21/08/2015 08:33 - O Globo
O ponto de ônibus na
base naval da Ilha do Mocanguê, sobre a Ponte Rio-Niterói, transformou-se num
verdadeiro terminal rodoviário, fazendo com que os veículos que operam 159
linhas intermunicipais, autorizados a parar ali, submetam seus passageiros a
longos congestionamentos, sobretudo no sentido Niterói, na volta para casa. Não
raramente, o tráfego de carros de passeio flui melhor do que o de quem opta
pelo transporte público. Usuários reclamam que tem dias em que perdem até 20
minutos na fila que se forma na pista do canto ou esperando pela condução.
Eles, assim como técnicos do Detro, atribuem os engarrafamentos à utilização do
Bilhete Único, que permite a viagem em mais de um ônibus sem ter que pagar o
preço cheio da passagem. Márcio Barbosa, superintendente do Sindicato das
Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio (Setrerj), diz que o
transtorno poderia ser amenizado se fosse criada uma faixa exclusiva para os
ônibus: "O problema não é o ponto, mas sim a retenção que acontece após,
dificultando a saída dos ônibus”. A Ecoponte diz que o contrato de concessão
prevê a ampliação dos pontos da base naval, permitindo que quatro ônibus parem
simultaneamente, mas a obra está prevista somente para 2017.
"Agora não dá para falar”, limita-se a dizer um trabalhador
quando abordado pela equipe de reportagem. Ele corre ao longo faixa de
rolamento da direita para não perder o ônibus. Na mesma cena, algumas pessoas
sentadas na mureta, outras em pé, batem os pés impacientes. Os mais calmos
escutam músicas em seus fones de ouvidos. O clima, semelhante ao de um terminal
de ônibus, acontece no ponto da Ilha do Mocanguê, em plena Ponte Rio-Niterói,
no sentido Niterói, todos os dias úteis da semana, normalmente a partir das
18h. Pela manhã, o mesmo ocorre no sentido Rio. O local há muito deixou de
atender majoritariamente aos funcionários da base naval e se transformou numa
espécie de área de transbordo para quem trabalha no Rio e mora em Niterói e São
Gonçalo.
— Todos os dias, saio do trabalho em Botafogo e pego
qualquer ônibus que passe pela Ponte. Aqui, tenho quatro opções para chegar em
casa, em São Gonçalo. É a forma mais barata e que leva menos tempo — conta o
técnico de telecomunicações Kelvin Gomes.
FACILIDADES DO BILHETE ÚNICO
A bióloga Raquel Cesário, que trabalha na Fiocruz, adota a
mesma prática. Ela afirma que costuma esperar, na base naval, cerca de dez
minutos até a chegada de qualquer ônibus que passe pelo Ingá. Tempo semelhante
ao que os motoristas de ônibus gastam na fila que se forma na pista do canto da
Ponte até chegarem ao recuo do ponto.
No dia em que a equipe do GLOBO-Niterói esteve no local, o
tempo médio de travessia era de 17 minutos, mas os ônibus perdiam cinco deles
na fila.
— Todo dia é assim. Tem vezes que fico 20 minutos só para
sair daqui — grita um motorista da linha 101D (Niterói-Candelária), que segue
livre depois de passar pelo Mocanguê.
Os passageiros, bem como os técnicos do Detro, atribuem ao
Bilhete Único o aumento do movimento do ponto, visto que os passageiros podem
utilizar dois transportes por R$ 5,90. Os ônibus de 159 linhas intermunicipais,
além das linhas interestaduais, são autorizados a embarcar e desembarcar no
local. Parar ali é considerado por muitos um benefício para o bolso, e para o
tempo, Mas circular pelas pistas de rolamento — o que é feito muitas vezes
pelos passageiros quando saltam dos ônibus — figura como infração leve de
acordo com o artigo 254 do Código de Trânsito Brasileiro. Segundo a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), no entanto, a infração cometida não é regulamentada.
O chefe da 2ª Delegacia da PRF, Daniel Cerqueira, contudo, afirmou que vai
reforçar a fiscalização nos pontos de ônibus da Ilha do Mocanguê.
— Vamos reforçar o policiamento no local e orientar as
esquipes de ronda a retirar os pedestres das pistas. Os motoristas de ônibus
que pararem em locais proibidos também serão autuados.
O Detro esclarece que é considerado infração os ônibus
pararem, indevidamente, fora dos pontos pré-determinados, sendo a multa de R$
600,22, assim como trafegar com a porta aberta, cuja multa é de R$ 2.400,87.
Embora o órgão afirme que os pontos são de responsabilidade municipal, informa
que vai intensificar a fiscalização no local.
FAIXA EXCLUSIVA E AMPLIAÇÃO DO PONTO
O presidente da Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans),
coronel Paulo Afonso, disse que não pode interferir porque a Ponte é uma
rodovia federal. Ele pediu ao Detro para ordenar o ponto:
— O problema maior (para quem está em Niterói) é no ponto
sentido Rio. Pela manhã, os ônibus formam uma fila que começa no ponto e se
estende pela faixa um da ponte (a do canto). Provocam engarrafamentos com
reflexos nas nossas vias.
Superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes
Rodoviários do Estado do Rio (Setrerj), Márcio Barbosa aponta como alternativa
a abertura de uma faixa exclusiva para ônibus na Ponte:
— O problema não é o ponto, mas sim a retenção que acontece
após. Se a faixa um da Ponte fosse exclusiva para ônibus, não aconteceria a
retenção.
Ainda segundo Barbosa, a faixa exclusiva aceleraria o
embarque e desembarque:
— Atualmente, somente três ônibus podem fazer esta operação
simultaneamente para evitar riscos. Com a faixa exclusiva, um número maior de
ônibus poderia fazer ao mesmo tempo a operação.