Primeiro carro elétrico brasileiro veio de Jundiaí

16/03/2016 07:20 - O Globo

Em 1965, ninguém falava em emissões de carbono ou efeito estufa. A gasolina era vendida a troco de bala e não se imaginava que viriam duas crises do petróleo na década seguinte. Mesmo assim, um inventor resolveu fazer, numa oficina de Jundiaí, a 65 km da capital paulista, o primeiro carro elétrico brasileiro de que se tem notícia.

Mauricio Lorensini era um mecânico autodidata. Nasceu em 1924 e, durante a Segunda Guerra, criou um motor movido a água e a ar- comprimido ( prontamente adaptado em um caminhão). Também projetou baterias à prova de descarga inesperada: eram divididas em três ou mais elementos, montados em caixas separadas e que podiam ser substituídos, de forma independente, em caso de avaria. Produzida em série nos anos 50, a invenção tinha um slogan ótimo —“Livre- se do mau elemento” — mas não chegou a revolucionar a indústria de acumuladores. Em 1960, Lorensini já havia patenteado 78 projetos.

Daí que, o inventor resolveu montar “o carro do futuro”, movido a eletricidade. A edição do GLOBO de 23/2/1965 falava da chegada do veículo ao Rio. Tinha chassi de Jeep, mas com um motor elétrico ligado ao câmbio (Lorensini falava que, no futuro, dispensaria a transmissão convencional instalando um motor elétrico em cada roda traseira). As rodas, aliás, pareciam ser de Ford 1929.

Equipado com baterias convencionais, de chumbo- ácido, o carro podia alcançar os 70km/ h, subir ladeiras de 45° e tinha até um motorzinho estacionário a gasolina para recargas de emergência ( e você achando que isso é novidade do BMW i3...). Para ser leve, dispensava carroceria.

O protótipo fora trazido para participar da “Corrida de Calhambeques” promovida pelo Automóvel Club do Brasil. Era um passeio de carros antigos, da Cinelândia à Tijuca, festejando o término da construção do Viaduto dos Marinheiros. O então governador Carlos Lacerda, aliás, inaugurou a obra a bordo do automóvel elétrico dirigido por Lorensini.

O criador desejava produzir o veículo em série e afirmava ter recusado a oferta de Cr$ 20 milhões pela patente. Mas o fim da história foi triste: Lorensini nunca conseguiu ganhar dinheiro com suas invenções e o carro do futuro terminou seus dias desmontado e enferrujado em Jundiaí.