Lei seca pune 35,5% condutores a mais este ano em Salvador

28/05/2017 08:30 - A Tarde - BA

O número de motoristas autuados pelas blitze de lei seca realizadas pela prefeitura de Salvador nas vias da cidade cresceu 35,5%, entre janeiro e abril de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Os dados divulgados pela Superintendência de Trânsito (Transalvador), órgão municipal que chefia as ações de fiscalização da lei, apontam que 1.911 condutores foram flagrados pela fiscalização nos quatro primeiros meses deste ano. Em 2016, foram 1.410 no mesmo período.

Ainda conforme as estatísticas, 573 carros foram apreendidos por esse motivo entre janeiro e abril de 2017, contra 441 no mesmo período no ano passado.

Apesar do aumento na autuação dos condutores, o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, defende que a lei seca tem ajudado a mudar a consciência das pessoas para o perigo de beber dirigindo.

A realização de blitze diárias de alcoolemia desde 2013, na opinião de Muller, é um dos fatores que influenciam no que ele chama de "processo de aculturamento dos motoristas".

"Não acho que haja um aumento de pessoas bebendo, porque há esse aculturamento, mas essa mudança de hábitos culturais não é do dia para a noite", afirma o superintendente. "Educação você dá todos os dias", diz.

"Não acho que haja um aumento de pessoas bebendo, porque há esse aculturamento, mas essa mudança de hábitos culturais não é do dia para a noite

Fabrizzio Muller, superintendente da Transalvador

Ele cita, ainda, a redução de mortes no trânsito na capital baiana como base para defender a eficácia da lei seca. De acordo com dados da Transalvador, essas mortes caíram de 247, em 2012, para 137 no ano passado – o equivalente a 44,5% de queda nos últimos quatro anos.

Professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o engenheiro Elmo Felzemburg, especialista em trânsito e transporte, chancela o argumento municipal.

Na avaliação do estudioso, "o resultado que interessa [para medir a eficácia da lei seca] é se houve redução no número de acidentes e mortes", porque, segundo ele, "esse é o objetivo da lei".

O sociólogo e especialista em segurança viária Eduardo Biavati discorda. Para ele, a redução das mortes no trânsito aconteceu, nos últimos anos, "em todas as grandes cidades brasileiras", mas "por diversos motivos".

"O que Salvador conseguiu, todo mundo conseguiu igual ou melhor. É excepcional, mas há um conjunto de questões, como o encarecimento do combustível, que tira carros e motos de circulação", defende. 

Redução no Detran

A favor do argumento da Transalvador, falam dados divulgados pelo Departamento de Trânsito da Bahia (Detran-BA). Conforme eles, entre 1º de janeiro e 25 de maio de 2017, menos motoristas foram pegos nas blitze realizadas por eles, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Dos 14.832 motoristas submetidos ao teste do Detran nesse período do ano atual, apenas 7,4% foram enquadrados na lei. Já no ano passado, dos 10.467 condutores instados a soprar o bafômetro, 8,38% foram flagrados sob efeito de álcool. Isso representa uma redução discreta de um ponto percentual na quantidade de motoristas flagrados descumprindo a lei.

As porcentagens, nesse caso, incluem os motoristas que se recusaram a soprar o aparelho, pois eles também são multados pelo órgão, como determina a lei seca. O diretor-geral do Detran-BA, Lúcio Gomes, afirma que os dados indicam ter "um efeito significativo, ano após ano, sobre o número de acidentes e mortes". "Esse é um trabalho permanente, que não podemos parar, porque não devemos aceitar que tantas vidas ainda sejam ceifadas", discursou Gomes.

Causas

Para o estudioso Elmo Felzemburg e o gestor Fabrizzio Muller, essa redução apontada pelo Detran se deve também a fenômenos como o surgimento do aplicativo Uber em Salvador. "É uma forma mais fácil e acessível de ir aos locais, já que você não precisa estacionar", lembra o engenheiro especializado no tema.

Foi essa opção que o professor Hugo Ernane, 41 anos, adotou para evitar a associação entre álcool e direção. Desde 2008, quando comprou um carro, ele já tentava não cometer a infração, mas o surgimento da Uber tornou a tarefa mais fácil.

Para ele, "a lei seca inibe mais pela punição", apesar de a infração ter consequências mais graves. "Eu sempre tive o medo de atropelar ou matar alguém, que é pior do que a multa", relata Ernane. "Não dirigir bebendo é mais saudável para mim e para os outros", avalia.

Para o jogador de futebol americano Rafael Serra*, 27 anos, o caso foi diferente. Ele precisou ser multado duas vezes para deixar de dirigir sob efeito de álcool. Na primeira, conta, a multa por cometer a infração custava pouco mais de R$ 1 mil. Na outra ocorrência, o valor já tinha sido atualizado para o que vigora atualmente: R$ 2.934,70. "Se eu for multado de novo na mesma situação, eu perco a carteira de motorista, então tive que parar", explica Serra.

*Nome fictício para preservar identidade da fonte, que pediu para não ser identificada