17/01/2019 09:00 - Diário do Transporte
ADAMO BAZANI
A poucos dias da abertura dos envelopes da concorrência que deve remodelar o sistema de transportes por ônibus da cidade de São Paulo, um dos maiores do mundo com 9,5 milhões e passageiros por dia, o mercado das viações começa a ficar agitado, com compras de uma empresa menor por outra e maior porte e surgimento de “novas empresas” na Junta Comercial do Estado de São Paulo, mas que funcionam nas atuais garagens, muito embora estejam registradas em nome de diretores com mandatos que têm data para terminar, e não dos donos.
Em relação à aquisições, a empresa MobiBrasil comprou a Tupi Transportes Urbanos Ltda. Ambas operam a área 06 – azul claro, na zona Sul, do subsistema estrutural (ônibus maiores com linhas para a região central).
A assinatura ocorreu nesta quarta-feira, 16 de janeiro de 2019.
A licitação deve receber as propostas no dia 23 de janeiro.
A MobiBrasil passa, com isso, a ter uma atuação maior na área, assumindo grande parte das linhas da Tupi, além dos ônibus e garagem.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Transporte nesta quarta-feira, a proprietária da empresa, Niege Chaves, disse que a empresa vai ampliar os investimentos na região.
“Vamos continuar fazendo um grande esforço para melhorar a qualidade do transporte de São Paulo, que é um desfio grande, foram comprados mais 30 ônibus novos e a previsão é de comprar mais 70 até o final do ano, para melhorar os serviços e trazer mais pessoas para o transporte público” – contou
A licitação do sistema de ônibus na cidade foi considerada no negócio, segundo a empresária.
“Estamos seguindo a orientação de como será no futuro com a sinalização que vem na licitação de São Paulo. Acho que isso também é inédito, a gente juntou os quatro [empresários que servem a região sul] e conseguimos construir uma solução que vai melhorar ainda mais o transporte de São Paulo”
“Na licitação, as linhas da MobiBrasil e da Tupi são muito complementares . Nós já tínhamos um acordo entre a MobiBrasil e a Tupi para participamos juntos de alguns lotes. Isso já estava definido. Aí, a gente achou que seria mais produtivo já fazer a racionalização antes do process., para que daqui a 90 dias, quando a gente possa finalizar estes ajustes todos. A gente vai ter uma oportunidade melhor de não perder o tempo necessário para o início da operação. Como os [contratos] emergenciais acabaram agora em janeiro, a partir de amanhã [18.01.19] teremos emergências novos com as empresas [do subsistema estrutural] também foi uma decisão que a gente não poderia correr este risco. A licitação pode ou não ser adiada. Então, estamos prontos para participar desta licitação. Tudo já organizado, proposta técnica, já está tudo completo em relação à junção da MobiBrasil com a Tupi.” – disse Niege, que ainda informou que haverá um período de transição de 90 dias para todos os ajustes de operação e gestão.
Niege disse ainda ao Diário do Transporte que os trabalhadores da Tupi podem ficar tranquilos, já que a maioria vai ser aproveitada pela MobiBrasil.
“Eu tenho certeza que o trabalhador da Tupi não vai ser prejudicado em nada. O acordo operacional contempla o aproveitamento da maior parte dos trabalhadores da Tupi. Todos os motoristas, cobradores e mecânicos serão absorvidos” – comentou Niege, ao elogiar a qualificação dos empregados da empresa que atua há 60 anos na cidade.
A empresária falou também que neste momento de transição, a família Pavani, fundadora da Tupi, atua em conjunto com a MobiBrasil. Depois deste período, a família vai decidir se continua ou não sistema.
A contratação emergencial da MobiBrasil foi publicada no Diário Oficial da Cidade, válida por até 180 dias.
Em julho de 2018, o Diário do Transporte noticiou que a empresa havia se desligado do Consórcio Unisul, que operava a área e era formado pela MobiBrasil, a Tupi e a Viação Cidade Dutra.
Relembre:
EMPRESAS:
Com origem em Recife e região Metropolitana, a MobiBrasil entrou para o sistema da capital paulista em 2009, ainda com o nome de VIM – Viação Metropolitana Ltda, assumindo as operações de outra empresa tradicional da cidade, a Paratodos.
A MobiBrasil tem como principal sócia a empresária Niege Chaves.
O grupo hoje opera em São Lourenço da Mata, Recife e região metropolitana, em Pernambuco; em Sorocaba, no interior paulista; na cidade de São Paulo, em Diadema, no ABC Paulista; e em parte da área 5 da EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, correspondente à região do ABC, na Grande São Paulo.
Ônibus monobloco da Tupi na região da Avenida Paulista. Empresa se tornou uma das mais tradicionais da cidade.
Já a Tupi era uma das companhias em operação mais antigas da cidade, controlada pela família Pavani, tradicional de São Paulo.
A Tupi Transportes Urbanos Piratininga Ltda. foi fundada em 1960 e começou as operações com apenas três ônibus em uma acanhada garagem na esquina da Avenida Jabaquara com Avenida Indianópolis.
A companhia foi crescendo juntamente com o avanço do desenvolvimento urbano da capital paulista. Em 1978, segundo o relato histórico do portal da empresa, a Tupi comprou duas empresas da zona Sul: Viação Senhor do Bonfim e Viação Cidade Leonor.
Tupi Marcopolo Veneza, já na época com o sistema de pinturas “saia e blusa”, pelo qual, a cor da saia (parte inferior da carroceria) indicava a região atendida pela companhia de ônibus
Tupi com a atual pintura do sistema de ônibus da cidade, com a cor azul indicando o atendimento na Zona Sul
DANÇA DE CADEIRAS COM A LICITAÇÃO:
Com a negociação, uma parte do que vão ser as operações após a licitação na cidade começa a ser desenhada.
Além disso, empresas de grupos tradicionais de São Paulo, como das famílias Ruas e Abreu, estão surgindo com novos nomes. São os casos da Viação Grajaú, para a Viação Cidade Dutra, na zona Sul, e a Viação Sudeste, para a Via Sul.
Vip, Transkuba e outras companhias da capital paulista devem ter “irmãs” surgindo nos mesmos endereços que funcionam atualmente.
Uma das características é que na Junta Comercial do Estado de São Paulo estas empresas não aparecem com os nomes dos donos, mas de diretores que, inclusive, têm o mandato constituído e com prazo determinado.
Outra característica é que estas “novas” empresas de grupos antigos foram constituídas nos últimos meses do ano de 2018, ou seja, perto da data de abertura de envelopes da licitação, marcada para 23 de janeiro.
São estas companhias que devem apresentar as propostas. Muito embora, os nomes “antigos” também devem participar.
Além de serem “empresas novas”, sem nenhum tipo de questionamento jurídico ou fiscal, estas viações de grupos tradicionais que estão surgindo também foram criadas com vistas ao novo modelo de linhas desenhado pelo poder público.
Pela proposta da prefeitura, o sistema de transportes que hoje tem um subsistema local (antigas cooperativas que operam nos bairros) e um subsistema estrutural, vai ser dividido em três tipos de operação.
Será incluído o subsistema de articulação regional, que vai ser intermediário, sendo formado por linhas que vão ligar os bairros até às centralidades regionais (por exemplo: Jardim Marajoara ao Jabaquara) ou então que ligarão regiões diferentes sem passar pelo centro da cidade.
É justamente a criação deste subsistema intermediário que deve provocar um rearranjo entre empresas da cidade de São Paulo, isso porque, o novo conjunto de linhas vai pegar parte do que hoje é operado pelas empresas do subsistema estrutural e parte das operações do subsistema local.
A Viação Cidade Dutra, que tem consigo a Viação Grajaú, controlada majoritariamente pela família do empresário José Ruas Vaz, deve continuar atuando na região também e assumiu uma pequena parte das linhas da Tupi.
Outra companhia de ônibus que deve se destacar ainda mais na zona Sul, mas com origem no subsistema local, é a Transwolff Transportes e Turismo.
A Transwolff surgiu da cooperativa de “perueiros” Cooper Pam e hoje tem como principal sócio, Luiz Carlos Efigênio Pacheco. A empresa também assume outra parte das linhas que eram de responsabilidade da Tupi.
Integra também a sociedade da Transwolff, a M.J.S. Participações, composta por Pacheco e Moisés Gomes Pinto.
A companhia, além de renovar grande parte de sua frota, inclusive para as novas operações na parte das linhas que eram prestadas pela Tupi, tem participado de projetos especiais, como a operação experimental de 15 ônibus elétricos fabricados pela BYD cuja geração de energia vai contar com uma fazenda dotada de placas de painéis solares.
A eletricidade será gerada por energia solar, sendo lançada para o Operador Nacional do Sistema, que fará a compensação em forma de crédito.
Essa energia é usada por uma infraestrutura própria na garagem para abastecer os ônibus elétricos.
Os três primeiros ônibus tiveram direito a apresentação do prefeito Bruno Covas.
Relembre:
VIAÇÃO GRAJAÚ:
Outro novo nome da área de transportes na cidade de São Paulo é a Viação Grajaú S.A.
Imagens em redes sociais mostram já um veículo com esta inscrição. O ônibus possui as mesmas cores do lote 06 da zona Sul de São Paulo, com a indicação de região na cor azul clara.
A empresa é registrada no mesmo endereço da Viação Cidade Dutra, empresa da família de José Ruas Vaz, que está entre os maiores empresários de ônibus da capital paulista.
O número de telefone ao passageiro estampado na lataria do ônibus que tinha sido pintado é o mesmo utilizado pela Viação Cidade Dutra.
A “nova” empresa está registrada, segundo a Jucesp – Junta Comercial do Estado de São Paulo em nome de Edson Gonçalves e João Ferracini Neto.
Estes nomes não constam nos registros oficiais da Viação Cidade Dutra na Jucesp.
Viação Grajaú:
Viação Cidade Dutra
VIAÇÃO SUDESTE:
A Viação Sudeste surge em um dos endereços da Via Sul Transportes Urbanos Ltda, operadora da área 05 – verde escuro, zona Sudeste.
A Via Sul é controlada majoritariamente pelas famílias Abreu e Ruas, que possuem a maior parte das linhas de ônibus do subsistema estrutural da cidade.
A “nova empresa”, porém, está registrada em nome de dois diretores com mandatos que vão até 13 de novembro de 2021: Claudinei de Souza Mariano e Sônia Regina Zeronian Mattoso.
O capital inicial é alto, R$ 15,17 milhões (R$ 15.172.000,00).
O endereço da “nova empresa” é em uma das garagens da Via Sul, Rua Guaiana, 608, no Jardim Maria Estela, na zona sudeste.
O Diário do Transporte apurou que por causa da licitação do sistema de ônibus da cidade de São Paulo outras empresas devem mudar a razões sociais.
O objetivo destas mudanças é adequar as companhias ao novo modelo de transportes e formação de consórcios e de sociedades de propósito específico.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes