19/05/2013 09:11 - Folha de SP
Testes feitos por engenheiros de segurança e médicos do
trabalho em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte observaram
que ônibus do sistema de transporte público apresentaram nível de trepidação
acima do tolerado pela norma internacional ISO 2.631.
Segundo o médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da
Abramet (associação de medicina do tráfego), que analisou os dados, alguns
ônibus apresentaram vibração de até 1,05 m/s², enquanto o limite recomendável é
de 0,63 m/s² --quase 70% a mais.
"Isso pode ser insalubre, caso a pessoa viaje mais de
duas horas diariamente", alerta o especialista.
Para Paulo Roberto Weingarer Jr., analista técnico do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária), o entre-eixos longo, a motorização [geralmente a diesel] e o acabamento simplório desses veículos ajudam a propagar as vibrações.
CARROS DE PASSEIO
Automóveis sofisticados apresentam menores níveis de
trepidação, tendendo a provocar menos estresse e desconfortos nos ocupantes em
viagens longas.
"Para reduzir os níveis de vibração dos carros de
passeio em cerca de 25% na última década, as montadoras investiram em novas
tecnologias, como compostos novos para a carroceria, melhor escalonamento das
marchas e sistemas isolantes mais eficientes", explica Nilton Monteiro,
diretor da AEA (associação de engenheiros).
Falta de balanceamento das rodas e motor desregulado podem
agravar o desconforto. As motos também receberam melhorias, mas os modelos mais
simples ainda se equiparam aos ônibus em relação a vibrações.
Segundo médicos, mulheres grávidas são mais sensíveis aos
efeitos do balanço do veículo, podendo sofrer até aumento da frequência
cardíaca e mal-estar.
Foi o que aconteceu com a atendente Poliana Borges, 21.
"Notava que meu bebê se agitava muito na barriga quando eu passava mais de
trinta minutos em um veículo. Eu sentia muitas dores abdominais."
Médicos ouvidos pela Folha afirmam que as mulheres devem evitar o volante a partir do quinto mês de gestação.
OUTRO LADO
Prefeitura diz que monitora nível de vibração de sua
frota
Questionada pela reportagem, a prefeitura de São Paulo alega
que a vibração dos ônibus é um item de projeto estabelecido pela montadora do
veículo, e que a homologação dos veículos para comercialização é de
responsabilidade de órgãos como Denatran, Contran e Inmetro.
Em nota, a prefeitura afirma que "a SPTrans vistoria
itens que podem contribuir para gerar vibrações, como a fixação correta de
bancos, catracas e vidros."
Ainda de acordo com a prefeitura, caso seja detectada alguma
vibração excessiva, o veículo fica impedido de operar até que o problema seja
corrigido. São realizados também ensaios para medir o nível de ruído dos
ônibus.
Vibrações
negativas
Estudo mostra que o
estresse do motorista pode estar relacionado à trepidação do veículo e ao
asfalto ruim
Sentir dores musculares ou ficar estressado após dirigir por
longos períodos não é novidade para a maioria dos motoristas. Porém, se esses
sintomas se tornam repetitivos, merecem atenção. A causa do problema pode ser o
excesso de vibrações do veículo.
Essa é a conclusão de um levantamento recente feito pelo
médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, da Abramet (Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego). Ele reuniu diversos estudos na área para elaborar sua
tese.
"O motorista que passa mais de três horas por dia ao
volante está mais sujeito aos efeitos da trepidação, que é inerente ao carro e
pode passar dos níveis aceitáveis devido ao mau estado de algumas vias e à
falta de manutenção do veículo."
De acordo com Alves Júnior, o carona sofre menos, pois não
tem contato com a direção nem com o câmbio, que são pontos de alta vibração por
estarem conectados ao motor e às rodas.
Fazer uma pausa a cada duas horas de viagem e alongamento
ajudam a diminuir os efeitos da vibração, bem como praticar atividade física
regularmente.
Essa foi a solução encontrada pela empresária e
fisioterapeuta Cynthia Castilho, 34, que fica até quatro horas por dia ao
volante de seu Chevrolet Corsa.
"Sentia dores pelo corpo, mas, depois que voltei a
praticar exercícios e pilates, passei a sofrer menos."
ASFALTO BORRACHA
O asfalto ruim também é responsável por agravar os efeitos
da trepidação. "Na cidade de São Paulo, há excesso de buracos e
remendos", diz Nilton Monteiro, da Associação Brasileira de Engenharia
Automotiva.
A prefeitura afirma que tem adotado medidas para melhorar o recapeamento utilizando o "asfalto-borracha", que seria mais durável e provocaria menos impactos.