Motoristas e cobradores de ônibus têm 70% de risco de contágio pelo novo coronavírus no Brasil, dizem pesquisadores

13/04/2020 09:35 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI

Os motoristas e cobradores de ônibus urbanos, metropolitanos e rodoviários (motoristas) estão entre os profissionais com maior risco de ser contaminados no Brasil pelo novo coronavírus, que surgiu na China e em poucos meses aterrorizou todo o mundo.

São 350 mil trabalhadores em ônibus que correm 70% de risco de serem contaminados devido ao exercício de sua profissão.

É o que aponta um levantamento do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), que mapeou mais de 2,5 mil ocupações no País, segundo a Agência Brasil e o site do instituto.

A metodologia foi semelhante a uma apuração feita pelo The New York Times, nos Estados Unidos, adaptada para a realidade brasileira com base na Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho, e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia.

O estudo foi liderado pelo pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro da Coppe, que é coordenado pelo professor Jano Moreira de Souza. Segundo Yuri, esse é um momento importante de reflexão sobre o trabalho por parte do governo, das empresas e de quem realiza estudos sobre a área.

“Quando a epidemia do Coronavírus passar e a atividade econômica voltar ao normal, nem todos os profissionais que atuam no setor varejista ou similar continuarão empregados, apesar dos acordos que o governo está fazendo com os empresários”, estima em nota da Coope.

Os profissionais das áreas de saúde, que somam 2,6 milhões de trabalhadores, sofrem risco acima de 50% de uma maneira geral. Mas o dado engloba desde um fisioterapeuta de área ortopédica que não atua com pacientes contaminados até quem trabalha dentro de uma UTI com pessoas acometidas pela coronavírus. Nas diferentes funções dentro da área de saúde, há riscos variados.

O estudo relaciona as profissões mais arriscadas:

– Profissionais de Saúde Bucal (12.461 trabalhadores): 100% de risco de contágio

– Motoristas de ônibus – inclui cobradores – (350 mil profissionais): 70% de risco de contágio

– Professores (caso as aulas não estivessem suspensas): 70% de risco de contágio

– Vendedores varejistas, operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio (5 milhões de trabalhadores): 53% de risco de contágio

Como mostrou o Diário do Transporte na última semana, já há diversos casos de profissionais do sistema de ônibus na capital paulista contaminados pela Covid-19, doença originada na China e ocasionada pelo novo coronavírus.

O Sindmotoristas, que representa a categoria, estima mais de 15 internações e ao menos quatro óbitos, mas a entidade acredita que pode haver mais casos.

Nem a SPTrans – São Paulo Transporte, responsável pelo gerenciamento do sistema, e nem as empresas de ônibus responderam aos questionamentos do Diário do Transporte, o que indica que não há um acompanhamento ou um enfrentamento da questão de forma sistematizada e integrada. Não existe uma base de dados entre os trabalhadores de transportes e sem o acompanhamento dos casos fica mais difícil enfrentar o problema.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2020/04/09/covid-19-chega-aos-onibus-de-sao-paulo-e-ja-atinge-motoristas-e-cobradores/

Motoristas, cobradores e demais funcionários da linha de frente dos transportes reclamam de abandono.

Os profissionais em todo o Brasil que entram em contato com o Diário do Transporte informam que são poucas as empresas que têm fornecido integralmente os produtos necessários para a proteção, como máscaras para troca constante, álcool em gel individual, sanitários com sabonete líquido, luvas para uso emergenciais. A lotação dos ônibus, com a redução da frota pela queda de demanda, também expõe os trabalhadores de transportes a riscos à saúde.

Diário do Transporte mostrou que em 28 de março de 2020, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem mostrado posições mais sérias que as do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia, já defendia que motoristas e cobradores de ônibus usem máscaras.

Relembre:

https://diariodotransporte.com.br/2020/03/28/ministro-da-saude-defende-uso-de-mascara-por-motoristas-de-onibus-para-conter-avanco-do-coronavirus/

DICAS IMPORTANTES:

– lave muito bem as mãos por mais de 20 segundos e várias vezes ao dia.

– passe álcool em gel nas mãos sempre que possível

– evite sair de casa sem necessidade

– se tiver de sair, procure usar máscara, mesmo que seja feita de pano. É preciso que a máscara tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja, dupla face. Os materiais indicados são em tecido de algodão, tricoline, TNT.

– os cuidados com pessoas com 60 anos ou mais (as mais suscetíveis a consequências mais graves) devem ser redobrados

– faça a limpeza constante de superfícies, como maçanetas, teclados e mouses de computador, mesas, cabeceiras de cama, cadeiras, interruptores de luz e abajur etc, sempre com desinfetantes de uso geral.

– muita atenção com os sanitários: água sanitária (cândida) pode ser uma grande aliada também.

– tente manter uma distância de um a dois metros das demais pessoas sempre que possível, mesmo dentro de casa

– não compartilhe objetos de uso pessoal, como faca, garfo, colher, copos, roupas de cama

– idosos com 60 anos ou mais devem ser vacinados contra a gripe. Não existe ainda vacina contra o coronavírus, mas uma gripe comum pode fragilizar o sistema imunológico

– se alimente bem. Não exagere na quantidade de alimentos, mas não é hora de fazer grandes regimes

– em casa, no isolamento, não fique parado. Caminhe dentro de casa ou do apartamento, faça alongamentos, se mexa dentro da limitação do seu corpo.

– inspire e espire sempre. Isso é um bom exercício para os pulmões.

– cuide da cabeça: se informe, acompanhe o noticiário, mas também se distraia: ouça a música que gosta; veja fotos de família; arrume a casa; seja criativo

– se estiver em home office (trabalho em casa), crie uma rotina de início e fim de jornada, para não trabalhar demais e nem de menos. Deixe o local de trabalho arejado, bem iluminado e com boa ergonomia, ou seja, atenção para postura, tamanho da cadeira, da mesa, etc

– exercite sua fé, independentemente de religião. Ore, leia a Bíblia, medite, libere perdão, louve. Uma dica de leitura é o Salmo 91 – mesmo que você não tenha uma religião cristã, a mensagem é interessante.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes