Novos prédios abandonam garagem e criam área para receber entregas

10/11/2019 08:10 - Folha de SP

Central refrigerada para guardar encomendas, lavanderia, coworking, academia de ginástica. Esses são alguns dos espaços e serviços compartilhados oferecidos pelos empreendimentos que apostam em um novo perfil de morador: solteiros ou casais jovens que abrem mão de metros quadrados privativos, mas exigem praticidade.

O Axis Vila Mariana, em construção pela Trisul, terá estúdios a partir de 23 metros quadrados e cardápio de serviços que inclui coworking, academia de ginástica e uma central de delivery com geladeira e armários, onde podem ser armazenadas entregas enquanto o morador não chegar em casa.

“Como as unidades são pequenas, o condomínio funciona como uma extensão de casa. Na prática, a pessoa só dorme e come alguma coisa no apartamento, como se fosse um hotel”, afirma Lucas Araújo, superintendente de marketing da Trisul.

Repaginação das antigas quitinetes, os novos estúdios apostam no alto padrão e exibem arquitetura assinada.

No ID Home and Life Style Jauaperi, prédio de uso misto que a Eztec está erguendo em Moema (zona sul de São Paulo), as áreas sociais foram desenhadas pelo arquiteto João Armentano e os jardins foram projetados pelo paisagista Alex Hanazaki.

Já a planta da academia de ginástica, cujo uso estará embutido no condomínio, foi desenhada pela rede de academias Cia Athletica.

“Esses clientes querem morar em lugares bonitos e arrojados”, explica o publicitário da Eztec, Alexandre Tagawa.

Mesmo conceito pauta a lista de serviços oferecidos aos condôminos. Quem adquirir uma unidade em um dos empreendimentos da linha IS, da MAC, terá direito a usar bicicleta, furadeira, escada, batedeira e até mala do condomínio, sem custo extra.

“A geração que vive nesses apartamentos quer usar, não ter”, explica Ricardo Pajero, gerente comercial da MAC.

A ordem é aproveitar cada centímetro quadrado. O antigo salão de festas, que permanecia vazio durante boa parte do ano, cedeu lugar a espaços gourmet equipados e mais aconchegantes, onde é possível receber amigos ou conviver com os vizinhos.

Morador há um ano de um apartamento de 39 metros quadrados no Parkway Panamby, empreendimento da Camargo Corrêa, o economista Felipe Tocalino, 33, é usuário intensivo de toda a estrutura do condomínio.

“Formamos um grupo de moradores no WhatsApp e sempre nos encontramos no espaço gourmet, na sala de jogos ou na churrasqueira. Foi assim que conheci minha namorada”, conta.

Ele também usa a quadra de squash, a piscina e a academia, tudo incluso nos R$ 400 mensais da taxa de condomínio. Só a lavanderia é paga à parte: cada ficha para lavar ou secar custa R$ 5,50.

A configuração da área de lazer foi feita com base em uma pesquisa de mercado, de acordo com Leandro Marveis, que é gerente de negócios da Camargo Corrêa.

“Já não se pode mais lançar empreendimentos desse perfil sem academia, lavanderia e espaço para animais de estimação. Os coworkings são tão procurados que estão migrando para edifícios com unidades maiores, de padrão familiar. Já as garagens estão se tornando dispensáveis”, diz.

De acordo com Roberto Pinheiro, sócio da BBZ, que administra condomínios e presta consultoria para incorporadoras, a variedade de serviços oferecidos não chega a implicar em taxas mensais mais altas porque os projetos já nascem com esse perfil.

“O que mais encarece o valor do condomínio é o custo de pessoal. Quando o prédio é preparado para tais serviços compartilhados, a tecnologia permite que a equipe seja enxuta”, diz Pinheiro.

A figura do zelador dá vez ao gerente predial, que lida com as pessoas e também domina as tecnologias.

Pinheiro diz que o ideal para apartamentos compactos é que a taxa condominial mensal fique entre R$ 15 e R$ 20 por metro quadrado. Para chegar a este valor, muitos prédios investem na oferta de serviços acionados por aplicativo —cabe ao condomínio apenas manter espaços equipados. 

Através do App Space, moradores dos prédios da Vitacon podem contratar manicure, massagista, atendimento médico, petshop e cozinheiro. Quando os fornecedores chegam ao prédio, fazem o atendimento em áreas comuns reservadas para cada fim.

Segundo Ricardo Pajero, da MAC, os aplicativos já começaram a revolucionar a estrutura dos condomínios. As saunas, por exemplo, que gastavam muita água e eletricidade e raramente eram usadas, cederam lugar ao espaço de beleza, em que atuam profissionais acionados por aplicativo.

“Espaços que haviam sumido estão voltando repaginados. As pesquisas pós-ocupação que fazemos mostram que tudo é cíclico”, diz Pajero.

OS ESPAÇOS DA MODA E OS QUE FICARAM PARA TRÁS

Em alta

Coworking A área com mesas coletivas para trabalho é obrigatória, mesmo para aqueles com plantas maiores

Quadra de esportes Seguem intensamente usadas, agora adaptada para outras modalidades, como o squash

Espaço gourmet Bem equipados, substituem os antigos salões de festas

Lavanderia Na maioria delas, os moradores adquirem fichas para acionar as máquinas, e o espaço inclui área de espera

Bicicletário O ambiente para guardar as bikes dos moradores pode incluir também bicicletas para uso compartilhado e oficina para pequenos reparos

Piscina São menores e integradas a espaços ao ar livre, com paisagismo

Churrasqueira O ambiente ganha decoração mais atraente, além de espaço para mesas e forno de pizza

Espaço pet Pequenas áreas verdes para que os animais de estimação se exercitem são padrão

Em baixa

Ofurô e spa Subutilizados e fonte de despesas para o condomínio, estão sumindo dos projetos

Cinema Serviços de streaming, como Netflix e Amazon Prime, tornaram as salas de projeção obsoletas

Garagem Novo perfil de morador troca o carro próprio pelo transporte público e por aplicativos 

Brinquedoteca Solteiros, casais sem filhos e idosos são maioria entre os moradores dos prédios de compactos, o que faz com que espaços infantis fiquem ociosos

Salão de festas Como os eventos para muitos convidados são cada vez mais raros, as incorporadoras têm usado a área para outros fins