17/07/2016 08:42 - O Globo
Os tapumes foram retirados durante a madrugada, e, como num virar de página, no início da manhã, a Praça Antero de Quental, no Leblon, já estava integrada à rotina dos moradores. Eram muitas crianças brincando com os pais, idosos se exercitando e jogando cartas com amigos e gente passeando com cachorros. O fim do barulho e das interdições trouxe movimento ao lugar e alívio para quem conviveu tanto tempo com transtornos. O espaço estava fechado desde outubro de 2012, devido às obras da estação de metrô, que também leva o nome da praça.
— Excelente ver isso aqui aberto novamente. Nos últimos dias, o ruído estava perturbador, mas agora é legal ver a praça movimentada novamente — disse Bruna Menezes, que mora em frente ao lugar.
Afastado dos eventos públicos desde que foi diagnosticado com câncer, o governador licenciado Luiz Fernando Pezão compareceu à reinauguração. Pezão, que estava acompanhado da primeira-dama Maria Lúcia Horta Jardim, falou sobre a alegria de ver os trabalhos concluídos:
— Moro aqui ao lado e fico contente de termos terminado essa obra. O pessoal reclamou, falava que no Rio havia tradição de abrir buraco e não fechar. Mas está aí, entregamos.
IPÊ REPLANTADO E COM PLACA
O ilustre ipê-roxo adotado pelo escritor Rubem Fonseca, batizado de Cassandra, ganhou plaquinha de destaque na praça. O autor comprou briga com o consórcio responsável pela Linha 4 do metrô para preservar a árvore, ameaçada pelas obras, e o ipê acabou sendo transplantado para outro trecho da praça. Ao lado dele, um outro exemplar também foi plantado e chamado de Beatriz pelo escritor.
Mas, apesar do inverno, a manhã quente fez com que frequentadores reclamassem da falta de árvores na praça. Para fugir do sol, os visitantes se concentraram na única área com sombra: o canto junto à Avenida General San Martin. Ali fica o parquinho infantil, que tem uma novidade: um balanço adaptado para cadeirantes.
De acordo com Luíza Nascimento, que mora no bairro, o visual da praça ficou agradável e transmite uma sensação de segurança. Mas a moradora lembrou que a falta de sombra é um problema:
— Pode ver que quase todo mundo ficou concentrado na área onde estão os brinquedos e os aparelhos, porque é o único lugar em que há árvores com copa e bastante sombra.
O casal Ana Maria e José Antônio da Rosa levou o neto Luca para conhecer a praça. Eles aprovaram, mas bateram na mesma tecla.
— A praça está linda. Seria importante ter mais sombra, mas imagino que ainda irão resolver esse detalhe — disse Ana.
No centro da praça, existem dez mesas para jogos. O problema é que não há árvores naquela área, apenas aberturas nos tabuleiros para fixação de barracas. Na única mesa na sombra, quatro senhores jogavam cartas ontem de manhã. Durante as obras, eles haviam transferido a jogo para a Praça Cláudio Coutinho, também no Leblon.
— Há muitos bancos, mas num país tropical ninguém fica se não tiver sombra. Praticamente morre — afirmou João Narciso.
Outra novidade foi a retirada dos tapumes que interditavam trechos das avenidas Ataulfo de Paiva e Borges de Medeiros, por causa das obras do metrô. As vias foram liberadas ao tráfego, e as ruas que tiveram inversão de mão passaram a operar no sentido habitual. Apesar disso, o trânsito ficou muito engarrafado no fim da manhã e no início da tarde. Moradores reclamaram do estacionamento que toma uma das faixas da Ataulfo de Paiva.
Já os comerciantes, que passaram por um período difícil com as restrições naquele trecho do bairro, comemoraram a volta à rotina. Rômulo Rodrigues comprou, há cinco meses, um bar em frente à Praça Antero de Quental, o Bigorrilho, já projetando um aumento na frequência ali:
— Estou preparando um cardápio novo, porque até o público vai mudar agora. Sem dúvida, vai aumentar a demanda.