Resolução do Contran vai padronizar os semáforos com sinais sonoros

25/11/2017 09:11 - A Crítica - AM

Os semáforos com sinais sonoros destinados a pessoas com deficiência visual serão padronizados em todo o País, seguindo a resolução nº 704 de 10 de outubro deste ano do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A medida vai beneficiar um universo aproximado de quase 50 mil cegos no Amazonas e tem data limite para os órgãos de trânsito se adequarem: 1º de janeiro de 2020.

Uma das mudanças principais é que, a partir de agora, haverá a identificação dos equipamentos com sinalização em braile e alerta com mensagem verbal de indicação para orientar o pedestre, ao invés de apenas emitir um sinal quando o semáforo está vermelho.

Segundo o Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização de Trânsito (Manaustrans) em Manaus existem um total de 12 semáforos sonoros instalados na capital amazonense. “No total, em toda a cidade, são 250 cruzamentos com semáforos”, informou a assessoria de comunicação do órgão municipal.

A reportagem encaminhou ao órgão questionamentos sobre quanto custam para o erário público os semáforos locais, mas não obteve essa resposta. Sobre as datas previstas para instalação, o Manaustrans informou que fará as devidas adequações às sinalizações,  de acordo com os prazos estabelecidos na resolução do Contran. 
Para especialistas em trânsito, os equipamentos não auxiliam apenas a cegos ou quem tem baixa visão, mas também são importantes para pedestres distraídos e idosos, ao passo que,somados sinalização visual e alerta sonoro, é possível melhorar a segurança de todos.

Manaustrans

A reportagem de A CRÍTICA acompanhou o deficientes visual Carlos Pereira da Silva, o Carlão, de 70 anos, atravessando em duas vias de alta velocidade onde há semaforos sonoros e em uma na qual não existe o equipamento. Em todos os três locais ele teve dificuldade para atravessar.

No primeiro semáforo, localizado na avenida Mário Ypiranga, em Adrianópolis, Zona Centro-Sul, em frente à Secretaria de Estado da Pessoa com Deficiência (Seped), o mais difícil foi ter paciência para o sinal abrir para os pedestres.

Na segunda, via, a Djalma Batista, em frente ao Plaza Shopping, não havia piso tátil, rampa e Carlos quase caiu ao atravessar por deparar-se com o meio-fio. Outro problema foi que o botão do semáforo, no sentido Centro-Bairro, fica em difícil visualização. 

O terceiro local foi um verdadeiro desafio por ser um local onde não há semáforo sonoro: a via tripla da avenida Constantino Nery, no trecho em frente à Arenda Amazônia e o ginásio poliesportivo: duas das três vias têm rampa, mas uma delas tem dois blocos de concreto dificultando a travessia. Além disso, a houve a habitual tensão de clamar, com a bengala, para que os veículos parassem para ele.

“Quando não há semáforo temos que esperar para os carros pararem. Alguns deles só pararam porque viram a reportagem. Quando eu quero atravessar a rua, se não há uma faixa de segurança de pedestre, tenho que pedir auxílio a alguém. A cidade de Manaus não é provida de sinalização para cegos. Ainda falta muito. Falta acessibilidade para nós, as calçadas são altas e baixas e não há um padrão”, disse Carlos, fundador e ex-presidente da União dos Deficientes Visuais de Manaus (Udevima).

Tendência é subir no ranking mundial

Não é apenas a categoria das pessoas com deficiência em todo território brasileiro que tem a comemorar com o anúncio da nova legislação dos semáforos sonoros pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). É que a tendência é que, com a novidade, o Brasil suba de posição no ranking do Social Progress Imperative (SPI), índice que avalia o progresso social em todos os continentes do Planeta.

Hoje, o país sul-americano ocupa a 43º colocação na lista, que tem como líderes a Dinamarca, a Finlândia e a Islândia, respectivamente.

Resolução reforça Lei da Inclusão

Para o especialista   em orientação e mobilidade da Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual (Laramara), João Felippe, a norma reforça os direitos previstos na Lei Brasileira de Inclusão.

“A falta de estrutura das cidades sempre foi o impeditivo para propiciar um contexto favorável no processo de inclusão e participação social. A nova regulamentação é com certeza um avanço importante para a sociedade”. 

Em São Paulo, onde a tecnologia está entre as mais difusas do País, existem apenas oito semáforos acessíveis para atender cerca de 2,7 milhões de pessoas com deficiência visual. Dos poucos recursos instalados, a maioria está na região do Aeroporto de Congonhas e próximo às instituições assistenciais, como a Laramara, porém nem todos funcionam plenamente.
Na rua Vergueiro, em frente ao Centro Cultural São Paulo – onde há um dos maiores acervos em Braille da capital -, o equipamento opera parcialmente. No cruzamento da rua Conselheiro Brotero com Brigadeiro Galvão, o sinal foi vandalizado e sem manutenção desde 2016”, diz a entidade.

Frase

Essa nova determinação do Contran vem tarde, mas dá autonomia para nós na acessibilidade” - Carlos Pereira da Silva, 70, que tem deficiência visual