O Globo
Taxistas atacam carros em ato contra Uber
Após decreto de Haddad, táxis bloquearam vias e veículos de cor preta foram atingidos com ovos e pedras
SÃO PAULO- Horas depois de o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, autorizar por decreto os serviços de transporte individual por aplicativos, como o Uber, grupos de taxistas fecharam importantes vias no entorno da prefeitura da cidade, no Centro, e também a Avenida 23 de Maio, uma das mais importantes ligações entre as zonas Sul e Norte da capital — o já complicado trânsito paulista ficou caótico. Carros foram atingidos por ovos e pedras simplesmente por serem da cor preta, a mesma utilizada por veículos do Uber. Automóveis que tentaram furar os bloqueios foram atacados a socos e pontapés.
A confusão começou após o anúncio de Haddad, no fim da manhã. Por volta das 14h, taxistas começaram a se concentrar em frente à prefeitura, na Rua Líbero Badaró, que foi fechada nos dois sentidos. Conforme iam chegando, eles estacionavam seus carros também no Viaduto do Chá, bloqueando a passagem. No fim da tarde, os taxistas resolveram ocupar a Avenida 23 de Maio. A Polícia Militar acompanhou as manifestações sem, no entanto, reprimir os taxistas que atacaram os carros e motos que furavam os bloqueios. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que todas as ocorrências de agressão serão investigadas.
A prefeitura regulamentou duas modalidades: a carona solidária e o transporte remunerado. Essas duas medidas, segundo o decreto, são fundamentais para elevar a quantidade de passageiros por veículo, atendendo a lógica de mais pessoas em menos carros. Com o ato, a prefeitura paulista passa a ter controle sobre o mercado de transporte individual por aplicativos.
Ao contrário dos táxis, que pagam pela autorização de circulação, os motoristas de aplicativos serão cobrados em cerca de R$ 0,10 por quilômetro. O motorista deverá usar aplicativos credenciados e não precisará de alvará. No caso da carona solidária, ela foi liberada contanto que não haja cobrança visando lucro, nem que seja feita por motorista profissional.
Pelo decreto, haverá ainda um incentivo para corridas por aplicativos em áreas fora do Centro, regiões onde, segundo a prefeitura, há carência de 30% de táxis. A decisão ressalta ainda que o índice de táxis por habitante é menor na capital paulista ( 3,2 táxis por habitante) do que no Rio ( 5,2), na Cidade do México ( 8,8), em Paris ( 8,9) e Buenos Aires ( 13,2). “O decreto é uma oportunidade, ainda, de autorizar e incentivar o uso de tecnologias que permitam o uso mais eficiente do viário urbano”, conclui a prefeitura.
Ao GLOBO, o porta- voz do Uber no Brasil, Fabio Sabba, comemorou a decisão:
— É um primeiro passo para uma regulamentação na cidade.
Para agradar aos taxistas, a Prefeitura os autorizou ao uso do corredor exclusivo de ônibus, à esquerda, desde que estejam com passageiros, entre 6h e 9h e 16h e 20h. Eles também poderão percorrer o corredor da direita, ainda que sem passageiro, além de embarcar e desembarcar usuários nas faixas.
AÇÃO CONTRA O DECRETO
O diretor do Sindicato dos Motoristas nas Empresas de Táxis no Estado de São Paulo, Gilson Bispo, afirmou que o grupo tomará as “providências cabíveis contra o decreto” e que um advogado iria entrar com uma ação para cancelar o decreto. Para ele, a urgência do prefeito Haddad em liberar o Uber está ligada ao fato de um sobrinho dele, Guilherme Haddad, ser gerente da empresa.
— Vamos pedir que a Câmara instale uma CPI para investigar isso. Causa muita estranheza que o prefeito defenda tanto esse tipo de modalidade.
Após negociarem com a polícia, os taxistas começaram a liberar as vias por volta das 19h30m. Um grupo ainda se deslocou para a Marginal Tietê, no Centro, mas se dispersou por volta das 21h.