Na foto, a estação de Botafogo cheia - Agência O Globo /
Pedro Kirillos
Quando as portas se abrem, homens, mulheres, idosos e
crianças correm, aos trancos, quase uns por cima dos outros, para tentar
conseguir um bom lugar. Em pé, claro, porque não há mais onde se sentar quando
o metrô chega à Pavuna, estação terminal da Linha 2, onde, teoricamente, os passageiros
deveriam embarcar num trem vazio, com toda calma. Mas o sufoco diário que é
andar de metrô no horário do rush obriga as pessoas a criarem estratégias para
o transporte, que opera no limite, levando diariamente uma média de 650 mil
passageiros, como mostra O GLOBO na segunda reportagem da série "Imobilidade
urbana”. Ozeas Leal, de 31 anos, embarca todos os dias, por volta das 6h, em
Vicente de Carvalho, e anda seis estações para trás, até a Pavuna, para
conseguir lugar no trem:
— Acordo uma hora antes, levo mais 40 minutos de viagem, mas
chego ao trabalho.
Ele não é o único. Às 6h, a estação de Coelho Neto já está
lotada, mas não na plataforma de embarque para o Centro, como seria natural.
Quando o trem sentido Pavuna chega, todos embarcam e tratam logo de pegar um
lugar. O cenário é o mesmo nas estações Colégio, Acari, Fazenda Botafogo e
Engenheiro Rubens Paiva. Quem não consegue mais assento procura se posicionar
em algum lugar, pois sabe que, ao chegar à Pavuna, não conseguirá mais se
mover.
— É a volta dos que não foram — brinca Oscar Silva, um
senhor que, ao embarcar na Pavuna, já encontra o trem sem assentos disponíveis.
Defeitos constantes
em elevadores
A estudante de odontologia Karine Caldas Pinto, de 23 anos,
explica a curiosa estratégia.
— Não é só pelo conforto de ir sentada. Se não fizer assim,
nem consigo entrar no vagão de tão lotado que ele chega — diz a jovem, que
embarca em Coelho Neto, segue até a Pavuna, três estações depois, para então
voltar em direção à Cidade Nova, onde finalmente desembarca.
O "jeitinho” não serve para quem embarca no ponto final, na
Pavuna, mas esses passageiros já desenvolveram suas próprias táticas.
— Quando embarco na Pavuna, já fico perto da porta, para
saltar em Acari. De lá, volto para a Pavuna num trem mais vazio. Também não
consigo sentar, mas, pelo menos, fico perto de algum ferro para me segurar, ou
encostada na parede, que é mais seguro — conta Valéria Lima, moradora da Pavuna
que trabalha no Centro.
O sufoco dentro dos vagões não é o único problema enfrentado
pelos passageiros do metrô. Os usuários também reclamam das frequentes
paralisações no sistema, o que aumenta o intervalo entre os trens e lota as
plataformas de embarque. No dia 28 de janeiro, centenas de passageiros ficaram
presos, por mais de uma hora, dentro dos vagões, devido a uma pane. Depois de
liberados, alguns tiveram de caminhar sobre os trilhos, pelos túneis escuros,
até a plataforma mais próxima. Oito estações da Zona Sul ficaram fechadas em
pleno rush da manhã.
Outros pontos nevrálgicos são o ar-condicionado dos trens —
especialmente dos antigos, já que os novos têm um sistema mais potente — , e
equipamentos como escadas rolantes e elevadores, que dão defeito
constantemente, dificultando o acesso de idosos e pessoas com deficiência.
Marina Vieira Alves, de 40 anos, mãe de Vitória, de 14, cadeirante, não poupa
críticas:
— Os elevadores vivem quebrados. Há pouco tempo, o da Estação
Flamengo não estava funcionando. Tive que subir com a cadeira pela escada
rolante, sem a ajuda de funcionários. Não fossem os passageiros, a cadeira
teria tombado.
Na última quarta-feira, Marina só conseguiu entrar com a
filha num trem superlotado em direção ao Centro, em pleno horário do rush,
graças à boa vontade dos passageiros:
— É sempre um sufoco para entrar. E nunca tem ninguém do
metrô para ajudar.
Inaugurado em 5 de março de 1979, o metrô do Rio não
conseguiu nunca ir muito longe. Depois de 34 anos, conta com apenas duas
linhas, 40,2 quilômetros de trilhos e 35 estações, das quais 34 estão em
funcionamento, já que General Osório, em Ipanema, está fechada para as obras da
Linha 4, que ligará a Zona Sul à Barra.
A frota atual é de 42 trens, sendo dois reservas. Desse
total, 15 são modelos novos, comprados na China; outros quatro estão em fase de
teste.
— Até o ano passado, o sistema operava com uma grade de 32
trens, de seis e cinco carros. Hoje, devido à interdição da Estação General
Osório, operamos com 42 trens de seis carros, um aumento de 30% de oferta, e
não tivemos aumento de passageiros no ano passado. A média de usuários é de 650
mil em dias úteis, a mesma de agosto do ano passado — afirma Joubert Flores,
diretor de engenharia da Metrô Rio, concessionária que, em abril de 1998,
assumiu o serviço, até então administrado pelo estado.
"É cheio, mas está na média”, diz executivo
Flores, que afirma conhecer a realidade do sistema
metroviário na hora do rush, garante que ainda cabem mais passageiros nos
trens:
— A capacidade do trem é de seis passageiros por metro
quadrado, e operamos em torno de cinco. É cheio, mas está dentro da média, que
é a mesma utilizada em outros metrôs do mundo. Não é para ser sufoco, mas não é
para ser vazio.
No vaivém diário, o metrô está sempre correndo atrás do
prejuízo. Em 21 de dezembro de 2009, quase 40 anos depois de iniciadas as obras
do trecho inicial entre Tijuca e Ipanema, os trens finalmente chegaram à Praça
General Osório, estação que está sendo quebrada agora para permitir a ampliação
— não prevista — do sistema. Na época, o metrô transportava 550 mil pessoas por
dia, no limite de sua capacidade.
Por mais de três décadas, o metrô circulou com o mesmo
número de trens. Até que veio a promessa de compra de novos vagões. O primeiro
desembarcou no Porto do Rio em abril de 2012, com um atraso de um ano e meio.
Os outros foram chegando aos poucos. De acordo com a concessionária, até o dia
28 deste mês todos os 19 trens — que custaram à empresa R$ 320 milhões —
estarão em condições de operar. A frota só não circulará com a capacidade total
devido às obras na Praça General Osório.
— O dia em que todos os trens estiverem na grade, conseguiremos ter um intervalo próximo de quatro minutos, reduzindo a lotação. O intervalo hoje já é bem menor. No ano passado, era de seis minutos e, atualmente, está em 4,35 minutos nos horários de pico — afirma o diretor da concessionária.