Rota 2030 e a revolução na indústria automotiva - Igor Calvet

05/09/2017 08:11 - Valor Econômico

A indústria automotiva mundial vai mudar nos próximos dez anos mais do que no último século. Estamos passando de uma indústria baseada em veículos controlados mecanicamente para veículos interligados, controlados eletronicamente e abastecidos por uma variedade de fontes de energia.

Já está em curso, no mundo, uma grande revolução nesta indústria, que é conduzida pela convergência de conectividade, eletrificação dos motores e mudança das necessidades dos consumidores. Uma oportunidade clara para o Brasil produzir veículos mais competitivos, eficientes, sustentáveis e tecnológicos.

É nesse contexto que está sendo construído o Programa Rota 2030 Mobilidade e Logística. A partir da análise de como estarão a indústria automotiva global e as novas tendências de mobilidade, o MDIC coordena discussões para definir a inserção da indústria brasileira neste novo cenário. O compromisso é induzir, nos próximos 15 anos, a indústria automotiva brasileira para que seja competitiva globalmente.

O Rota 2030 compreende três ciclos de desenvolvimento da indústria automotiva no país, estabelecendo uma visão de longo prazo, com regras claras e previsíveis, para dar segurança aos investimentos e incentivar a competitividade da indústria nacional.

O objetivo é qualificar a produção nacional aos patamares globais, principalmente no que se refere à eficiência energética, aos baixos índices de emissão de gases poluentes, à segurança veicular e à tecnologia. Consequentemente, melhorando as condições para a concorrência no mercado internacional, com integração às cadeias globais de valor.

As discussões podem ser resumidas em quatro grandes áreas de atuação: desenvolvimento tecnológico e inovação, segurança veicular, eficiência energética e simplificação tributária.

No que se refere ao desenvolvimento tecnológico e inovação, área fundamental para qualquer indústria que se projeta ao futuro, serão definidas metas para investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento, engenharia, desenvolvimento de fornecedores e aportes em projetos estruturantes. Além disso, estudamos a criação do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico e Produtivo da Cadeia Automotiva, cujo objetivo é reestruturar a cadeia fornecedora do país.

Segurança veicular e eficiência energética são dois pontos essenciais dessa discussão. Nossa intenção é tornar obrigatória a etiquetagem veicular, que trará informações claras para o consumidor sobre esses dois pontos e também referentes a emissões de gases e à origem do produto. Com relação aos veículos comercializados no Brasil, estamos repactuando com a indústria as metas para a redução de emissão de gases poluentes, a antecipação dos prazos para tornar obrigatório os testes de colisão lateral dos veículos e a definição de um roadmap, com definições claras dos investimentos da indústria para o aumento da performance dos veículos em colisões e melhoria das condições de dirigibilidade.

Para a melhoria da competitividade, precisamos discutir a simplificação tributária e os aumentos de produtividade do setor. Em um mercado globalmente competitivo, o país não pode exportar tributos, tampouco podemos onerar demasiadamente aquelas empresas que fornecem produtos com alta eficiência energética e baixa emissão de gases de efeito estufa.

Vale destacar, ainda, que o contexto econômico de formulação do Rota 2030 aponta tendência de queda nas importações e aumento das exportações, com câmbio favorável à indústria nacional, saldo da balança comercial automotiva positiva, encolhimento do mercado interno e retomada do crescimento da economia após dois anos de recessão. Nesse ano, aproximadamente 30% de nossa produção será destinada às exportações. O desafio é permitir que esse movimento seja estrutural, tornando o Brasil polo de desenvolvimento e produção.

Além disso, é preciso analisar o segmento de forma ampliada. A indústria automotiva permanece como uma grande força industrial e econômica em todo o mundo. Apesar da baixa utilização da capacidade instalada, a indústria automotiva segue sendo muito relevante para a economia nacional, responsável por mais de 20% do PIB da indústria de transformação, mais de 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos, além de movimentar uma longa cadeia de fornecedores.

No Brasil, o setor automotivo possui uma forte ligação econômica com muitos outros setores industriais, o que permite a adoção do conceito de indústria expandida, envolvendo fabricantes de automóveis, fornecedores, revendedores, empresas de serviços financeiros, empresas petrolíferas, postos de combustíveis, serviços e peças de reposição, seguradoras e outros.

É preciso deixar claro que o Rota 2030 não é simplesmente uma substituição do Inovar-Auto. São dois programas com escopos diferentes, lançados em conjunturas econômicas distintas e com objetivos diferentes. A nova política não está sendo construída em razão do painel da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas porque o ciclo atual termina este ano.

O Rota 2030 é uma evolução da política automotiva. Os programas e ações desenvolvidos pelo governo estão em constante aprimoramento. Com o Rota 2030, estamos estabelecendo uma trajetória para que as indústrias brasileiras sejam competitivas globalmente. Trata-se, então, de uma discussão de fôlego que estamos buscando traçar, em diálogo com a indústria e com os trabalhadores.

O atual ciclo da política automotiva, que finda em 31 de dezembro de 2017, teve foco no mercado interno. Já o Rota 2030 tem como objetivo construir uma indústria automotiva brasileira competitiva globalmente.

Por fim, é importante assinalar que pela primeira vez o governo elabora uma política automotiva centrada nos consumidores. O Rota 2030 está mirando temas como segurança veicular e eficiência energética, o que se traduz em redução de acidentes, aumento de tecnologia nos carros e economia de custos durante toda a vida útil do produto.

Para isso, centramos força na elevação do padrão do veículo nacional em termos de tecnologia, eficiência energética e segurança. Buscaremos o alinhamento com as políticas de emissões e biocombustíveis dos principais mercados automotivos globais. A indústria precisa ser vetor da retomada do crescimento de nossa economia.

Igor Calvet - Secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.