Japão mantém programa de carros a hidrogênio

17/01/2018 08:00 - Valor Econômico

Daniela Chiaretti, de Abu Dhabi

O Japão quer transformar a região de Fukushima, devastada por terremoto e tsunami em março de 2011, numa área de usinas solares, eólicas e hídricas. A cereja do bolo será a maior usina de produção de hidrogênio do país e das maiores do mundo. A iniciativa revela a arriscada aposta japonesa de continuar investindo em hidrogênio como combustível de veículos.

Um painel no pavilhão japonês no World Future Energy Summit - exposição de tecnologias de energia e água em Abu Dhabi - traz as iniciativas verdes do governo em Fukushima: uma usina gera eletricidade a partir de restos de madeira; outra gera energia geotérmica desde 1995; e uma terceira fornece o equivalente ao consumo de 35 mil casas a partir de energia eólica.

O mapa mostra o desenho de uma usina solar na costa de Fukushima e que deve gerar 1 MW de energia a ser utilizada para agricultura. No mar, turbinas eólicas gigantes e flutuantes poderão produzir 7 MW. A nova instalação de produção de hidrogênio está sendo construída na vizinha Namie.

O painel resume o "Fukushima Plan for a New Energy Society", iniciativa do governo com o setor privado. Em março de 2016, o premê Shinzo Abe disse: "Queremos tornar Fukushima pioneira em criar uma sociedade de hidrogênio".

"A reconstrução de Fukushima é um símbolo", disse ao Valor Ryo Nakajima, gerente de tecnologia do departamento de novos projetos de soluções energéticas da Toshiba. São investimentos de "vários bilhões" que incluem Toshiba, Tohoku Eletric e Iwatani na implantação da usina de hidrogênio, que deve estar pronta para a Olimpíada de Tóquio, em 2020.

A produção de hidrogênio costuma ser feita com queima de gás, mas a nova unidade usará energias renováveis, principalmente solar. A nova indústria terá ao lado uma usina solar de 20 MW, diz Hirofumi Kurita, da equipe da Toshiba. O Japão importa o gás e petróleo que consome. "Não podemos depender do petróleo", diz Nakajima.

Estima-se que existam hoje 2.000 carros movidos a hidrogênio no Japão. Toyota, Nissan e Honda produzem carros com a tecnologia e vão criar uma rede de distribuição de hidrogênio no país. A previsão é que o Japão tenha 40 mil veículos a hidrogênio em 2020.

Dez anos atrás houve uma corrida pela tecnologia de produzir hidrogênio, considerado então o "combustível do futuro". Mas hoje a tendência do setor parece ter virado para o carro elétrico. "Os investimentos atuais das empresas na eletrificação dos veículos é de uma ordem diferente de magnitude que vimos antes em hidrogênio", diz Dolf Gielen, diretor do Centro de Inovação e Tecnologia da Irena, entidade internacional que promove energias renováveis.

Hidrogênio como combustível é, porém, uma aposta japonesa. "Temos um projeto ambicioso em Fukushima", diz Nakajima. A usina terá capacidade de produzir 900 toneladas de hidrogênio por ano, o suficiente para 10 mil carros.

No pavilhão do Japão, várias montadoras exibem modelos de carros elétricos e híbridos, evidenciando a disputa tecnológica. Um cartaz diz que um híbrido a bateria faz 26 quilômetros por litro e reduz emissões em uma tonelada ao ano. Outro cartaz anuncia as vantagens do hidrogênio, em árabe e inglês: 3 a 5 minutos é o tempo para encher o tanque (hoje a bateria de um carro elétrico pode levar horas para recarregar) e o carro a hidrogênio terá autonomia para 600 quilômetros.

A jornalista viajou a Abu Dhabi a convite da Irena