Passageiro de transporte público quer pontualidade e mínimo de conforto

25/01/2018 07:00 - Folha de SP

O automóvel é o principal meio de locomoção em São Paulo, utilizado por 36,2% da população, de acordo com a última pesquisa sobre a origem e o destino, realizada pelo Metrô. Pudera: dos 17 mil quilômetros de vias da capital, o ônibus transita por apenas 4.000 quilômetros.

O metrô é 5,5 vezes menor que o de Londres, cidade com 72% da população de São Paulo. Ônibus e metrô, juntos, atendem a cerca de 20% da população. Nesse cenário, fica difícil convencer o paulistano a trocar o conforto e a independência do automóvel pelo transporte coletivo.

Para especialistas como Luiz Carlos Mantovani Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público), eficiência é a chave para resolver essa questão. "O atributo mais valorizado pelos paulistanos é a pontualidade, segundo pesquisa feita pela associação", diz Néspoli.

A empresária Carolina Siequeroli, 36, concorda. Para ir ao trabalho, ela pega o trem na estação Imperatriz Leopoldina da CPTM, faz baldeação na estação Barra Funda do metrô e desembarca na República, num trajeto de 40 minutos. "De carro, levaria meia hora a mais."

"A eficiência de uma rede também está na acessibilidade. Esse é o terceiro item mais valorizado na pesquisa da ANTP", diz Néspoli. Privilégio para poucos que, como Carolina, moram próximos de uma estação de trem ou metrô. A dentista Carla Nardi, 50, diz que adoraria deixar o carro na garagem. Se tivesse acesso fácil a uma estação, iria de metrô para todos os lados. "Automóvel seria só para viajar mesmo."

O metrô, aliás, é o transporte coletivo mais valorizado, na avaliação da ANTP. "A parcela da população que pode escolher o meio de transporte está disposta a pagar mais pela rapidez. Mas, para ela, o conforto também é importante", diz o economista Rodrigo Moita, professor de economia do Insper.

Ar-condicionado, rede wi-fi, tecnologia que informa a rua e a numeração do próximo ponto e bancos confortáveis são alguns quesitos que tornariam o ônibus mais atrativo. Uma pequena parcela da frota já conta com essa tecnologia. Mas precisa?

"Eu queria ao menos o mínimo de conforto, ou seja, poder ir sentado ou em pé em um transporte que não supera sua lotação, contar com ar-condicionado e não ter de ficar esperando muito tempo para a chegada do transporte", diz o médico Hélio Fábio Vanucci, 53. Ele mora em Vargem Grande, na Grande SP, e trabalha em um hospital na estrada de MBoi Mirim, no extremo sul da cidade. São 45 km de distância, cerca de uma hora de carro.

"As pessoas se submetem aos congestionamentos porque não há opção", diz o economista Marcos Cintra, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, que calcula o custo das horas perdidas no trânsito pelos paulistanos desde 2008.

Quando se leva em conta o gasto de combustível, o impacto na poluição e na saúde, o custo produtivo do congestionamento soma 8% do PIB da cidade, o equivalente a R$ 450 bilhões. "Não é um prejuízo direto no bolso, mas o desperdício do tempo que o paulistano deixou de produzir ou simplesmente de se divertir", diz Cintra.