Sinalização, condutores e pedestres falham em via líder em acidentes fatais

08/12/2016 07:20 - Folha de SP

Com um guarda-chuva na mão direita e o filho Ederson, de 4 meses, na esquerda, Raquel Aranha Sousa, 24, esperava sua vez para tentar, na tarde desta quarta-feira (7), atravessar um cruzamento da avenida Interlagos, na zona sul da cidade de São Paulo.

Só nesse ponto da via houve três mortes em acidentes viários de agosto e outubro deste ano. A faixa de travessia parcialmente apagada e esburacada e a ausência de semáforo para pedestres contribuem para agravar os riscos.

"Aqui é perigoso. Meu primo foi atropelado por um motoqueiro. Sorte que não foi nada grave", diz Raquel. "Minha mãe mora aqui há mais de dez anos, nunca fizeram nada para melhorar", completa.

Diante desse cenário, a avenida Interlagos despontou como líder em mortes no trânsito nesses três meses, como antecipou a Folha com base em dados do InfoMapa, plataforma interativa lançada pelo Estado nesta quarta para mapear essas ocorrências.

Com sete vítimas, foi seguida pela marginal Tietê (6), Celso Garcia (5, zona leste) e outras três avenidas da zona sul: estrada de Itapecerica, Sen. Teotônio Vilela e estrada do M´Boi Mirim (5 cada).

Para evitar acidentes perto dali, a prefeitura instalou uma barreira com 17 cavaletes laranjas na av. Antônio Barbosa da Silva Sandoval, que cruza com a Interlagos.

Segundo os moradores, a ideia seria evitar que motoristas que saem de um drive-thru atravessem a pista.

Mas, em meio ao movimento intenso da Interlagos, com sete prédios de um lado e um centro de compras do outro, as situações de risco se repetem -desta vez, com um senhor de bengala e uma criança que faziam a travessia na tarde desta quarta em meio ao semáforo aberto para carros.

NINGUÉM LIGA

Em outro cruzamento da mesma avenida, onde outras três pessoas morreram de agosto a outubro de 2016, a presença de um carro da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), próximo à rua Miguel Yunes, se mostrava insuficiente para coibir motoqueiros que passavam pelo vermelho, um ciclista pedalando na contramão e pedestres embaixo de chuva avançando sobre os carros.

A 20 minutos dali, no cruzamento entre a estrada de Itapecerica e a rua Josefina Morreti e a três quadras de distância de um CEU (Centro de Educação Infantil), outro ponto cego para pedestres, em outra área da zona sul onde houve mortes no trânsito.

Além da falta de semáforo específico para quem está à pé, os semáforos independentes, um para ônibus e outro para demais veículos, com tempos distintos, exigem ainda mais atenção na travessia.

A ajudante geral Rosilaine Costa, 30, passou no vermelho pelo primeiro, com ar apressado. Em pouco mais de dois minutos, mirou no verde dos carros 18 vezes, entre ajeitadas no cabelo (longo, liso e loiro) e braços cruzados. Chegou ofegante do outro lado.

CORRENDO

"No começo deste ano, quase fui atropelada por um ônibus. O motorista parou a menos de um palmo de mim. O farol dos carros estava fechado, mas o dos ônibus não. Eu me confundi e atravessei. O motorista me xingou, foi horrível", conta Rosilaine.

"Nunca mais tive sossego. Desde então tenho medo de cruzamentos, passo correndo o mais rápido possível."

O medo que ficou do incidente é pior do que correr no farol vermelho de pedestre, diz. "Eu não aguento a aflição", afirma ela, que faz isso pelo menos duas vezes por dia, já que trabalha e mora nas redondezas.

No trecho, bastante movimentado, foram registradas duas mortes no trânsito num período de três meses, de acordo com os dados tabulados pelo InfoMapa.