Poluição compromete rios e mananciais do país

22/03/2016 07:30 - Valor Econômico

Marcus Lopes | Para o Valor, de São Paulo

As chuvas amenizaram a crise hídrica, principalmente no Sudeste, mas a poluição ainda castiga rios e mananciais brasileiros. Levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica revela que, de 183 rios e mananciais espalhados por 12 Estados e 76 municípios, apenas quatro - cerca de 2% - apresentam trechos com qualidade de água considerada boa. O estudo anual abrange cursos de água em toda a área original da Mata Atlântica, que inclui as duas regiões metropolitanas mais populosas do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.

Este ano foram coletadas amostras em 289 pontos - em alguns casos, como o rio Tietê e a Represa Billings, as amostras são recolhidas em mais de um trecho do reservatório. Deste total, apenas 13 pontos (4,5%) apresentaram qualidade de água considerada boa. Outros 59,2% foram considerados regulares e 36,3%, ruins ou péssimos, não sendo adequados para o uso ou consumo. Os pontos considerados bons ficam todos no Estado de São Paulo: rio Tietê, nos trechos em Biritiba Mirim e Salesópolis; Piray (Indaiatuba); Represa Billings, nos trechos em Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires; e Córrego Paquera, em Ilhabela.

O estudo da ONG revela a situação preocupante em relação às fontes de água potável, um bem que, além de finito, sofre com as transformações econômicas, sociais, urbanas e climáticas. A poluição industrial, que antigamente era a principal forma de contaminação dos cursos de água, cedeu lugar ao esgoto doméstico, em especial nas áreas mais urbanizadas.

"O lixo e a poluição por esgotos são problemas graves, que degradam a qualidade das águas, afetam diversos usos e elevam os custos de captação e tratamento", explica o coordenador técnico da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-SP), Luis Eduardo Grisotto. Ele lembra que o problema não é exclusivo da metrópole paulista. Relatório da Agência Nacional de Águas, de 2013, aponta problemas de qualidade de água em partes dos rios Sorocaba e Jundiaí (SP), Iguaçu (PR) e rios das Velhas, Arrudas e Onça (MG), entre outros.

De acordo com os ambientalistas, mais da metade da poluição - cerca de 60% - é provocada pelo esgoto doméstico não tratado. Outros 30% são oriundos do lixo atirado nas águas, a chamada poluição difusa. Apenas 10% são detritos industriais. "As indústrias se ajustaram à legislação ambiental, que se tornou rigorosa principalmente a partir de 2000", diz Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.

Além do investimento em saneamento básico, é necessário conter a urbanização em áreas de proteção de mananciais, em especial as ocupações irregulares. Malu Ribeiro cita dois trechos de represas na Grande São Paulo - nas represas Billings e Guarapiranga - cujas águas passaram de boa para regular entre 2015 e 2016. "A qualidade da água caiu por conta do adensamento urbano na região", explica Malu, lembrando que mais de cem prédios de habitação popular estão previstos para serem construídos pela Prefeitura de São Paulo no Parque dos Búfalos, às margens da Billings.

"Há uma pressão sobre a represa por conta de um zoneamento que é polêmico", diz Malu, sobre o projeto. O presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs), Luiz Roberto Pladevall, também critica a ocupação de áreas próximas aos mananciais. "São coisas distantes da realidade imediata da maioria das pessoas, mas que afetarão diretamente todos", diz Pladevall.

A Prefeitura de São Paulo alega que a represa não será prejudicada com a construção do conjunto habitacional e que mais da metade da área vai virar parque municipal, com preservação das nascentes.

A urbanização também facilita a poluição difusa - lixo e substâncias sintéticas jogadas ao solo, como agrotóxicos, que acabam sendo arrastadas para a água. "Quando chove, tudo isso vai para o manancial", explica o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) e coordenador do programa Billings Eu te Quero Viva. Ele lembra que parte do esgoto despejado na Billings vem do trecho poluído do rio Tietê, na Grande São Paulo. De lá, parte desse esgoto acaba indo para a Represa de Guarapiranga, responsável por parte do abastecimento da população paulistana.

A Sabesp afirma que desenvolve em parceria com a Prefeitura de São Paulo o Programa Mananciais, para recuperação da Billings e Guarapiranga. No ano passado foram investidos R$ 103 milhões no programa.