Seu maior trunfo visual é a máscara que usa, à moda dos
tradicionais personagens da luta livre mexicana que lhe inspiraram. "Essa
nova máscara foi feita por meu irmão. No início, usava uma que comprei de outro
lutador, não era tão personalizada", conta Peatónito —"peatón",
em espanhol, significa pedestre.
Quando sai às ruas da Cidade do México, o herói carrega
importantes armas: um código de trânsito local e sprays de tinta para apontar
as ilegalidades nas calçadas ou criar faixas de pedestres, seu superpoder
predileto.
Antes de chegar a São Paulo, ele já havia participado de
congressos sobre mobilidade nos Estados Unidos, na Colômbia e na Áustria.
Nenhuma das missões anteriores, contudo, foi suficiente para
prepará-lo para a conduta agressiva de alguns motoristas paulistanos que
abordou na conversão da rua dos Pinheiros para a rua Cunha Gago, na zona oeste.
Em dez minutos, dois carros quase o atropelaram, prova da reflexão que dividira
antes de ir às ruas: "O homem chegou à Lua, mas é impossível cruzar a
rua".
HUMOR
Segundo Peatónito, os mexicanos têm mais senso de humor na
hora em que são interpelados no trânsito: "Aqui os motoristas parecem mais
estressados. Metade ficou nervosa, enquanto na minha cidade nem 10% reage mal
às ações que faço", compara.
Para sorte do mexicano, um herói brasileiro acompanhou sua
tentativa de promover os direitos do pedestre em São Paulo: o Super-Ando,
recém-criado por ativistas de mobilidade e interpretado por um jovem de 23 anos
que também não se identifica.
"O Peatónito e os movimentos do México, como a liga de
pedestres, são uma inspiração essencial. Houve muitas conquistas por lá, que
ainda precisamos alcançar no país", afirma Super-Ando.
O herói nacional se deslocava com mais confiança entre os
veículos e oferecia lições essenciais da mobilidade em português: "prioridade
ao pedestre", "cidade mais humana" e "na hora da conversão,
respeite quem está a pé".
Em São Paulo e na Cidade do México, o maior número de vítima de acidentes de trânsito estava a pé. "A revolução é pedestre e pacífica, mas precisa ser vencida esquina a esquina, rua a rua", avalia o pioneiro mexicano. A missão mais difícil, no entanto, está nas mãos —e pés— do novato paulistano.
Foto: Eduardo Knapp / Folhapress