01/12/2013 09:35 - O Diário - Mogi das Cruzes
O ruído dos trens que operam no trecho entre as estações
Guaianazes e Estudantes da linha 11 Coral da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM) ultrapassa o volume recomendado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), chegando a 102 decibéis podendo causar perda auditiva dos
usuários. O estudo que comprova esses dados foi feito pela estudante mogiana
Sara Jéssica Soja Venceslau, de 14 anos (leia mais nesta página). Ela participa
da Mostra Paulista de Ciências Engenharia promovida pela Escola Politécnica da
USP.
O trabalho denominado "Excesso de Ruído – Uma Epidemia
Social” teve como base a experiência de seu tio Alexandre Soja, que ao chegar
do trabalho sempre reclamava do barulho exorbitante dos trens, que utilizava
diariamente como meio de transporte.
A estudante analisou o ruído produzido pelos trens
convencionais que operam no trecho entre Estudantes e Guaianazes, com o auxílio
de um decibelímetro digital. O pico de ruído foi de 102.9 decibéis no trecho
entre Poá e Ferraz de Vasconcelos. Segundo a OMS, a exposição máxima a esse
volume não deve ultrapassar um minuto diário.
Já o ruído médio manteve-se acima de 85 decibéis na maioria
dos trechos analisados, embora o limite diário total para essa intensidade
sonora não deva ultrapassar 35minutos de exposição, ainda segundo a OMS.
Sara Jéssica fez a medição em todas as linhas da CPTM e
constatou que a linha Coral é a mais barulhenta, ou seja, é 18% superior à
segunda colocada, que é a linha 7 Rubi, que circula entre as estações Luz e
Jundiaí. Ao todo, ela realizou as
medições em seis viagens na linha 11 e uma viagem nas demais linhas.
Perfil
Para obter o perfil do usuário dessa linha barulhenta, a
estudante elaborou um questionário e entrevistou 140 pessoas durante suas
viagens. Com essa pesquisa concluiu que a maioria das pessoas utiliza o trem
para o deslocamento até o local de trabalho. Ela também descobriu que 56% dos entrevistados permanecem mais de 20
minutos no trem em cada viagem, considerando ida e volta, são mais de 40
minutos diários sujeitos a ruídos que ultrapassam os limites estabelecidos pela
OMS para segurança auditiva.
Ao serem questionados sobre problemas auditivos ao longo da
vida, 40% dos entrevistados revelaram que ao menos uma vez tiveram dificuldade
auditiva. ”Apesar de não ser possível relacionar diretamente esses problemas ao
uso do trem, fica evidente a possibilidade de o excesso de ruído a que são
submetidos durante suas viagens, contribuir para a perda auditiva”, diz Sara
Venceslau.
A estudante também comenta sobre o grande período que os
maquinistas ficam expostos ao ruído. "Infelizmente, não foi possível ao longo
do trabalho avaliar o barulho a que são submetidos os funcionários da CPTM. No
entanto, é possível considerar que os maquinistas estão sujeitos aos mesmos
ruídos, dado que a cabine do trem não possui nenhum tipo de isolamento
acústico. Dessa maneira, ele estaria exposto a pelo menos oito horas diárias a
ruídos excessivos”, ressalta Sara.
Segundo a médica Tatien Kusano, esse excesso de ruído, além
de lesionar a audição também provoca estresse. "Muitas vezes recebemos
pacientes no consultório com um alto nível de estresse e com baixa qualidade
auditiva. Isso ocorre porque eles vão perdendo a audição com o tempo e não
percebem, mas se fizermos um diagnóstico mais aprofundado considerando o dia a
dia dessas pessoas, pode ter certeza que a maioria fica exposta diariamente há
algum tipo de barulho excessivo”, esclarece Kusano.
Em seu estudo, a aluna Sara Jéssica procurou também soluções
para amenizar esses efeitos. Ela conclui que a única solução exige
investimentos para a melhoria dos trens. No entanto, em sua pesquisa, Sara
descobriu que não há ainda uma preocupação a esse respeito por parte da CPTM
quando adquire novos trens. Inclusive,
ela apresenta em seu estudo um trecho de uma licitação pública para a compra de
trens novos da Companhia. O documento especifica os tipos de aviso sonoros que
devem fazer parte do trem e a necessidade de possuir sistema de áudio e música
ambiente, mas não menciona os limites desses ruídos.
CPTM
A reportagem entrou em contato com a CPTM que informou que uma equipe especializada está analisando o projeto da estudante. A Companhia explicou que os trens adquiridos recentemente e os que já foram encomendados apresentam modernos padrões tecnológicos e de conforto. Esclarece, ainda, que os antigos trens atendiam, na época de fabricação, normas e especificações diferentes das atualmente padronizadas. A CPTM garante que os chamados trens antigos serão gradativamente substituídos.