Mulheres trocam sandálias por chinelos para enfrentar metrô lotado

26/10/2014 08:30 - O Globo

RIO — Maquiagem perfeita, roupa impecável, cabelos escovados e... chinelos de dedos. Esse foi o jeito encontrado por mulheres que trabalham calçadas com sapatos de salto alto, mas precisam enfrentar a rotina do metrô lotado. A estratégia passou a ser adotada à medida que o transporte foi ficando mais cheio e a condução tornou-se um transtorno. E a transformação é simples e rápida: as trabalhadoras saem de casa de salto, trocam o sapato por um chinelo de borracha enquanto esperam o metrô e quando chegam à estação de destino, em segundos, voltam a subir no salto. Num passe de mágica, estão prontas e alinhadas para mais um dia de trabalho. A estratégia também é adotada por mulheres que andam de metrô em Nova York.

Analista de sistemas de uma empresa terceirizada da Petrobras, Andreza Cristina Rosa da Silva, de 32 anos, não abre mão de seu chinelinho para trabalhar. Acostumada a andar com saltos muito altos, ela adotou uma alternativa mais confortável para encarar os solavancos do transporte público. Diariamente, Andreza sai de casa, na Pavuna, com seus saltos de 15 centímetros. A elegância somente é quebrada quando entra na Estação Rubens Paiva, da Linha 2. No banquinho da plataforma, ela troca o salto pelas sandálias de dedos. Com o calçado mais confortável, ela viaja no metrô, em pé e tranquila, por cerca de 35 minutos. Em seu destino, a Estação Carioca, faz mais uma pequena pausa para novamente colocar o salto e caminhar com elegância rumo ao trabalho.

— Optei por usar o chinelo porque é cansativo ir em pé no metrô com saltos. Além de tudo, evito me machucar com os solavancos e até mesmo ferir outras pessoas se, por acaso, pisar no pé de alguém — explica a analista de sistemas.

Estilo de sobra

Durante a ida para o trabalho, Andreza encontrou uma companheira de chinelinho. Ao lado dela no vagão do metrô, a consultora imobiliária Renata Cristina Garcia, de 26 anos, diz que há tempos optou pelo conforto quando tem que enfrentar o transporte lotado. Moradora de Vicente Carvalho, Renata acrescenta que, mesmo de chinelos, abusa do estilo com modelos mais modernos. O visual impecável ela conclui na Estação Uruguaiana, onde desce todos os dias para o trabalho e lança mão de seu principal acessório: um par de sapatos com saltos altíssimos e finos.

Desde o início da manhã e até por volta das 10h30m, os assentos das estações do metrô do Centro cada vez mais vêm sendo ocupados por mulheres trabalhadoras de todas as idades, que fazem a troca rapidamente, sem perder a elegância e o charme.

A alternativa da sandália de dedos também foi adotada pela bancária Rita de Cássia Silva Lima, de 46 anos, que pega o metrô na Estação Triagem e busca a segurança, muito mais do que o conforto, quando troca os calçados. Ela conta que, no corre-corre para pegar uma composição, acabou perdendo um dos sapatos. Por isso, faz questão de fazer a paradinha e, como tantas outras companheiras de chinelinho, garante que não se atrasa quando para na Estação Carioca para colocar seus saltos 15:

— Como já perdi um sapato no meio da confusão, imaginei que uma pessoa pode até torcer o tornozelo na correria. E usar a sandália baixa em nada atrapalha a maneira de me vestir para o trabalho. É só chegar na estação, trocar o chinelo pelo salto fino e estou pronta!

Mesmo tendo que acordar muito cedo para estar no vagão já às 6h, a agente monitora de uma telefônica, Lilian Figueiredo, de 51 anos, também não abre mão da elegância e de suas sandálias de dedos para enfrentar o metrô sempre lotado.

— Resolvi adotar essa estratégia há uns dois anos. É muito mais confortável. Quando chego na Carioca, ponho o salto e me transformo com estilo — conta, satisfeita.

Vídeo: Cinderelas do Metrô