Instituto de Engenharia e entidades do setor ferroviário denunciam desmanche da Estrada de Ferro Campos do Jordão

23/09/2021 12:00 - I.E.

Ao Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de São Paulo – Senhor João Dória

 

O INSTITUTO DE ENGENHARIA, entidade centenária que tem por missão a defesa da Engenharia e do Desenvolvimento do Brasil, assim como as entidades signatárias, Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), Asociacón Latinoamericana de Ferrocarriles (ALAF), Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE) e Associação Nacional de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) solicitam sua atenção para graves fatos que levam ao desmanche da Estrada de Ferro Campos do Jordão e reivindicam urgentes providências para evitar que este importante e histórico empreendimento seja destruído. Passemos aos fatos:

Em 2017 iniciou-se o processo de privatização do Parque de Capivari, integrante do patrimônio da EFCJ. Esse parque é composto pelo teleférico, pelo pedalinho e por dezenas de quiosques, cuja exploração comercial complementava de forma significativa as receitas da ferrovia. As receitas da exploração desse parque garantiam o equilíbrio financeiro da ferrovia em seu custeio, o que agora a torna dependente de recursos do orçamento do Governo do Estado.

Na gestão de pessoal da ferrovia, todos os empregados com cargos comissionados, de média a alta gestão, foram exonerados em 2018, deixando a operadora sem lideranças, só permanecendo as funções concursadas. Isso impactou em todas as áreas, aumentando o absenteísmo injustificado, paralisação ou retardo de serviços corriqueiros ou de manutenção corretiva, pondo em risco a operação do sistema.

Quanto à operação da ferrovia, desde 2017, encontra-se paralisado o trecho de serra por problemas de segurança. Mas até o momento nenhuma obra de recuperação foi feita, privando os turistas de conhecerem esse belo percurso, bem como as receitas com as passagens da ferrovia que poderiam ter sido vendidas nesses anos todos.

Com a pandemia, os funcionários ficaram em casa, não se sabe se em trabalho remoto, pois como não existe mais chefia, não existem mais metas e nem fiscalização. E com o fim da obrigatoriedade de trabalho remoto, a maior parte dos funcionários não retornou aos seus postos de trabalho.

No final do primeiro semestre de 2021, foi roubada toda a catenária (rede aérea eletrificada que alimenta os trens) no trecho entre Pindamonhangaba e Piracuama (cerca de 20 km). Em agosto, foi roubada no trecho entre Piracuama e Eugênio Lefévre (Santo Antônio do Pinhal), onde fica a subestação de energia. Nesse roubo, foram incluídos também os postes da rede aérea, em locais de difícil acesso, o que faz crer que esse roubo foi obra de quem conhece bem a região e os acessos à faixa da ferrovia. Foram roubados, também, todos os trilhos e dormentes de reposição, bem como uma ponte metálica de reserva (que ficavam no depósito junto à parada São Judas) sob absoluta inércia, para não dizer omissão da direção e funcionários da ferrovia. Para os funcionários a situação parece ser bem confortável, pois sem chefia não há cobrança, e operando ou não a ferrovia, o salário está garantido no final do mês.

Assim, se desmancha a ferrovia de maior significado histórico, arquitetônico, cultural e social do estado de São Paulo, sob omissão de todas as Políticas Públicas e pela ação de bandidos que a rapinam. Dessa forma, fica comprometida a infraestrutura ferroviária que servia à população da região e que vinha ganhando espaço no turismo e trazendo receita aos municípios em que operava, sepultando importante investimento e esforço no passado.

Solicitamos a V. Excia. a restauração dos trechos danificados, e posterior tombamento histórico.

Para tanto, nossas entidades colocam-se à disposição de V. Excia.para colaboração no que se fizer necessário para a preservação deste importante patrimônio histórico da cultura e da engenharia em nosso Estado de São Paulo.

Eng. Paulo Ferreira

Presidente

INSTITUTO DE ENGENHARIA

Vicente Abate – presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER)

Silvia Cristina Silva – presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP)

Jean Carlos Pejo – Secretário Nacional Brasil - Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles (ALAF)

Ailton Brasiliense Pires – presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)

Jose Antonio Fernandes Martins – presidente do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários(SIMEFRE)

Joubert Fortes Flores Filho – presidente da Associação Nacional de Passageiros sobre Trilhos (ANPTRILHOS)