A pressão sobre terrenos vazios ou subutilizados em São
Paulo deve ficar ainda maior com o novo Plano Diretor da capital. A proposta
que será apresentada nesta terça-feira, 11, na Câmara Municipal pretende cobrar
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo sobre lotes que não
tiverem pelo menos 50% de área construída e forem localizados nas zonas
destinadas a moradias populares e nos eixos de mobilidade, como nas Marginais e
nos corredores de trem, ônibus e metrô.
O texto redigido pelo vereador Nabil Bonduki (PT), relator
do plano, prevê que o dono do terreno será notificado pela Prefeitura e terá um
ano para apresentar um projeto para a ocupação do local. Caso contrário, o IPTU
do ano seguinte terá a alíquota dobrada. A regra valerá para imóveis a partir
de 500 metros quadrados e afetará, por exemplo, pátios sem construções que são
usados como estacionamentos ou depósitos.
"Isso é para forçar que um terreno não fique ocioso ou
subutilizado e que o proprietário o utilize apenas para especulação
imobiliária. Com isso, queremos baixar o preço dos terrenos, aumentar a
produção habitacional e estimular mais a economia da cidade", disse
Bonduki. A medida não estava prevista no projeto original enviado em setembro passado
pelo prefeito Fernando Haddad (PT). A ideia é que o plano seja aprovado antes
da Copa, em junho.
A proposta amplia o alvo do IPTU progressivo sancionado em
2010 pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). A lei atual prevê a cobrança sobre
imóveis vazios nas Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), destinadas para
moradia popular, no centro, ou terrenos a partir de 250 m² e com menos de 10%
de área construída. Na época, a Prefeitura informou que a lei atingiria 420 mil
imóveis da capital.
Com a inclusão das áreas no entorno dos eixos de mobilidade,
o número deve aumentar significativamente. Os proprietários que apresentarem um
projeto de ocupação na Prefeitura – obras de parcelamento do solo ou de novas
edificações – terão cinco anos para executá-lo. Em caso de descumprimento do
prazo, será aplicado o IPTU progressivo, com alta anual até o limite de 15% da
alíquota.
Outorgas. Outra novidade na versão final do Plano Diretor é o aumento do valor da outorga onerosa – contrapartida paga à Prefeitura para construir acima do limite básico – para prédios não residenciais na região que compreende majoritariamente os distritos de Pinheiros, Vila Mariana, Lapa e Butantã, nas zonas sul e oeste.
Por outro lado, a outorga ficará até 50% mais barata para
prédios comerciais e empresariais que se instalarem em áreas de distritos como
Ipiranga, na zona sul, Vila Prudente, Mooca, Aricanduva e Penha, na zona leste,
e Vila Maria, Santana, Casa Verde e Freguesia do Ó, na zona norte da capital.
"Nossa ideia é estimular que o mercado passe a
construir esses empreendimentos em regiões já bastante povoadas, mas que ainda
não têm tanta oferta de emprego. Com isso, diminuímos os deslocamentos pela
cidade", disse Bonduki.
"É compreensível querer estimular novos empreendimentos em áreas específicas da cidade, mas aumentar o valor da outorga onerosa para um lado é aumentar a carga tributária. E nós não somos favoráveis a nada que aumenta o custo da produção", disse o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Antonio Carlos Pela.
Limite será de até 8
andares em bairros
Ao mesmo tempo em que estimula o adensamento vertical das regiões mais estruturadas da cidade, o novo Plano Diretor quer limitar o tamanho dos prédios em até oito andares no miolo de bairros visados pelo mercado imobiliário, como Pompeia e Perdizes, na zona oeste, e Moema e Vila Mariana, zona sul.
A proposta libera a construção de grandes torres, com os limites previstos na atual lei de zoneamento para cada região, apenas num raio de 400 metros das avenidas atendidas por transporte público, como linhas de trem, metrô e dos corredores de ônibus.
Dentro dos bairros, os novos edifícios não poderão ultrapassar a altura de 25 metros. Os bairros onde os limites para construção já são inferiores, como em parte do bairro Alto de Pinheiros, zona oeste, as regras permanecerão como estão até a revisão das leis de zoneamento da cidade, que deve ocorrer a partir do segundo semestre.
"Onde já tem a infraestrutura instalada, os prédios ficam liberados. Nós queremos adensar essas áreas. Agora, nas áreas um pouco mais afastadas, dentro dos bairros, vamos limitar esse crescimento”, disse o vereador Nabil Bonduki (PT), relator do Plano Diretor.
Ele ressalva que, mesmo aprovado neste semestre, o novo plano só começará a impactar a cidade a partir de três anos. Com prédios com menos apartamentos, o trânsito interno dentro do bairro deve diminuir.
O projeto original do Plano Diretor, enviado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em setembro de 2013, já limita a uma vaga por garagem de área não computável dos prédios. Caso o construtor queira fazer mais vagas, ela entrará no cálculo da área construída do terreno, o que tende a diminuir a metragem das unidades.