Rodoviários do Rio são os que ficam mais tempo de licença

11/05/2016 07:48 - O Globo

Leia: Condutores de alta tensão: a rotina estressante dos motoristas de ônibus do Rio - O Globo

Pouco depois de meio- dia no Terminal Padre Henrique Otte, no Santo Cristo. Com 17 anos de profissão, o motorista de ônibus José Augusto Filho se ajeita na beirada da rampa de acesso a uma das plataformas. Com marmita na mão, meio sem posição para se sentar, ele se prepara para almoçar e, logo depois, encarar o trânsito, até de noite, ao volante da linha 318 ( Rodoviária- Alvorada). Em volta, outros motoristas fazem o mesmo: comem onde dá, quando dá, prestes a enfrentar a jornada de estresse no engarrafamento, muitas vezes por horas além do previsto, em veículos nem sempre em condições adequadas de se dirigir.

Tudo que contribui para uma situação que os usuários dos ônibus observam no cotidiano: a saúde de quem conduz os cerca de 6,4 milhões de passageiros por dia nos coletivos do Grande Rio não anda das melhores. Constatação que, agora, um levantamento do Ministério do Trabalho e Previdência Social corrobora: de todas as regiões metropolitanas do país, os funcionár ios das empresas de ônibus fluminenses são os que mais precisam ser afastados do trabalho e também os que, em média, ficam mais tempo longe de suas funções.

MOTORISTAS RECLAMAM DE JORNADAS EXCESSIVAS

Más condições de trabalho também contribuem para licenças

Com base nos dados do Registro Anual de Informações Sociais ( Rais) de 2012 e 2013, concluiuse que, dos cerca de 100,8 mil trabalhadores do setor na Região Metropolitana do Rio, 35.543 ( 35%) tiveram de se licenciar de suas funções nesse período ( contra 23,8 mil ou 22% dos trabalhadores da Grande São Paulo). Somado o tempo em que todos eles ficaram afastados, totalizariam 7.635.103 dias, ou uma média de 214,8 dias sem trabalhar por funcionário afastado ( frente a uma média de 202 dias em São Paulo e 97 em Belo Horizonte).

— Os motoristas do Rio andam estressados. No meu caso, às vezes até para dar uma informação a um passageiro é difícil. Trabalhamos, no mínimo, nove horas por dia. Já cheguei a fazer 13 horas. Isso tendo que dirigir e dar troco aos passageiros. Acho que esse é um dos motivos de tantos afastamentos — especula um motorista de uma das linhas que partem do Padre Henrique Otte, sem se identificar.

— A falta de manutenção dos ônibus com certeza é uma das principais causas. São bancos soltos ou tortos, que dão dores na coluna, embreagem dura que provoca problemas no joelho... Sem falar que alguns têm perda de audição trabalhando com o barulho da rua e do motor — cogita outro motorista.

Verificou- se ainda que, de 2012 a 2014, o Rio registrou 2.210 ocorrências de acidentes de trabalho, que resultaram na morte de 20 motoristas, além de 1.058 ( 47,8%) casos de afastamento do trabalhador por período superior a 15 dias. EMPRESAS AUTUADAS E, para entender esses números, auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio fizeram uma inspeção em 30 empresas de ônibus do Rio. Eles encontraram um panorama preocupante, que ajuda a agravar a exaustão a que profissionais como motoristas e cobradores estão submetidos: foram constatadas irregularidades que resultaram em 902 autos de infração, cujos valores alcançaram cerca de R$ 125,4 milhões. Nas ações, foram detectados casos de jornadas excessivas, falta do intervalo de cinco minutos entre uma viagem e outra, além de más condições de trabalho.