10/12/2015 07:01 - Folha de SP
ANDRÉ MONTEIRO / RODRIGO
RUSSO
Dados inéditos apontam que as mortes em acidentes de
trânsito caíram 5% no Brasil em 2014: de 42.266 em 2013 para 40.294 no ano
passado.
Isso significa que, pela primeira vez em uma década e meia,
desde 2000, houve redução do número total de vítimas por dois anos seguidos
–uma tendência que deve ser mantida em 2015, devido à crise econômica, que
retira veículos das ruas.
Com a segunda queda consecutiva, o país chega à taxa de 19,9
mortos por grupo de 100 mil habitantes –índice mais baixo desde 2010. Em 2013,
a taxa estava em 21 mortos por 100 mil habitantes.
Não foi o suficiente, contudo, para cumprir a meta do Plano
Nacional de Trânsito divulgado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
2004. O documento determinava que o país alcançasse taxa de 11 mortes para cada
100 mil habitantes até o fim de 2014 –quase a metade do número oficial.
O ritmo da redução, ademais, é ligeiramente menor do que o
visto em 2013, quando o país freou a escalada de mortes e teve queda de 6%.
Os números de 2014, preliminares, são do sistema do SUS, e
podem ser revisados.
É comum, aliás, que a queda seja menor nas estatísticas consolidadas. No ano passado, os dados preliminares apontavam redução de mortes de 10%, mas após revisão o número ficou em 6%.
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LEI SECA
A principal novidade de 2013 foi o início da nova Lei Seca,
mais rigorosa, cuja fiscalização continuou a surtir efeito nos números de 2014.
Colaboraram ainda para o quadro de menor letalidade nos
últimos anos a melhoria de itens de segurança nos veículos e a redução da
velocidade nas cidades, seja por ação do poder público, seja pelos
congestionamentos.
Com o novo resultado, o país fica mais próximo de atingir a
meta com a qual se comprometeu perante a ONU: cortar a projeção de óbitos pela
metade até 2020.
Para que o país ficasse na meta da década, a redução deveria
ter sido de 6%. E, para continuar nos trilhos até 2020, precisará manter recuos
similares todos os anos, apesar do crescimento da frota e da população, até
atingir o patamar de 29,4 mil óbitos.
Na comparação internacional, a taxa brasileira de mortes por
acidentes ainda está muito acima daquela verificada na média dos países ricos:
8,3 mortes por grupo de 100 mil habitantes.
Além disso, o número de feridos em acidentes continua
crescendo. Em 2014, o aumento nas internações hospitalares em decorrência de
acidentes foi de 4% em relação ao ano anterior, de 170 mil para 176 mil.
Para especialistas, isso mostra que os acidentes não estão
diminuindo, e sim ficando menos graves.
José Aurélio Ramalho, presidente do Observatório Nacional de
Segurança Viária, diz à Folha que o cenário continua preocupante.
"É positiva a diminuição de mortes, mas o crescimento de sequelas permanentes em função de acidentes ainda gera altos custos sociais e econômicos ao país. Temos um longo caminho a percorrer."
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REDUÇÃO DE VELOCIDADE
Depois de registrar um aumento no número de mortes em
acidentes de trânsito no ano passado, a cidade de São Paulo tem obtido
resultados mais satisfatórios em 2015.
Neste ano, a gestão de Fernando Haddad (PT) acelerou o
programa de redução da velocidade máxima permitida nas vias paulistanas, como
as marginais Tietê e Pinheiros.
Em 2014, o índice municipal foi de 10,47 mortos para cada
grupo de 100 mil habitantes. Já no mês de junho deste ano, a taxa tinha sido
reduzida para 9,45 mortos por 100 mil habitantes.
Embora seja melhor que a média brasileira, o número ainda é
considerado alto, inclusive pelo secretário de Transportes, Jilmar Tatto.
A meta estipulada com as Nações Unidas é que o município
chegue à casa de 6 mortos por 100 mil habitantes até 2020. Mantido o ritmo
atual de queda –um cenário que não é simples–, a CET (Companhia de Engenharia
de Tráfego) prevê que o objetivo será cumprido já em 2017.
NÚMEROS
Nos primeiros oito meses deste ano, a cidade registrou 686
mortes em decorrência de acidentes de trânsito, uma queda de 20% na comparação
com as 861 vítimas do mesmo período de 2014 –maior redução em dez anos e menor
número absoluto para esse intervalo de meses.
Houve queda no número de mortes de todos os tipos de
usuários: pedestres, motociclistas, motoristas, passageiros e ciclistas.
Segundo a gestão Haddad, essa melhora é reflexo de suas
iniciativas, como a redução de limites de velocidade, a implantação de faixas
de ônibus e de ciclofaixas.
Os resultados da cidade, no entanto, são muito similares aos
registrados nas estradas do Estado nos primeiros oito meses deste ano.
As mortes em acidentes de trânsito caíram 21% nas principais
rodovias de São Paulo nesse período –a maior diminuição registrada em mais de
uma década e meia.
Esse cenário leva especialistas a avaliar que a redução da
letalidade no trânsito paulistano também está relacionada à forte desaceleração
da economia no país, que tira veículos de circulação.