vão conseguir provar que há necessidade de aumento enquanto o
cálculo estiver atrelado aos custos, que sempre sofrem reajuste. Essa planilha
de custos é altamente questionável”, afirmou o engenheiro em transportes e
professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dimas Gazolla.
Também da UFMG, o engenheiro Nilson Tadeu rebate o fato das empresas sempre repassarem para os usuários qualquer aumento. "Se há uma melhoria no transporte, quem paga a conta é o usuário? Não foi ele quem optou pelo Move e não é justo que arque com os custos”.
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Veículo articulado
para BRT custa R$ 840 mil
Além do custo na manutenção do Move, as empresa alegam um
gasto até três vezes maior com a compra dos ônibus. Enquanto um veículo
convencional é comprado por R$ 260 mil, um modelo articulado do BRT sai por R$
840 mil, conforme uma das concessionárias da capital.
Já os modelos padron, que não são articulados, mas têm
ar-condicionado e outras tecnologias, teriam sido adquiridos por R$ 350 mil. No
momento, cerca de 40 ônibus já foram adquiridos, segundo a BHTrans, mas o
sistema será ampliado e até maio deve estar operando com 428 veículos, sendo
cerca de 200 articulados e o restante, padron.
O sistema convencional da capital conta hoje com 3.038 ônibus,
mas várias linhas serão substituídas pelo Move. Da avenida Antônio Carlos para
o centro, haverá uma redução de 356 coletivos, e da Cristiano Machado para o
centro, o corte será de 284 ônibus.
‘O aumento virá’,
afirma promotor
Ao fim da reunião de ontem entre a prefeitura e do
Ministério Público de Minas (MPMG), o promotor Eduardo Nepomuceno afirmou que,
"contratualmente, o aumento da tarifa de ônibus virá”. Ele disse que a Empresa
de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) explicou que o contrato
com as empresas do setor previa um reajuste em dezembro, que não foi concedido
porque eles preferiram esperar o resultado da auditoria feita nas planilhas do
transporte. "Eles deixaram de fazer o reajuste naquela data para resolver
agora. A tendência é de aumento”.
Nepomuceno disse, no entanto, que não ficou até o fim da
reunião, de cerca de três horas, e que, portanto, não pode afirmar se o
reajuste acontecerá em 1º de abril. O presidente da BHTrans, Ramon Victor
Cesar, disse apenas que "no dia certo vai avisar sobre o aumento”. "Só espero
que a população seja avisada o quanto antes”, ressaltou o promotor.