Mitsubishi confessa exagerar dados sobre eficiência desde 1991

27/04/2016 08:26 - O Globo

A Mitsubishi confessou ontem ter exagerado dados sobre a eficiência energética de seus veículos por muito mais tempo do que havia admitido anteriormente. Segundo a montadora, a prática vem sendo adotada desde 1991. Na semana passada, a companhia havia informado que os métodos irregulares haviam sido utilizados em 620 mil unidades de um modelo vendido no Japão desde 2013. Com as novas revelações, esse número pode aumentar, afirma a empresa, embora os executivos não especifiquem a quantidade exata de veículos afetados.

THOMAS PETER/ REUTERS: Pedido de desculpas. O presidente da Mitsubishi, Tetsuro Aikawa, disse que não sabia da irregularidade na empresa


Segundo o vice- presidente executivo da Mitsubishi, Ryugo Nakao, em 1991, as autoridades japonesas adotaram regras mais rígidas para testes de eficiência energética que deveriam ser adotados internamente pelas próprias montadoras, para se adequar melhor ao pesado trânsito do país. Mas a empresa simplesmente ignorou as novas determinações. Com isso, as avaliações feitas internamente de seus modelos eram exageradas, revelando emissões de poluentes menores do que as reais nos veículos.

— Devíamos ter mudado, mas acabou que não mudamos — resumiu o executivo, em entrevista coletiva. 

INVESTIGAÇÃO NOS EUA

O presidente da montadora, Tetsuro Aikawa, desculpou- se pela fraude:

— Sinto muito que consumidores tenham sido levados a comprar veículos baseados em avaliações incorretas de eficiência energética. Tudo que posso fazer é pedir desculpas, mas eu não estava a par.

Aikawa informou ainda que a empresa investiga de onde partiu a ordem para alterar os dados. Na semana passada, quando admitiu a fraude, a companhia disse que a manipulação no supercompacto eK — até agora, o único modelo afetado — havia sido “intencional”.

O escândalo vem à tona em meio a um momento delicado para o setor automotivo. No ano passado, a Volkswagen admitiu ter usado, em 11 milhões de veículos a diesel, um software para fraudar os testes de emissões realizados por autoridades regulatórias. No último fim de semana, uma reportagem do jornal alemão “Bild” revelou que autoridades do país suspeitam de que prática semelhante era adotada pela Fiat.

Para tentar esclarecer o caso, a Mitsubishi Motors anunciou a criação de uma comissão especial de investigação, composta apenas por especialistas externos. Um relatório deve ser apresentado em três meses. Na semana passada, autoridades japonesas realizaram uma operação em um dos laboratórios de testes da empresa. 

ESCÂNDALO NO ANO 2000 

Ao mesmo tempo, órgãos reguladores dos EUA já iniciaram uma investigação para verificar se as fraudes envolvem veículos vendidos em território americano. Por enquanto, a Mitsubishi nega qualquer manipulação de dados em modelos vendidos fora do Japão.

A empresa já sente o impacto da crise. Segundo dados da Reuters, a companhia já perdeu US$ 3,9 bilhões em valor de mercado desde quarta- feira. Só ontem, viu seus papéis recuarem 8,8%. Esta é a segunda vez em menos de duas décadas que a montadora japonesa se vê envolvida em um escândalo do tipo. No ano 2000, a empresa quase foi à falência após confessar ter encoberto defeitos em dezenas de milhares de veículos comercializados desde 1977.

No sábado, o jornal econômico “Nikkei” informou que a empresa pretende indenizar os clientes afetados pela fraude.

A Mitsubishi tem 30 mil funcionários e vende um milhão de veículos por ano em todo o mundo. Na quar tafeira, a empresa deve apresentar os resultados para o ano fiscal encer rado em março, mas provavelmente não divulgará projeções para o atual exercício. A empresa já havia advertido que o impacto do escândalo será grande. De acordo com analistas, as consequências serão piores que as sofridas pela Volkswagen.