Justiça derruba decisão que vetava aumento de velocidade nas marginais

25/01/2017 08:00 - Folha de SP / O Estado de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu nesta terça-feira (24) o recurso da gestão João Doria (PSDB) contra decisão liminar que vetava o aumento das velocidades nas marginais Tietê e Pinheiros.

Com isso, a prefeitura vai restabelecer, a partir da 0h desta quarta (25), os antigos limites máximos para essas vias, promessa do tucano na campanha eleitoral –alvo de críticas de especialistas e entidades ligadas ao transporte.

As velocidades máximas serão reajustadas de 70 km/h para 90 km/h (pista expressa), de 60 km/h para 70 km/h (central), e 50 km/h para 60 km/h (local). A exceção é a faixa mais à direita da pista local, que permanece com o antigo limite de 50 km/h, implementado durante o mandato de Fernando Haddad (PT), em julho de 2015.

As primeiras placas com as novas velocidades começaram a ser ajustadas na noite desta terça e deverão seguir pela madrugada.

O discurso da gestão Doria é de que a extensão completa das duas marginais somadas possa significar uma economia de até 15 minutos.

De acordo com a magistrada, "é cediço que a segurança no trânsito não deriva exclusivamente da velocidade imposta [...], mas também, e essencialmente, da educação de seus usuários, bem como da fiscalização exercida pelo poder público [...] e ainda de outras medidas que sejam necessárias para tanto".

A prefeitura afirma que a elevação dos limites será acompanhada de outras medidas para a segurança viária, como parte do projeto batizado de Marginal Segura.

No anúncio do programa, Doria disse contar com apoio majoritário da opinião pública para elevar as velocidades e prometeu um amplo pacote de sinalização, orientação e fiscalização para combater os problemas dessas vias.

Em visita às marginais Pinheiros e Tietê nos últimos dias, a Folha presenciou ambulantes, alagamentos, buracos, fabricantes de casinhas de cachorros e pistas com tinta quase apagada e favelas nas margens das vias.

O secretário de Transportes, Sérgio Avelleda, comentou a questão dos ambulantes. Disse que a presença desses comerciantes nas pistas será "intolerável" e foco de intensa fiscalização. Avelleda afirmou que a equipe da prefeitura realizou mais de 180 apreensões de mercadorias nas marginais apenas nesta segunda-feira (23).

O processo judicial sobre os novos limites de velocidade começou na semana passada, quando a Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) pediu a suspensão da medida.

Na sexta-feira (20), um juiz de primeira instância proferiu liminar favorável à associação, decisão derrubada em segunda instância.

Em nota (abaixo), a Ciclocidade já afirmou que recorrerá da decisão do Tribunal de Justiça ainda nesta semana.

O sistema Infosiga, ligado à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), aponta que a capital paulista teve 950 mortes no trânsito em 2016, uma redução de 15,1% em relação às 1.119 mortes registradas pelo sistema no ano anterior. No Estado, a queda foi de 5,6%.

Considerando só as marginais antes e após a redução de velocidade, os acidentes fatais tiveram redução ainda mais significativa –quase 50%. De agosto de 2015 (primeiro mês completo com os limites mais baixos) a outubro de 2016, foram 39 acidentes com mortos– 38 a menos que nos 15 meses anteriores. A marginal Tietê completou 19 meses sem morte por atropelamento. 

O ESTADO DE SP

Velocidade máxima volta a 90 km/h nas Marginais nesta quarta

SÃO PAULO - Começam a valer nesta quarta-feira, 25, aniversário da cidade, os novos limites de velocidade das Marginais do Tietê e do Pinheiros. Após obter aval da Justiça, o prefeito João Doria (PSDB) cumpre promessa de campanha e eleva para até 90 km/h o máximo permitido nas pistas expressas. Nas centrais da Tietê, os motoristas podem agora trafegar a até 70 km/h e nas locais, com exceção da faixa mais à direita que permanece a 50 km/h, o limite volta a ser de 60 km/h. Os radares já foram ajustados.

A mudança anunciada desde o ano passado só foi possível após a desembargadora Flora Maria Nesi Tossi Silva, da 13.ª Câmara de Direito Público, derrubar nesta terça-feira, 24, decisão liminar que suspendia as mudanças a pedido da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). Em sua decisão, Flora afirma que “a segurança no trânsito não deriva exclusivamente da velocidade imposta para circulação de veículos em vias marginais, mas também e, essencialmente, da educação de seus usuários, bem como da fiscalização exercida pelo poder público”.

Outros argumentos apresentados pela Prefeitura também foram acatados pela desembargadora, que levou em consideração a melhora na fluidez que o aumento das velocidades pode proporcionar à cidade, assim como as novas placas de sinalização, a adoção de medidas assecuratórias de pronto atendimento aos usuários, em caso de acidentes, e a promoção de campanhas educativas – o bicampeão da Fórmula 1 Emerson Fittipaldi é a estrela da campanha.

Balanço. Está previsto para esta quarta o primeiro balanço sobre as ações adotadas. “A Marginal Segura é um programa muito mais amplo do que apenas a readequação das velocidades. Acidentes existem sempre, a Marginal não é imune em nenhuma velocidade. Mas estamos fazendo todo um esforço de ambientação, sinalização, educação, controle e segurança para que aconteçam minimamente, com o menor sofrimento possível para as pessoas”, disse Doria nesta terça.

O tucano citou dados revelados em pesquisa da Rede Nossa São Paulo, que mostram aprovação da população, para justificar sua política. “Cada vez que tem um acidente na Marginal do Tietê ou do Pinheiros reflete na cidade inteira, até nas rodovias de acesso à cidade.”

O prefeito também destacou a parceria firmada com empresas classificadas por ele como “cidadãs” para novos equipamentos a serem usados nas Marginais, como picapes da Mitsubishi e motocicletas das marcas Honda e Yamaha. “(Fizeram) Doação por cidadania. Aceitaram um pedido feito pelo prefeito para fazer a doação. Não há contrapartida. É bom para a cidade, é de graça. Eu sei que vocês não estão acostumados com isso, mas não há outro tipo de interesse, isso é muito comum em cidades civilizadas onde há transparência e gerenciamento de ações desse tipo”, disse. 

Sobre a queda de acidentes registrada na cidade após a redução de velocidade das Marginais, o secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, voltou a dizer que não há relação direta. “A queda de acidentes é acompanhada por redução de acidente em outras vias, tanto do Estado quanto do Brasil, onde não houve redução de velocidade. Em estatística é preciso ter certeza de correlação, senão você pode chegar a conclusões equivocadas”, disse.

Em outubro passado, dados divulgados pela gestão Fernando Haddad (PT) mostraram uma queda de 52% no número de acidentes fatais em ambas as Marginais ao longo do primeiro ano de implementação das velocidades reduzidas. De julho de 2014 a junho de 2015, foram 64 acidentes com mortes, ante 31 ocorrências do tipo nos doze meses seguintes, até junho de 2016.

Recurso. A Ciclocidade vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça. “É importante salientar que o agravo de instrumento apresentado pela Prefeitura não responde à questão principal de que o aumento de velocidades promovido como parte do programa ‘Marginal Segura’ não acarretará em mais mortes ou em mais incidentes de trânsito com lesões graves”, informou a entidade, em nota. “O princípio básico da engenharia de mobilidade é preservar a vida e a saúde das pessoas – não apenas fazer com que cheguem mais rápido aos lugares, ou sejam socorridas mais rápido após acidentes evitáveis.”

Para o consultor em trânsito Flamínio Fishman, é hora de avaliar o programa e, caso preciso, reverter as medidas, em prol da segurança. “A Prefeitura deve agora focar na fiscalização dos motociclistas e dos pedestres, que são os mais vitimados”, afirmou, referindo-se à fiscalização de quem anda acima dos limites, ao aprimoramento das vias às motocicletas e ao atendimento à população que trabalha nas pistas. “Se precisar voltar atrás, não deve haver problema.”

NOTA

Ciclocidade recorrerá de decisão do Tribunal de Justiça sobre aumento de velocidades nas marginais 

A Ciclocidade recebeu na manhã desta terça-feira (24/1) a manifestação da desembargadora Flora Maria Nesi Tossi Silva, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que acata o Agravo de Instrumento da Prefeitura de São Paulo e cassa a liminar obtida pela Ciclocidade em primeira instância na última sexta-feira. Com isso, fica liberado o aumento dos limites de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê.

É importante salientar que o Agravo de Instrumento apresentado pela Prefeitura não responde à questão principal - de que o aumento de velocidades promovido como parte do programa ‘Marginal Segura’ não acarretará em mais mortes ou em mais incidentes de trânsito com lesões graves. Para que fique claro: nenhum estudo técnico assinado por engenheiros e garantindo a preservação de vidas foi apresentado pela Companhia de Engenharia de Tráfego - CET. A defesa da Prefeitura se baseia em um artigo de um blog de automobilismo.

A prevenção, em qualquer campo, é cumulativa. Sempre se pode garantir mais segurança e reduzir riscos com ações adicionais. Medidas corretas de aumento da prevenção - como melhoria na sinalização, aumento de fiscalização, melhoria nas travessias de pedestres e mesmo ambulâncias - não requerem aumento de velocidade. A Ciclocidade não questiona tais medidas que, ressaltamos, como iniciativas complementares à redução de velocidades, são bem vindas.

O princípio básico da engenharia de mobilidade é preservar a vida e a saúde das pessoas - não apenas fazer com que cheguem mais rápido aos lugares, ou sejam socorridas mais rápido após acidentes evitáveis. Na decisão, a desembargadora considera que "nada impede que se opere a reana´lise da efica´cia ou na~o das medidas trazidas pelo programa ‘Marginal Segura’ apo´s sua implantac¸a~o e aferic¸a~o de dados". O risco é que tal reanálise ocorra apenas após consequências graves para a sociedade.

A Ciclocidade recorrerá da decisão ainda esta semana, por meio de recurso interno.