Com menos usuários, a arrecadação do Metrô é diretamente afetada. Se os 10 milhões de passageiros perdidos utilizassem o bilhete unitário, cuja tarifa é de R$ 3,80, significaria R$ 38 milhões a mais no caixa da empresa.
Esse cenário prejudica os serviços oferecidos. Como a Folha revelou no mês passado, o Metrô reduziu em quase 60% os gastos com investimentos em operação e manutenção de linhas, trens e estações nos últimos dois anos.
Além da queda de passageiros, a companhia enfrenta os efeitos do número crescente de viagens com passe livre oferecido pelo Estado a determinadas categorias, como estudantes de baixa renda, pessoas com deficiência e idosos acima dos 60 anos.
Com isso, aumenta a dependência do Metrô quanto aos repasses do governo para custear tais viagens. No ano passado, foram mais de R$ 600 milhões. Em 2015, quando previa desembolsar R$ 330 milhões com gratuidades, o Estado acabou dando um calote de R$ 66 milhões na companhia.
Outro problema para o equilíbrio financeiro em 2017 é a manutenção dos preços dos bilhetes unitários em R$ 3,80. A gestão Alckmin tomou a decisão mesmo após recomendações da companhia contra o congelamento.
Com a decisão da Justiça de vetar o aumento nos bilhetes temporais e de integração, o Estado estima uma arrecadação de R$ 16 milhões a menos por mês. A gestão Alckmin aguarda julgamento de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça para definir seus próximos passos.
DESEMPREGO
A queda de passageiros no sistema de trilhos ocorre "muito em virtude do desemprego", que faz com que as pessoas se desloquem menos pela Grande São Paulo. A opinião é de Clodoaldo Pelissioni, secretário de Transportes Metropolitanos da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).
Especialistas consultados pela reportagem concordam com essa análise quanto aos efeitos da crise econômica.
Na avaliação de Luiz Carlos Mantovani Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), "a economia derrubou tudo. Como não houve migração de usuários do sistema metroviário para carros ou motos, então essas pessoas realmente reduziram seus deslocamentos".
Horácio Figueira, consultor em transportes e mestre pela USP, pondera que esta ainda é uma queda pequena. "Estamos falando de algo como 27 mil passageiros a menos por dia em um sistema que transporta 4 milhões."
Um fator destacado pelo especialista na estabilização da demanda é a falta de abertura de novas estações. "Novas estações tendem a somar passageiros ao sistema. Com as inaugurações previstas para este ano, 2017 certamente vai ter um número maior de usuários", diz Figueira.
O governo Alckmin promete entregar nove novas estações da extensão da linha 5-lilás até o fim deste ano. A última estação aberta ao público foi a Fradique Coutinho (linha 4-amarela), inaugurada em novembro de 2014.
RECEITAS EM 2017
O secretário avalia que o Metrô não sofrerá problemas neste ano. "O importante é que, na proposta orçamentária deste ano, a companhia paga suas contas, e estamos com um trabalho para incrementar as receitas não tarifárias", afirma Pelissioni.
Há, no entanto, uma questão importante a ser resolvida para manter o equilíbrio financeiro da empresa em 2017: a decisão sobre o preço dos bilhetes.
A gestão Alckmin congelou em R$ 3,80 a tarifa unitária, mesmo após ouvir recomendações feitas pela direção da companhia contra o congelamento das tarifas.
Com a decisão da Justiça paulista de vetar o aumento nos bilhetes temporais e de integração, o Estado estima uma arrecadação de R$ 16 milhões a menos por mês.
A gestão Alckmin aguarda agora o julgamento do STJ (Superior Tribunal de Justiça). "De todo modo, vamos ter que cobrir os R$ 32 milhões [do primeiro bimestre] com economias", diz Pelissioni.